Artigo – Coronavírus IV: Perdemos
Por Everaldo Martins Neto
Desde sempre, no Brasil, banalizamos a morte. Em todos os regimes e formas de governo. Aparentemente, não foi diferente agora.
Quando tínhamos duzentas mortes, eu pensava: “perdemos sessenta mil em assassinatos, mais tantos mil de doenças do coração, de câncer e outras, as pessoas não vão ligar”. Quando reconheci a seriedade da coisa, parte de mim achou que todos nós nos juntaríamos e venceríamos o vírus.
Até começamos bem, mas depois fizemos tudo errado. Fomos desorganizados, não tivemos voz única dos governantes e nossa infraestrutura já era falha.
Creio que já há bem mais de 100.000 mortes por covid no Brasil por conta da subnotificação. E lotamos as praias e os centros. A verdade é que, pra muitos de nós e eu incluído, já não é mais uma questão de se vamos pegar o vírus, mas quando. Perder alguém para a doença é uma fatalidade. O que dói são as mortes que poderíamos evitar se fôssemos disciplinados.
Das lições que devíamos aprender, acho que a primeira delas é a compaixão para com o próximo. É preciso criarmos uma sociedade mais humana. Depois, devemos lembrar que os políticos e líderes não são todos farinha do mesmo saco. São diferentes concepções de sociedade e precisamos avaliá-los baseado em fatos e pensamento crítico.
E assim, perdemos. A vacina pode chegar em Dezembro, mais o tempo de distribuição, talvez nos livremos ano que vem. Com mais de 100.000 brasileiros mortos. Todo dia três aviões que caem, cinco boates Kiss, e várias Marianas, Brumadinhos e entre outros. E seguimos banalizando a morte.
Gostaria de agradecer ao Seu Edmundo e ao Jornal Impacto pelo espaço esses meses. É uma pena que tenham sido tão tristes. O que era pra ser um espaço sobre a Amazônia e Santarém, virou um espaço sobre como perdemos a guerra mais importante de nossas vidas até então. Que venham tempos melhores. Fico por aqui para focar no mestrado.
RG 15 / O Impacto