Padre e Médico alertam sobre poluição do Rio Tapajós
A coloração barrenta das águas do rio Tapajós, desde sua cabeceira, nas áreas de garimpo de Itaituba, até a Comunidade de Boim, no município de Santarém, preocupa ambientalistas. Caso nenhuma providência seja tomada por parte da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), para fiscalizar os serviços de dragas na extração de minério, os ambientalistas alertam que todas as comunidades ribeirinhas localizadas às margens do rio Tapajós serão afetadas pela contaminação de lama e mercúrio, inclusive o principal cartão postal do Pará, a Praia de Alter do Chão.
Um estudo feito pela Frente em Defesa da Amazônia (FDA) aponta que 50 grandes dragas estão em atuação no rio Tapajós e seus afluentes, na região oeste do Pará. Algumas delas usam tecnologia de ponta. Também são produzidos 700 quilos de ouro todos os meses na região do Tapajós. A ação das dragas, segundo a FDA, está contribuindo para a mudança de coloração da água e a contaminação por mercúrio.
A FDA informou ainda que existem cerca de 3 mil pontos de garimpagem na região do Tapajós, principalmente nos municípios de Itaituba, Jacareacanga e Trairão, onde aproximadamente 50 mil garimpeiros estão em completa atividade.
“O pior é que o governo do Pará ajuda a piorar as coisas. Quando o ex de meio ambiente, José Colares, autorizou dezenas de dragas a explorar ouro no leito do Tapajós, garantiu que elas não causariam alterações relevantes. Claro que as pessoas que defendem o nosso rio não acreditaram. Mas, contra a força do governo é duro lutar. Por isso, chegamos a esse ponto. Todavia, não podemos desistir”, declarou o padre Sidney Canto, em postagem em uma rede social.
Ele revelou que tonalidade barrenta do rio Tapajós já chegou em frente à Comunidade de Boim, no município de Santarém. “Daqui a pouco Alter do chão vai ter um rio cor de lama. Aí vão levantar as vozes aqui em Santarém. Por hora, só uns três gatos pingados falam. Já falei aqui sobre isso e teve gente que disse. Tá bom padre”, alerta padre Sidney.
No dia 21/10/15, em operação realizada próximo de São Luiz do Tapajós, fiscais do Ibama, com auxílio de um helicóptero atearam fogo em uma balsa (draga). Na época, o Ibama informou que a draga estava ancorada no leito do rio Tapajós e, que por isso foi alvo da operação.
De acordo com o Ibama, essas ações são corriqueiras na região garimpeira, como em balsas nos rios do alto Tapajós, montanha “sequeiro”, baixão que se usa tratores, retro escavadeiras, e máquinas de sucção do ouro, as quais tem sido queimadas e destruídas.
CONTAMINAÇÃO: No fim de 2015, em entrevista exclusiva à nossa reportagem, o médico Erik Jennings afirmou que está preocupado com o futuro da fauna e da flora no rio Tapajós e dos riscos provocados aos ribeirinhos com os projetos de construção de barragens de hidrelétricas na região oeste do Pará. O médico Erik alerta que a contaminação por mercúrio, provocada pela atividade garimpeira poderá se agravar, após a conclusão dos empreendimentos.
“O Governo, através do Estudo de Impacto Ambiental não deu essas repostas. O EIA não contempla uma série de questionamentos sobre esses impactos, como, por exemplo, o que vai acontecer abaixo da barragem de São Luiz do Tapajós”, apontou Dr. Erik.
Segundo o médico, o mercúrio é uma das seis substâncias mais tóxicas encontradas naturalmente no meio ambiente e, também sendo um dos dezesseis mais raros elementos da natureza. “A sua forma metilada (Metil-mercúrio) é altamente tóxica para as células do cérebro humano e outros animais. Ele se torna tóxico, principalmente pela ingestão de peixes contaminados e causa déficit de inteligência, falta de concentração e tremores incontroláveis”, analisa Dr. Erik Jennings.
De acordo com o médico, quando se represa um rio, altamente contaminado por mercúrio, como já é o caso do Tapajós devido as atividades de garimpos, cria-se uma condição ideal para a metilação do mercúrio. “A pouca correnteza no reservatório e diferentes temperaturas que será criada na foz dos tributários facilitará a metilação”, avisa Dr. Erik.
