Padre Edilberto: “Jatene esqueceu a região Oeste do Pará”
A escolha de 12 secretários pelo Governador eleito Simão Jatene sem nenhum representante da região Oeste do Pará, está gerando polêmica em Santarém. Para o membro da Frente em Defesa da Amazônia (FDA), padre Edilberto Sena, Simão Jatene está escolhendo seu secretariado sem utilizar como critério a competência técnica e política dos seus auxiliares. Padre Edilberto explanou que a escolha dos auxiliares de Jatene pode ser compreendida como jogo de interesse. Ele falou, ainda, sobre a estratégia de Jatene na escolha de Helenilson Pontes como Vice-governador, além da nomeação dos novos ministros de Dilma Rousseff. Veja a entrevista na íntegra:
Jornal O Impacto: Como o senhor analisa a nomeação dos secretários do Governador eleito Simão Jatene sem nenhum representante de Santarém?
Padre Edilberto: Vejo a política brasileira, assim como a estadual e a municipal, onde os gestores não utilizam como critério a competência técnica e política dos seus auxiliares. São feitos jogos de alianças estranhas. No caso especifico do Pará, temos a informação de que o PMDB que foi adversário ferrenho do Governador eleito, como perdeu a eleição, entre os secretários nomeados pelo novo gestor estadual, existem nomes vindos do referido partido. Quando vemos isso calculamos certamente que são repartições do bolo e jogos de interesse tanto do Governador eleito quanto do PMDB. Tem uma coisa que podemos observar quando o Governador atual recebeu uma votação maciça em Santarém e na região Oeste do Pará, onde suplantou a candidata do PT e teve como Vice-governador uma pessoa da região. Quando vemos agora a distribuição dos cargos, podemos interpretar tranquilamente que Simão Jatene está olhando para o Oeste do Pará e em especial pra Santarém, da mesma forma como o Governo Federal olha para a Amazônia, quando vem aqui buscar os seus interesses. Buscou os votos, colocou o outdoor agradecendo e depois escolheu secretários dos seus interesses de lá da sua banda.
Jornal O Impacto: O que a população de Santarém pode esperar do governo de Jatene?
Padre Edilberto: Quando vemos isso acontecer, observamos aquilo que podemos esperar para os próximos quatro anos no Oeste do Pará e no município de Santarém: Primeiramente, o Governador eleito nunca manifestou interesse de trabalhar e ajudar na emancipação do Oeste do Pará, que é uma luta antiga de se criar um Estado novo, para que administre essa região que é tão grande. Elegeu-se um Governador em Belém, que colocou um secretariado somente de gente de lá da capital, que não sabe nem qual é a competência técnica do administrador das diversas secretarias. Existem políticos do quadro de governo dele que tem uma ficha suspeita. Como se pode esperar que vamos melhorar? Como é que a população do Oeste do Pará e de Santarém que fez uma votação maciça fica no escuro, sem nenhuma negociação de compromisso com esta região? Isso é grave para nós! Eu não tenho muita esperança. Anteriormente já tivemos um Vice-governador que foi uma nulidade e não se sabemos o que vai ser com o atual. O que ele também está defendendo, interesses da região ou do seu grupo?
Jornal O Impacto: O fato de Jatene ter colocado Helenilson Pontes como Vice-governador foi para captar os votos da região, para depois dar uma “rasteira” na população local?
Padre Edilberto: Eu diria que ele optou por um homem da região Oeste do Pará, assim como se escolhe uma isca pra pegar pirarucu. É como se tivesse pegado o pirarucu e depois jogado a isca. Isso deve ser uma comparação, já que o Governador eleito gosta de pescar e usar caniço. Ele usou o caniço pra pegar os peixes que foram mais de 90 mil votos que levou de Santarém. Depois vamos ver o que ele vai trazer pra cá, porque não sei o que propõe para o Oeste do Pará, que é uma região que rende bastante dinheiro.
Jornal O Impacto: O senhor tem algum questionamento em relação ao governo de Simão Jatene?
Padre Edilberto: Uma coisa que questiono e elogio do Governador eleito, é sobre a Lei Kandir. Ele é uma das poucas pessoas da Amazônia que questiona a Lei Kandir, que prejudica tremendamente os cofres do Estado do Pará. Eu sei que o Jatene tem se pronunciado para acabar com a Lei Kandir. Não vejo os deputados, nem do partido dele, nem de outras coligações fazendo uma campanha para acabar com a Lei Kandir, para melhorar a renda do Estado do Pará. O Vice-governador é um tributarista e, que já se pronunciou inclusive em escrito sobre a Lei Kandir. Gostaria de saber se o Helenilson Pontes vai ser um lutador forte, para que o Governo Federal e o Congresso Nacional retirem essa Lei, que é nefasta para a região, de onde sai tanta riqueza, como madeira, minério, gado em pé, energia de Tucuruí, mas que fica um Estado pobre para sua população.
Jornal O Impacto: A escolha do Zenaldo Coutinho para assumir a Casa Civil do Pará, que é uma das principais secretarias de governo, será uma afronta à criação do Estado do Tapajós?
Padre Edilberto: Cada cidadão tem o direito de ser contra uma proposta ou uma Lei em encaminhamento, mas não deve bloquear o razão dos outros. Quando esse Deputado, que agora é Secretario, iniciou uma militância contra o direito do povo do Oeste do Pará, de votar em um plebiscito, para decidir se deseja ou não um novo Estado, isso é um crime. Esse cidadão merece ser punido e nunca mais ser votado aqui na região, porque ele tira o direito do povo local de votar no plebiscito sobre querer ou não dividir o Estado.
Jornal O Impacto: Sobre a não nomeação de políticos do Pará para agrupar o quadro de ministros da presidente Dilma Rousseff. O que a população paraense pode esperar para os próximos quatro anos?
Padre Edilberto: Eu não espero muito para a Amazônia e não só o Pará. A nova Presidente da República foi ministra de Minas e Energia e é a mãe do PAC, que é um plano anti-Amazônia. Esta imensa região é vista pelo Governo Central, como um Eldorado, cheio de riquezas para serem retiradas e vendidas a baixo custo, para melhorar a economia de Brasília. Mas, deixa o prejuízo das hidroelétricas e das mineradoras, além da abertura para as madeireiras e os pecuaristas. A Dilma vai ter que mostrar com muita clareza que de fato a Amazônia necessita de uma geopolítica, para defender os 25 milhões de habitantes que vivem nesta região, porque até agora não vejo bons sinais. Vejo o Governo Federal andando por cima de leis e, enfiando goela abaixo hidroelétrica, onde só na bacia do rio Tapajós, o plano obsessivo da Presidente é de construir 16 usinas. Isso é grave, porque vai destruir nosso belo rio e a população que depende de seu leito. Então, não vejo muita esperança para a Amazônia.
Por: Manoel Cardoso