Violência contra mulher: o grito de um crime ainda impune
A reportagem do jornal O Impacto esteve levantando informação, através de depoimentos em vários municípios, entre eles Itaituba, Aveiro e comunidade adjacentes, algumas em regiões garimpeiras, para saber da eficácia quanto à violência contra a mulher, após a criação da Lei Maria da Penha. Nossa constatação é deplorável, apesar dos avanços. Não precisaríamos ir muito longe para constatar a dura realidade de que ainda existem muitas mulheres sendo espancadas sem que os agressores sejam punidos.
Cerca de mais de uma dezenas de mulheres espancadas, torturadas por maridos companheiros violentos, que preferiram omitir suas identidades, admitem que não denunciam por medo de represálias, porque não sabem como lidar sozinha com os filhos, já que sem profissão definida e pouca instrução não estão preparadas para enfrentar uma nova vida longe das garras dos seus a agressores. Ou porque o agressor tem às vezes alto poder aquisitivo e vai subornar as autoridades para não ser enquadrado.
Francisca Alice foi mais uma vítima da violência masculina. No dia 5 deste mês foi assassinada brutalmente na frente dos filhos, recebendo um tiro de escopeta, estando o marido foragido. O criminoso de pré-nome Marinho está sendo procurado pela Polícia. O crime chocou os moradores do Bairro Vitória Régia, em Itaituba, onde a tragédia ocorreu.
Nos raros casos em que o agressor não fica impune, mas por clamor da opinião pública ou pressão de entidades de classes como a Associação Municipal das Mulheres de Aveiro(AMA), são feitos os devidos procedimentos, como no caso recente onde o agressor de nome Fernando Marques dos Santos, estudante de 26 anos, foi preso e recambiado para Itaituba, onde já está no presídio local para responder pelo crime com base na Lei Maria da Penha.
A AMMA em Aveiro tem feito diversas palestras divulgando e conscientizando as mulheres para que denunciem em caso que sejam submetidas a agressões, sejam elas físicas, psicológicas ou verbais, já que se houver denúncia realmente a Lei penaliza o agressor. Mas, ressalta que se faz necessário que as mulheres denunciem como no caso de Edmilda que mesmo pela natureza violenta do ex-namorado criou coragem e registrou B.O na Delegacia local por não suportar o comportamento doentio do mesmo sempre movido por ciúme.
A vítima, Edemilda Mota de Oliveira, funcionária Pública, de 25 anos, foi agredida recebendo vários socos no rosto, sendo também asfixiada pelo troglodita brutamontes que por não aceitar a separação vivia ameaçando a jovem até que agressão foi consumida às três da manhã do dia 15 deste mês, em uma festa no Clube Conceição.
Edemilda, numa atitude corajosa, registrou BO contra o ex-companheiro, mas para cada caso tornado público, segundo opinião de delegados e policiais, mais de 10 ficam apenas entre o agressor e a agredida.
Esse caso é um exemplo da causa da agressão, quando a mulher não queira mais continuar um relacionamento e o rejeitado passa a rastrear a ida da mulher em todos os lugares, sendo que em alguns casos vai além da simples agressão, eles matam de forma covarde e brutal.
Mas nem sempre o andamento dos processos e prisões são motivados por missão das autoridades, já que segundo alguns delegados (ou delegadas) enfrentam problemas com as vítimas que no ato do registro da denúncia resolvem desistir e sem o procedimento legal nada pode ser feito contra o suposto agressor.
O caso mais revoltante e emblemático constatado que pode sintetizar a degradação moral a que uma mulher pode ser submetida por parte da violência masculina, foi relatado pela vice-presidente da AMMA, Maria Luizete, onde a vítima das iniciais F.S. C., de 35 anos, em uma comunidade do Município era submetida a espancamentos e tortura psicológica, sendo que durante o dia era obrigada num regime de escravidão a lavar, passar, cozinhar e cuidar do marido, que no período da noite levava a amante para dormir em casa e colocava a mulher pra fora, com a mesma retornando no dia seguinte para continuar sua rotina de sofrimento. Após dois anos submetida à tortura física e psicológica foi embora levando os dois filhos, mas o carrasco continua vivendo impunemente como se nada tivesse ocorrido.
Se nesta matéria fossem colocadas as centenas de casos levantados, não havia espaço, mas cada história tem o ingrediente principal dessa realidade asquerosa que violenta corpo, alma, mente e coração das mulheres submetidas às situações de violências sem limites. M.M.F., de 16 anos, por exemplo, conta que conheceu o namorado, amigou-se e três meses depois sua vida passou a virar um inferno, onde era espancada, humilhada nas festas, sendo de uma certa feita queimada com ferro quente, mas desistiu de denunciar, porque sua própria mãe ainda foi a favor do agressor, afirmando que a “mulher quando apanha é porque merece”.
Para alguns especialistas do meio criminalista, a Lei foi um grande avanço, mas a falta de infaestrutura para que a mesma seja posta em prática é gritante.
Um exemplo é o município de Itaituba, que apesar de registrar um índice alarmante de violência, contra as mulheres, não conta com uma Delegada (a que tinha passou um mês e voltou pra Belém) e os delegados da Seccional que já estão com demanda excessiva de casos têm certa dificuldade para trabalhar os casos que especificamente de acordo com a lei deveriam ser solucionados pelas delegacias das mulheres, já que ela foi criada para isso.
Por: Nazareno Santos