Artigo – A ousadia feminina e a visão estreita

Por Oswaldo Bezerra

Antes que esta obra governamental paraense seja rotulada de “Clube do Bolinha”, vamos trazer o exemplo da mais importante política da história do  estado do Pará. Ela é Ana Júlia de Vasconcelos Carepa. Nascida em Belém no ano de 1957, formou-se em Arquitetura. Foi uma bancária que se enveredou para a política graças à militância que protagonizou dentro de sindicatos.

Sofreu muito preconceito por ser mulher, mas foi uma política vitoriosa. Na política ela foi a vereadora mais votada da história. Foi vice-prefeita de Belém, deputada federal e senadora pelo Pará. Seu ápice foi quando se tornou a primeira e até agora única governadora do Pará pelo Partido dos Trabalhadores.

Em 1981, Ana Júlia começou a trabalhar no Banco do Brasil e tornou-se diretora do Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento Pará (IAB-PA). Nos anos de 1989 e 1992, participou de congressos dos funcionários do Banco do Brasil. Começava aí sua militância de esquerda. Isso a fez ser eleita representante do Pará no Conselho Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil.

Como uma boa esquerdista, se filiou ao Partido dos Trabalhadores (PT) em 1982. Ana Júlia Carepa concorreu ao seu primeiro cargo eletivo nas eleições municipais de Belém em 1992, ao candidatar-se ao cargo de vereadora. Depois de eleita se mostrou talentosa e assumiu a liderança do PT na Câmara. Ela presidiu a Comissão de Administração Pública até 1995.

Decidida a crescer na política, concorreu nas eleições estaduais em 1994 ao cargo de deputada federal pelo PT. Foi mais uma avalanche de votos e foi eleita. Assim ela renunciou ao mandato na Câmara Municipal de Belém e tomou posse na Câmara dos Deputados do Brasil. Ana passou a integrar como titular a comissão especial sobre a irrigação da Ilha de Marajó, e as comissões permanentes de Ciência e Tecnologia, de Comunicação e Informática e de Fiscalização Financeira e Controle.

Nas eleições municipais de 1996, concorreu ao cargo de vice-prefeita de Belém em uma coligação que conseguiu o feito de reunir toda a esquerda paraense. Foi no segundo turno que a chapa dela venceu a eleição. Ana Júlia tomava ares de política imbatível. Isso foi em uma época em que a maré vermelha do PT ainda nem tinha se tornado unanimidade nacional.

Exatamente no ano em que deixei Belém e fui morar no interior do Rio de Janeiro, em 1988, Ana Júlia conheceu sua primeira derrota. Ela foi derrotada por Otávio Campos do Partido Progressista Brasileiro (PPB), que de progressista nunca tiveram nada.

Ela deu a volta por cima no ano 2000. Nas eleições de municipais de Belém em 2000, concorreu novamente ao cargo de vereadora pelo PT. Ela obteve a impressionante soma de 26.729 votos. Foi eleita com a maior votação já registrada até então por um vereador no Estado do Pará. É isso, para ser um vitorioso na política não há dificuldade que segure uma pessoa determinada.

Nas eleições estaduais no Pará em 2002, candidatou-se novamente ao cargo de senadora na legenda do PT e, angariando 1.097.061 votos conseguiu ser eleita. Ela surfou como ninguém a onda petista que tomou conta do Brasil.

Como senadora ela integrou como titular a Subcomissão Temporária da Criança, do Adolescente e da Juventude (2003), e a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI) do Banestado (2003), formada para averiguar as denúncias de remessa ilegal de dinheiro para o exterior através de contas abertas no Banco do Estado do Paraná (Banestado) em nome de laranjas e de empresas “offshore” e operadas por doleiros para encobrir a formação de caixa dois de empresários e recursos oriundos de corrupção política.

