Artigo – A simpatia popular
Por Oswaldo Bezerra
Quem ouvir hoje a música do cantor natural de Primaver-PA, Roberto Villar, intitulada “O profissional papudinho” lembrará logo de uma figura mítica que governou o Pará de 1987 a 1991. Ele foi o governador mais amado do Pará, não por suas realizações, mas por trazer leveza ao mundo através de seu humor. Ele foi Hélio Mota Gueiros, nascido em Fortaleza-CE, no ano de 1925.
Mesmo no leito de morte não perdeu o bom humor. Respondendo a um filho de como se sentia no leito do hospital ele respondeu “sei que Deus está querendo me levar, então estou embromando para ficar aqui mais um pouquinho”. Até nos momentos que era acusado de corrupção respondia com tanto bom humor que fazia até o povo perdoá-lo.
Advogado formado em 1949 pela Universidade Federal do Ceará retornou ao Pará e atuou como jornalista em O Liberal e estreou na política na legenda do PSD sob a influência de Magalhães Barata. Com um padrinho como este claro que iria longe.
Hélio foi Promotor de justiça em Santarém. Foi lá que desenvolveu um apreço pelo Oeste do Pará, em especial Santarém, cidade onde conheceu a sua “mocoronga” Terezinha, esposa com quem viveu durante 53 anos. Foi uma experiência que certamente contribuiu muito, alguns anos depois, quando governou o Estado.
Ele também foi chefe do setor de comunicação da Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia. Foi jornalista nos jornais Folha do Norte e O Estado do Pará além da TV Marajoara. Tal dedicação ao jornalismo rendeu-lhe uma cadeira na Academia Parense de Letras e lugar como membro do Instituto Histórico e Geográfico do Pará.
Em 1958 figurou como suplente de deputado estadual e foi eleito em 1962, exercendo a liderança do governo Aurélio do Carmo na Assembleia Legislativa do Pará. Foi preso no início do Regime Militar de 1964 por defender o governo do presidente João Goulart.
Foi derrotado ao candidatar-se a vice-governador na chapa de Zacarias Assunção em 1965. No ano místico de 1966 foi eleito deputado federal pelo MDB, embora tenha sido cassado pelo Ato Institucional Número Cinco em 29 de abril de 1969 e perdido os direitos políticos por dez anos.
Seus direitos políticos foram restaurados, e assim ingressou no PMDB, aproximou-se de Jader Barbalho e foi articulista do jornal o Diário do Pará. Graças ao mecanismo das sublegendas foi eleito senador pelo Pará em 1982. Corajoso, no dia 23 de novembro de 1983, desafiou o então Presidente da República, João Figueiredo, ao enviar ao Congresso Nacional uma emenda que permitisse a eleição direta. Usou a tribuna de forma irônica, como de costume, ao comentar uma declaração de Figueiredo sobre as eleições. Votou em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral em 1985.
Foi finalmente eleito governador do Pará em 1986. Rompeu com Jader Barbalho e foi expulso do PMDB, após a eleição presidencial de 1989. Após ingressar no PFL foi eleito prefeito de Belém. De volta ao PMDB foi eleito suplente de deputado federal em 2002. Tentou uma sobrevida na política em 2004, mas sua popularidade e seu tempo já tinham passado. E saiu da política. Sumiu da política aquela lucidez crítica recheada de humor característica de Hélio Gueiros.
Faleceu em 15 de abril de 2011, em sua residência, no bairro do Marco, em Belém. Foi embora, mas Hélio Gueiros deixou saudades, principalmente aos belenenses. Ele re-urbanizou a Avenida Doca de Souza Franco, criou a Escola Bosque, o Museu de Arte de Belém e a antiga Fundação de Parques e Áreas Verdes de Belém (Funverde) – atual Secretaria Municipal de Meio Ambiente, reformou a rede de educação e saúde, restaurou o Palácio Antonio Lemos e o Bosque Rodrigues Alves, criou o programa 192-Urgente para transporte e assistência pré-hospitalar e pavimentou vias, menos o bairro da Pedreira, até hoje reclamam disso. Recuperou o Mercado de São Braz e urbanizou diversas ruas e avenidas, entre elas a Pedro Álvares Cabral.
Outra marca de sua gestão no Governo do Estado foi a modernização da educação com a construção e reforma centenas de escolas. Implantou unidades regionais de ensino, interiorizando os investimentos em educação, e criou um programa educacional para os alunos de escolas públicas: Cied (Centro de Informática e Educação). Hélio Gueiros garantiu o apoio financeiro para a conclusão da estrada de Alter do Chão, em Santarém, internacionalmente reconhecida hoje por sua beleza e vocação ao turismo.
Ele recuperou o Curro Velho, um centro de referência nas artes e manifestações culturais do Estado. Também instalou 160 novas unidades de saúde no Pará, inclusive em conjuntos habitacionais, como o Júlia Seffer, inclusive foi depois que me mudei daquela lonjura, e o Maguary, em Belém. E levou, com seu governo, energia elétrica para 200 localidades espalhadas no interior do Estado.
A trajetória pública do mais paraense dos “arigós” é marcada pela defesa do Pará. Lutava para manter uma boa gestão e a administração em ordem para o Pará alcançar o desenvolvimento sustentável, sempre salpicada com o sal do bom humor.
RG 15 / O Impacto