Para especialistas, mínimo de R$ 1.000 afundaria o Brasil
O reajuste do salário mínimo de R$ 540 para R$ 545 coloca novamente em discussão o valor ideal não só para o bolso do brasileiro, mas para a economia. Desde a criação do piso, em 1940, quando valia 220 mil réis, a inflação “comeu” ao longo dos anos um bom pedaço do rendimento.
Pelos cálculos do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), se o valor daquela época fosse convertido nos valores atuais, o salário mínimo seria de R$ 1.202,29, ou seja, 122% superior ao atual.
Segundo economistas ouvidos pelo R7, um aumento drástico provocaria um efeito em cadeia, em que os preços dos produtos seriam multiplicados, assim como o consumo. O cenário seria o de supermercados lotados, prateleiras vazias e carnes sendo vendidas a preços exorbitantes, segundo Fábio Gallo Garcia, professor de finanças da FGV-EAESP (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas).
– Se você expandir e der dinheiro à população, muda o patamar, trazendo consequências danosas à economia […] Um aumento nos preços é como oferecer bebida a um alcoólatra. A inflação é um mal silencioso e o governo tem que agir tirando o dinheiro da economia.
Um aumento para R$ 545 repõe menos do que as perdas com a inflação do ano passado, uma vez que em 2009 a economia brasileira encolheu 0,2%. No acordo feito entre o governo e os sindicatos, ficou fechado que o cálculo levaria em conta duas variáveis: a inflação do ano anterior e o PIB (Produto Interno Bruto, a soma das riquezas produzidas no país) de dois anos antes.
Prateleiras vazias
Para José Dutra Vieira Sobrinho, vice-presidente da Ordem dos Economistas do Brasil, na hora que o governo dobra o salário mínimo – no caso hipotético dos R$ 1.202,29 -, além de aumentar a renda da população, dobra também demanda de produtos. Dutra menciona a mudança que ocorreu no país na época do Plano Cruzado, em 1986, quando houve um aumento significativo na renda dos trabalhadores.
– A carne sumia, as pessoas só poderiam comprar seis garrafas de cerveja, foi um negócio terrível […] Um aumento como esse [de 122%] afundaria o Brasil, assim como afundaria qualquer outro país que tivesse a inflação mais ou menos controlada.
De acordo com José Maurício Soares, economista do Dieese, a correção do salário mínimo com base na inflação leva em conta as necessidades básicas de um trabalhador, conforme diz a Constituição de 1946. Se o cálculo for feito em cima da Constituição de 1988, que inclui as necessidades não só do trabalhador, mas da família, o valor sobe para R$ 2.227,53.
Os itens essenciais usados pelo Dieese para a formação do salário são: moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, reajustado periodicamente, de modo a preservar o poder aquisitivo do trabalhador.
Do R7