Excesso de Ivermectina pode ser causa de surto de coceira em Pernambuco
De acordo com estudo realizado pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o uso indiscriminado da ivermectina pode ser o responsável pelo surto de coceiras intensas na população de pelo menos 12 cidades do estado de Pernambuco. Os moradores apresentaram lesões na pele devido a super-resistência de um ácaro causador da sarna humana, também conhecida como escabiose, afirma a pesquisa.
A medicação, que fez parte do kit-covid , comprovadamente ineficaz para o tratamento de pessoas com Covid-19, que foi amplamente propagado entre a população de todo país, sendo indicado por médicos e pelo Ministério da Saúde e o presidente Jair Bolsonaro.
Os primeiros casos de coceira intensa foram registrados em Recife. Até momento são cerca de 264 pessoas com “lesões cutâneas a esclarecer”, em 35 bairros da capital. Segundo a Secretaria de Saúde de Pernambuco, os casos estão sob investigação clínica, epidemiológica e laboratorial pelos municípios, com apoio da equipe técnica e especialistas.
Escabiose resistente
O artigo publicado em agosto deste ano foi elaborado pelos pesquisadores do Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF), Alfredo Oliveira-Filho e Sabrina Neves, e pelos estudantes Lucas Bezerra e Natália Alves, a partir da observação de casos de resistência à ivermectina já relatados, surtos isolados e os dados de aumento de consumo do medicamento por causa da pandemia de Covid-19.
“O nosso artigo lança a hipótese de que poderíamos ter problemas com surtos de escabiose resistente, por conta do uso irracional da ivermectina. O surto está configurado, pois está havendo um aumento rápido de casos de lesões de pele com coceira e outros sintomas”, contextualiza Sabrina, mas ressalta: “Ainda não há diagnóstico da doença que está causando o surto. Algumas hipóteses da etiologia [origem] estão sendo testadas, entre elas está a escabiose levantada pelo artigo”.
Consumo aumento quase 10 vezes
O trabalho, assinado por Alfredo Oliveira-Filho, Lucas Bezerra, Natália Alves e Sabrina Neves, aponta que, após o início da pandemia causada pelo SARS-CoV-2, “a ivermectina foi identificada como um fármaco com potencial antiviral para tratamento de pacientes – a princípio hospitalizados e depois ambulatoriais – com Covid-19”.
Por causa disso, o consumo desse antiparasitário aumentou quase dez vezes no Brasil. Mesmo com pareceres do Ministério da Saúde e da indústria farmacêutica, somados a evidências científicas, a prescrição e automedicação baseada neste medicamento continuaram a acontecer.
Fonte: Congresso em Foco