Extração ilegal de madeira traz extinção de praias no rio Arapiuns

Por conta dos crimes ambientais, os moradores pedem providências junto aos órgãos fiscalizadores

Quem visita o local constata grande quantidade de resíduos de madeira ao longo das praias

Localizadas distantes da zona urbana do município de Santarém, no oeste do Pará, as comunidades do rio Arapiuns, afluente do Tapajós, sofrem com a ação de madeireiros. Para os moradores das áreas conhecidas como Gleba Nova Olinda e Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns (Resex), a ausência de fiscalizações de órgãos ambientais, como Ibama, ICMBio e Semas facilita as operações de extração de madeira ilegal.

Segundo os moradores, vários crimes ambientais são constatados na região, por conta da construção de pátios para estocagem de toras, em praias às margens do rio Arapiuns e por operações de embarque de madeira em balsas.

As atividades madeireiras, de acordo com os moradores, provocaram a extinção de várias praias do Arapiuns. Entre elas, a praia da Comunidade de São José II. Quem visita o local constata grande quantidade de resíduos de madeira ao longo da praia, assim como a retirada da mata ciliar para a construção de pátio. Por conta dos crimes ambientais, os moradores pedem providências junto aos órgãos fiscalizadores.

“A gente não consegue mais tomar banho na praia, porque ou ela está poluída com restos de madeira como cascas, serragem e estacas ou tem máquinas carregando as toras para colocar em balsas. Até mesmo para pescar ficou difícil. A gente ver a comunidade onde nascemos sendo destruída por pessoas que vêm de fora e, praticamente não podemos fazer nada, isso é muito triste!”, declara a moradora Vanessa Silva.

Denominado por pesquisadores e turistas, como um paraíso selvagem perdido na Amazônia, o rio Arapiuns conta com praias de areia branca e finas e águas cristalinas. Porém, nos últimos anos, registrou conflitos entre moradores de comunidades tradicionais e madeireiros. Os moradores culpam os empresários pelos conflitos.

“Esses empresários que comercializam madeira, não respeitam as tradições do nosso local. Eles chegam aqui como se não existissem seres humanos. Derrubam as árvores e destroem as praias. Por causa disso já presenciamos alguns conflitos aqui na área, como um movimento que resultou no incêndio de algumas balsas carregadas com toras de madeira”, lembra Vanessa.

CONFLITO: Em novembro de 2009, um protesto realizado por moradores das comunidades da Gleba Nova Olinda, Reserva Extrativista Tapajós/Arapiuns e Gleba Novo Grande, no rio Arapiuns, em Santarém, resultou no incêndio de duas balsas.

Na época, os manifestantes solicitaram a desativação imediata dos planos de manejo na área, além da regularização de terras que eles denominam indígenas. Sem acordo, eles atearam fogo em duas balsas carregadas com mais de 3 mil metros cúbicos de madeira. Segundo os manifestantes, o carregamento foi extraído de forma ilegal da Gleba Nova Olinda.

Entretanto, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, na época,  afirmou que a madeira foi retirada de dois planos de manejo legais. Os moradores contam que o clima na localidade de São Pedro (local onde ocorreu o protesto), era tenso e um possível embate entre madeireiros e ribeirinhos era iminente, mas acabou não ocorrendo. Durante o conflito não houve feridos, apenas danos materiais.

LEGITIMIDADE: O protesto das comunidades foi dado como legítimo até mesmo por algumas autoridades, como o Procurador do Ministério Público Federal em Santarém, Dr. Cláudio Dias. Em entrevista à imprensa local, o Procurador declarou que “houve realmente uma omissão dos órgãos responsáveis pela fiscalização, a SEMAS é omissa, tanto que ela nem tem fiscais em Santarém, os fiscais são de Belém. Por isso que nós confiamos na palavra dos manifestantes quando eles disseram que está havendo extração ilegal de madeira, que é um problema grave e frequente em nossa região. O que eles pediram foi a aplicação da lei, maior fiscalização no local”.

DENÚNCIA NO MPF: Diversas entidades da sociedade civil organizada, entre estas, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STTR) e o Conselho Indigenista Tapajós e Arapiuns (CITA) entregaram no dia 18 de junho de 2018, ao Ministério Público Federal (MPF), em Santarém, uma carta aberta para denunciar a ocorrência de irregularidades na exploração madeireira no interior da Reserva Extrativista Tapajós – Arapiuns.

Segundo os ribeirinhos, essa exploração rende altas somas em dinheiro para intermediários e madeireiros, mas segundo essas lideranças, os moradores da Resex não têm condições, conhecimento, nem estariam sendo beneficiados, mesmo que os contratos sejam aprovados oficialmente no Conselho Deliberativo da Resex.

Além da carta aberta, em abril deste ano, um documento contendo as denúncias  da atividade madeireira no rio Arapiuns, foi encaminhado a órgãos federais, em Brasília, pelo STTR  e Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS).

Por: Jefferson Miranda

Fonte: RG 15/O Impacto

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