Ela também integrou a CPMI da Exploração Sexual (2003), formada para investigar casos de exploração sexual de crianças e adolescentes em todo o país. Em fevereiro de 2005, passou a integrar a comissão que investigou o assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang, relacionado a conflitos de terra no Pará e que teve repercussão nacional e internacional. No mês seguinte, tornou-se membro titular da CPMI da Terra, instalada para realizar um amplo diagnóstico da questão fundiária no país e, em 2006, assumiu como titular a CPI dos Bingos.

O ápice da política belenense foi nas eleições de 2006. Ela concorreu ao cargo de governadora do Estado na legenda do PT. Foi uma barbada, afinal de contas ela era apoiada pelo presidente de maior aprovação da história do país, Luis Inácio Lula da Silva.

Não foi tão fácil assim. No primeiro turno ela ficou em segundo lugar. Só veio a vencer no segundo turno a Almir Gabriel. Este que reclamou muito da falta de apoio de Simão Jatene.

Seu mandato entrou para história como um governo fraco. Atraiu o ódio dos paraenses por não ter conseguido trazer a Copa do Mundo para Belém. Por isso, foi uma das poucas pessoas que, na história moderna do Pará, não conseguiu se reeleger governador.

Ela resolveu sair do Partido dos Trabalhadores após o partido passar a atrair uma grande rejeição devido a Operação Lava Jato. Já nas eleições estaduais no Pará em 2018, concorreu novamente ao cargo de deputada federal pelo PCdoB.

Ela já não era mais popular e não conseguiu reunir votos necessários para se eleger. Terminava aí a caminhada política da primeira e única mulher a chegar ao governo do estado do Pará.

O governo Ana Júlia se centrou em mudanças estruturais sociais. Estes feitos são invisíveis para a população, mesmo que o ajude. Os resultados destes feitos também não são de efeito em curto prazo. Isso é algo que não ajuda um político em uma re-eleição.

Obras rodoviárias em Belém, facilitando a mobilidade urbana, são alguns dos poucos elogios que ouvimos dos paraenses. Ela também aumentou o efetivo da polícia, armou a tropa, reformou delegacias e criou auxílio alimentação para funcionários públicos.

Ao contrário de Jatene, sua visão de política era específica e visava à melhoria da condição de trabalhadores na estrutura já existente. Por exemplo, ela resolveu reformar hospitais, e criação de algumas unidades de saúde, já Simão Jatene procurou multiplicar o número de hospitais.

Uma visão estreita em matéria política é algo que o governador não se pode dar ao luxo. Pensar desta maneira é reduzir demais a complexidade de que caracteriza o mundo de hoje. Simplificar a visão de gestão para a Amazônia é suicida.

O proceder da simplificação faz com que todos os caminhos sejam iguais e nivelados. No fundo, isso leva a profunda ignorância dos processos políticos.

Essa é a primeira lição que um postulante a político de ideologia de esquerda precisa aprender. Lula, o radical esquerdista dos sindicatos, aprendeu esta lição de forma brilhante. Tanto é que Lula foi homenageado em um fórum internacional de economistas (Davos) como o maior estadista da história.

Para conseguir algo você precisa primeiro querer. Querer é uma grande coisa, mas não é ainda o fazer. Para se chegar a outra fase é necessário conhecimento, o domínio da experiência acumulada, a percepção do vasto campo de combate em movimento constante.

Ana Júlia se diz arrependida de fazer um governo com pouca malícia. Ela afirmou que sobre a polêmica da Copa do Mundo, que o Pará não perdeu os recursos. Ela disse que inclusive estes recursos salvaram Belém do estrangulamento no trânsito. Ela também disse que jamais faria as coisas por baixo do pano como muitas sedes fizeram para obter o evento.

Ana Júlia contou que pecou na área da comunicação. Caso Ana Júlia tivesse lido este livro teria aprendido com o exemplo do governador Paes de Carvalho. O marketing para o estado e para si é fundamental.

RG 15 / O Impacto

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