Ele explica que o metil-mercúrio se concentra no fundo das represas e são jogados pelas turbinas que drenam exatamente o fundo dos reservatórios e, que vários estudos têm demonstrado um aumento dos níveis do mercúrio até 200 quilômetros depois da barragem, como é o caso da usina de Balbina, no estado do Amazonas.
“Outros, demonstram níveis elevados em habitantes de áreas de hidrelétrica, sofrendo principalmente as crianças e mulheres em idade fértil. As crianças geradas por mães contaminadas terão consequências devastadoras em seus cérebros. O EIA/RIMA do Tapajós não estudou nenhuma comunidade a jusante de onde será a barragem. Ou seja, o principal estudo que teria a obrigação de nos fazer entender o que acontecerá com nossa saúde não ajuda em quase nada”, disparou Dr. Erik Jennings.
O médico neurocirurgião reforçou que a atividade garimpeira desenfreada com uso de mercúrio já é um grave problema no rio Tapajós. “Somada ao represamento do rio poderá ser um verdadeiro barril de pólvora, onde o alvo do tiro será o cérebro de nosso povo”, alerta Dr. Erik jennings.
FISCALIZAÇÃO: Uma fiscalização ambiental em área de extração de ouro no rio Tapajós foi deflagrada pela Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) no município de Itaituba, no oeste do Pará, de 24 de agosto até 2 de setembro de 2015. O resultado da operação realizada em quatro Vilas e na sede do município apresentou apreensão equipamentos, autos de infração e Termo Circunstancial de Ocorrência (TCO). A ação conjunta envolveu também o Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), a Delegacia Especializada em Meio Ambiente (Dema) e a Secretaria de Meio Ambiente de Itaituba.
A equipe de fiscalização da Semas, composta por dois engenheiros ambientais, Carlos Nobre e Augusto de Sousa, e o sociólogo Tarciso Costa, foram às Vilas do Farias, do Bom Jardim, do Raiol e a de São Luís do Tapajós, onde foram confirmadas a presença de balsas tipo ‘Chupão’ – adaptadas com mangueira de sucção – e também foram detectadas, atendendo denúncias locais, dragas ancoradas – sem responsáveis por perto – em área de Unidade de Conservação urbana. Ainda foi realizada, dando continuidade a processos pendentes na Gerência de Recuperação de Áreas Degradadas (Gerad), da Semas, a fiscalização do lixão do município e do Hospital Regional de Itaituba.
Segundo o coordenador da operação, Carlos Nobre, em todas as Vilas foram encontradas ‘Chupão’ mas os responsáveis pelos equipamentos fugiram abandonando as balsas flutuando no rio. Na Vila do Farias foram encontradas três balsas e além de bateias, motor de partida e baterias também foram apreendidas duas armas com munições.
Na Vila de São Luís do Tapajós foram encontradas sete balsas abandonadas e vazias, sem equipamentos. Na Vila Raiol, quatro balsas ‘Chupão’ foram abandonadas pelos responsáveis e houve apreensão de motores de partida, alternadores, baterias e outros apetrechos. Na comunidade de Periquito, na Vila Bom Jardim, foi aplicado Auto de Infração administrativo a Clair Gomes de Oliveira, por extração ilegal de ouro e aberto um Termo Circunstancial de Ocorrência criminal pela Dema. A apreensão dos equipamentos foi consumada.
As dragas Carnaubinha, Jesus IV, Amárica, Fênix, Celestini, JDI e BLD, ancoradas na Unidade de Conservação de Itaituba foram autuadas por garimpo ilegal de ouro e por estarem em área protegida.
Motores, baterias, alternadores, ‘Chupões’, balsas, dragas, coletor de descarga e de ignição, bateias, além de roupas de mergulho, coletes salva-vidas, boias e máscaras de mergulho, que também foram apreendidos durante a operação, ficaram sob a responsabilidade da Secretaria municipal de Meio Ambiente de Itaituba, na condição de fiel depositário.
Por: Manoel Cardoso