Artigo – Um domingo azul e branco
Por Oswaldo Bezerra
Uma das primeiras coisas de que me lembro é do meu pai me levando nos ombros para assistir Paysandu x Remo. Eu tinha 4 anos de idade e na minha memória o Paysandu teria vencido o Remo por 4×1. A memória nos prega peça.
Há alguns dias perguntei ao meu pai sobre esta que é uma das minhas primeiras memórias. Ele me disse que o Paysandu não ganhou, mas perdeu por 3×1. Ele ainda falou que a torcida do Remo ficou gritando “uh, uh, uh, o Papão tomou no c…”.
Meu pai contou também que quando voltei para casa eu ficava repetindo esta “cantiga” da torcida do Remo. Minha mãe ficou chateada ao me ouvir cantando aquilo e brigou com meu pai. Pediu para não m levar mais ao estádio, claro ele ainda me levou algumas vezes. Meu pai parou de ir aos estádios quando a violência tomou conta dos eventos através das torcidas organizadas.
O que me deixou encafifado foi uma lembrança ser tão diferente da realidade. Talvez você acredite que todas as suas memórias sejam verdadeiras. Afinal, como se esquecer do gosto do primeiro beijo ou da sensação de andar de bicicleta pela primeira vez? Os psicólogos sabem que a recordação não significa que eles aconteceram de verdade.
Até o modo de como somos arguidos pode nos induzir a falsas memórias em nossa mente. Em 1974, a pesquisadora Elizabeth Loftus induziu, em algumas perguntas, aspectos falsos em um cenário. Pouco tempo depois, os voluntários eram convidados a descrever a situação novamente. A maioria mencionava os detalhes inventados, não percebiam a falha.
A falsa memória não é uma mentira. A pessoa realmente acredita que aquilo aconteceu. Contudo, as alterações geralmente possuem uma relação com o que ocorreu de verdade. Por exemplo, você pode lembrar um gato entrar na sala quando, na verdade, teria sido um cachorro.
Seu cérebro acessa memórias o tempo todo. É assim que você aprende alguma coisa e depois não precisa voltar a estudá-la todos os dias, por exemplo, acordar sem precisar recordar tudo de novo para saber os nomes dos seus pais. A vida seria impossível.
Esquecer, e mais especificamente escolher o que será esquecido, também é importante para garantir que aquilo que precisa ficar cravado na memória de fato permaneça lá. Estas falhas na memória são terríveis em processos da Justiça.
Talvez, os torcedores do Remo escolham esquecer este domingo. Tiveram que ver o maior rival ganhar mais um campeonato paraense vencendo justamente o seu algoz na semifinal. Com uma desvantagem incrível, cedida no primeiro jogo da disputa no estádio da Tuna, dessa vez o Paysandu venceu por 4×1. Se não em engano, foi o título número 42, ganho pelo Paysandu, só em campeonatos paraenses. O domingo foi realmente azul e branco.
RG 15 / O Impacto
Papao, o mais querido do Norte do Brasil,eterno Campeao Paraense.