Após 38 horas de julgamento, júri condena um e absolve outro réu
Por volta das 20h00 deste sábado (19), o julgamento do casal de amantes que tentou matar esposo da ré. Foram 38 horas de julgamento, que ao final apontaram duas sentenças diferentes para os réus Eronita de Souza e Dorival Siqueira de Sousa.
Os jurados entenderam, por maioria de votos, que Eronita não participou da trama para assassinar seu esposo Eroni Anjos da Rosa, que escapou de um atentado contra sua vida no dia 23/11/2008, mas votaram pela condenação de Dorival, seu suposto amante.
Além disso, duas testemunhas saíram do plenário acusadas de terem prestado falso testemunho durante o julgamento, devendo responder a inquérito policial. São elas: Danilo da Silva Sousa e Leandro Delgado Cardoso.
Durante o julgamento, os dois réus sempre negaram que fossem amantes e que tivessem participado da trama. Os jurados acataram a tese da defesa de Eronita, representada pelas advogadas estreantes em Tribunal do Júri, Dras. Cleude Ferreira Paxiúba e Dhebora Araújo Mello e por outro lado rejeitaram as teses das advogadas do réu Dorival, as Dras. Noemi Coelho Athias e Rose Kelly Lobo, preferindo condená-lo como pediram os promotores de Justiça Rodrigo Aquino Silva e Adleer Calderaro Sirotheau. Os promotores anunciaram que vão recorrer da sentença em favor de Eronita.
Choro de alegria e tristeza
O juiz Gérson Marra Gomes proferiu a sentença de absolvição de Eronita e de condenação de Dorival, aplicando a este a pena de 14 anos de reclusão, em regime fechado, pelo crime de Tentativa de Homicídio Duplamente Qualificado (art. 121, § 2º, I e IV, c/c art. 14, II, do CPB). Além disso fixou o valor mínimo de indenização por danos morais em 10 mil reais, que o réu terá que pagar à vítima Eroni Anjos da Rosa. A defesa do réu deve se manifestar nos próximos dias se vai recorrer da sentença.
No plenário, familiares dos dois réus os abraçaram após a leitura da sentença num espetáculo de choro de alegria e de tristeza. Eronita gritava que acreditava na justiça dos homens e na justiça de Deus, enquanto Dorival chegou a passar mal antes de entrar em plenário, sendo consolado por sua mãe após a sentença.
Enredo de novela
Crise de transtorno bipolar, traição, separação litigiosa, emboscada, baleamento e extorsão em meio às famílias gaúchas e paraenses.
O processo que foi julgado em três dias tem ingredientes de uma trama que quase acaba em morte do comerciante Eroni dos Anjos Rosa, paraense nascido em Itaituba, mas filho de gaúchos. Eroni e Eronita cresceram juntos na Colônia São José (região do Cupari), na Transamazônica, município de Rurópolis. Ela nasceu no Rio Grande do Sul e veio morar no Pará com dois meses de idade, enquanto ele nasceu em Itaituba. Os dois faziam parte da colônia de gaúchos que se instalou naquela região nos idos de 1970, quando o regime militar buscava colonizar a Amazônia.
O casamento aconteceu numa igreja sem que os pais houvessem consentido. O pai de Eroni carregava a fama de ter um temperamento difícil e de ser violento, sendo que o filho herdou esse mesmo comportamento. Eroni, segundo constatado por exames médicos, sofre de transtorno bipolar o que o levava a ser dócil e cortês quase todos os dias, mas de repente surtava e passava ser violento. Mesmo assim, os dois viveram 10 anos juntos “entre tapas e beijos”.
Amantes e pistoleiros
Depois de tentar a vida na cidade de Cachoerinha/RS, de onde as famílias se originavam, o casal resolveu recomeçar montando uma mercearia no bairro do Uruará, em Santarém. Mas os problemas se agravaram e os dois passaram a brigar cada vez mais até decidir pela separação. Dorival era revendedor de cervejas e frequentava o estabelecimento do casal que era seu maior cliente. Passou a ouvir os queixumes de ambos, e foi aumentando os laços de amizades com o casal. Até que surgiram as suspeitas de que ele estaria tendo um caso com Eronita.
Quando o Eroni e Eronita resolveram se separar houve litígio no momento de definir a divisão dos bens. Eronita passou a morar na casa de parentes, aguardando uma decisão judicial. Nesse momento, Eroni acolheu em sua casa um casal de amigos dos dois, Rosangela e Miguel, juntamente com um bebê. Miguel deu calote em dois comerciantes, fugiu deixando a esposa e o filho na casa do amigo. Eroni apoiou a jovem e enfrentou os comerciantes que cobravam a dívida. Acabou se envolvendo com ela e tendo um caso, aumentando ainda mais o conflito com Eronita. Foi nessa época que dois homens numa motocicleta pararam em frente à Mercearia Lena, de propriedade do casal, e deram quatro tiros acertando apenas um no braço de Eroni, que escapou com vida.
Tiros sem recompensa
Dias depois de ser atingido, sem saber quem queria matá-lo, o comerciante foi procurado por um dos supostos assassinos que pediu dinheiro para lhe revelar o nome dos supostos mandantes.
O comerciante marcou o encontro mostrando-se disposto a pagar a quantia, mas antes avisou a polícia que preparou uma emboscada. No encontro, os nacionais Antonio Nerivaldo de Brito Rabelo, vulgo “Valdo”, e Ronaldo Rabelo da Silva, vulgo ‘Novinho”, revelaram-se como sendo os pistoleiros e que quem teria encomendado sua morte foi a própria esposa, Eronita de Souza, juntamente com seu suposto amante, Dorival Siqueira de Sousa, por 3 mil reais. Os dois eram parentes da mulher de Dorival, que também tinha se separado do marido. Como não concluíram o “serviço”, os pistoleiros não receberam o dinheiro prometido e resolveram extorquir o comerciante para não saírem no prejuízo. Acabaram presos em flagrante pelo crime de extorsão, mas também pela tentativa de homicídio que confessaram.
O casal Eronita e Dorival, acusado de tramar a morte do comerciante, também acabou preso e foi julgado nestes três dias de júri popular. Mas os dois prováveis executores dos tiros entraram com recurso da sentença de pronúncia e só serão julgados após decisão do TJE.
Fonte: Jota Ninos/No Tapajós