Depoimentos complicam situação de mãe
A Polícia Civil descarta a tese de abandono de incapaz e pretende concluir o inquérito sobre o caso do bebê abandonado num quintal no dia de Natal como tentativa de homicídio qualificado por asfixia. Esse é o direcionamento que pretende tomar o delegado Mario Bermejo, que está à frente das investigações.
A tese de homicídio qualificado ganhou corpo para o delegado principalmente depois dos depoimentos da enfermeira Joelma Lima, que atendeu o recém-nascido, e da conselheira tutelar Irnaclei da Costa Pantoja, que registrou a ocorrência. Ambas foram ouvidas ontem à tarde na Seccional da Pedreira.
RISCO
Segundo o depoimento da enfermeira, o bebê, que ganhou o nome de Natalino de Jesus, correu grave risco de morte. Clinicamente, Joelma explicou que poderiam ter havidos complicações por conta do frio (hipotermia), hemorragia no cordão umbilical, fraturas diversas e complicações decorrentes da falta de alimentação (hipoglicemia).
“Tudo isso consubstancia a tentativa de homicídio porque salienta os riscos clínicos que a criança correu nas 12 horas em que ficou abandonada ao relento”, disse o delegado. “E não estou falando do risco de ataque de animais peçonhentos. O próprio dono da casa onde a criança foi jogada disse que cria um cachorro grande”.
A enfermeira contou ao delegado que o que pode ter salvado a vida do bebê foi o próprio saco de plástico em que ele foi colocado, já que teria servido como uma proteção involuntária para a criança. “Quando encontramos o bebê estava escuro, com o rosto arranhado. Quando cortamos mais o saco plástico, a criança chorou”, disse ela.
Em nove anos de profissão e mãe de um filho de 12 anos, Joelma diz nunca ter vivido situação semelhante. “Foi muito triste. Não consigo imaginar o que a mãe estava pensando”. A conselheira tutelar Irnaclei Pantoja disse ao delegado que logo depois de admitir que o filho era dela, Elinalra Nascimento dos Santos confessou ter atirado o bebê sobre o muro, versão que ela negou posteriormente.
INDÍCIOS
“Já tínhamos indícios de que ela era a mãe, mas ela vinha negando”, conta. “Mas quando eu a vi percebi que ela estava com todo aspecto de quem tinha acabado de ter um filho. Foi uma senhora de 80 anos que disse para olharmos o saco de lixo. Havia o resto de placenta lá e não deu mais para ela negar”.
A mãe da criança teria perguntado se iria presa antes de admitir o que fizera. Depois disse ter feito o parto sozinha no quarto, inclusive cortando o cordão umbilical. A tese de homicídio deve ser encaminhada ao Ministério Público, que irá proceder a denúncia, se for o caso. Só aí é que os advogados de Elinalra devem adotar a estratégia de defesa. Desde ontem a mãe do bebê ganhou um reforço de peso. O advogado Américo Leal assumiu, junto com Ana Barata, a defesa de Elinalra.
“Não existe ainda uma defesa porque não foi formulada ainda uma acusação. O Ministério Público é quem vai formalizar a acusação e é em cima dela que iremos trabalhar”, disse Leal. Segundo ele, nesse momento os advogados irão apenas acompanhar e fiscalizar os procedimentos adotados nas investigações até agora.
BEBÊ RECEBE ALTA
Ontem, em nota, a Gerência de Neonatologia da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA) informou que a criança havia recebido alta hospitalar pela manhã e que já havia entrado em contato com a Promotoria da Infância e Juventude para buscar o bebê no hospital. A Promotoria
está em recesso, atendendo apenas por plantão.
(Diário do Pará)