O MÊS DAS FESTAS JUNINAS

No dia de Santo Antonio minha prima estava tão emocionada e agitada para acender a fogueira em frente a sua casa na Clementino de Assis, no bairro de Aparecida, após ter voltado da missa da distribuição do pão de Santo Antonio, para alegrar os familiares, principalmente, os sobrinhos, netos e vizinhos. Ela é privilegiada, na rua em que mora, abandonada, ainda pode fazer isso.

Fiquei com inveja e, ao mesmo tempo, com saudades do tempo que em toda Santarém se podia fazer a fogueira na frente de cada casa, clareava a rua e por seguinte a cidade toda, do centro até a periferia. Havia um cerimonial e uma inconsciente disputa. Primeiro ia-se buscar o “sacaí”, nas matas do aeroporto (também chamado na época de Campo de Aviação), ou até no Saubau, e juntava-se a outras madeiras, toras de árvores, que eram arrumadas para se fazer uma fogueira, poderosa, que pudesse além de ficar acesa pela noite toda, amanhecer acessa e se tornar a vencedora.

Ao redor da fogueira, dançava-se quadrilha, comprava-se o cartão do cordão de pássaro e do boi bumbá, desfeiteira, carimbó e lundu, casamento na roça, para se apresentarem. O palco era a própria rua, que se arrumava, para retirar a metade do areal e se tapava os buracos, retirava-se os matos que existissem e varria-se a rua com a vassoura de “pauzinho”. Enfeitava-se com bandeirinha, “piririma” e folhas de “palha preta”.

E após as apresentações oferecia-se, aos brincantes, vizinhos e convidados, as verdadeiras iguarias da época. Tarubá, mingau, como munguzá, arroz doce, canjica, bolo de milho, bolo de macaxeira, pamonha, beju, tapioquinha, milho verde cozido, assado, pé de moleque, etc.

No intervalo de uma dança e outra praticava-se a adivinhação, na bananeira, com água na bacia, para ver com quem se casava, ou se arrumava um casamento, no resto do ano. E outros “passavam”, ao redor da fogueira, de “compadre”, “meu cheiro”, “meu breu”, “meu brinco”, ou minhas outras coisas, que às vezes não se podem publicar. Assim se procedia, o dia de Santo Antonio, São João, São Pedro, (a procissão fluvial, hoje, “mixuruca”, pela exigência, para o barco se enquadrar para a procissão, mas para as viagens normais para as comunidades ribeirinhas pode) e já esqueceram, até do São Marçal, no último dia do mês de junho, fazia-se a fogueira dos paneiros, principalmente velhos.

O tempo se incumbiu de acabar com tradição, pelos asfaltamentos das ruas, como fizeram, recentemente, um trabalho bem feito na rua da minha infância, a “Presidente Vargas”, onde fica a Sede do Fluminense, (para quem não sabe a Prefeita é Tricolor). A fogueira oferece perigo à rede elétrica, e outras restrições. Mas, o pior de tudo, é a violência urbana, promovida por esses “gangueiros” que foram testando até assumirem as rédeas, diante da fraqueza do poder público em garantir a segurança do cidadão, contribuinte e para isso medidas coercitivas, portarias, para tirar o cidadão de bem da sua diversão e dos festejos da cultura popular.

Hoje uma ou outra “quermesse” verdadeira, em algumas escolas, são realizadas, pois, outras há, que  incluíram nas “danças da época” certas “novidades” que não são danças Juninas, até “dance”, já incluíram, numa verdadeira agressão a cultura popular.

O folclorista, carnavalesco e artista plástico Neném, ainda luta em seu barracão na Interventoria, para manter um dos últimos cordões de pássaro o “Tangará”. Um outro folclorista, carnavalesco, desportista, artista plástico e estilista Antonio Campina, (saúde, companheiro), tinha uma quadra no cruzamento da Barão do Rio Branco, Ismael Araújo e Afonso Pena, onde apresentava, o seu Boi Pérola do Tapajós e fazia sua quermesse junina aberta ao Público.

Ali, vi começarem uma obra nova. Tomara que não seja do PAC (estas são as que têm começo e não tem fim), procurei saber do que se tratava e soube que ali será uma Praça a ser chamada “Praça da mulher” (talvez seja Maria da Penha), com área para realização de atividade física, e pista para caminhada. Bem ao lado do Parque que já tem essas áreas de lazer. Por que, só para mulher? É Discriminação. Cadê a “Praça do Homem”, “Praça da Juventude”. “A Praça do Silêncio” Seria esta a prioridade para Santarém nos seus Trezentos e Cinquenta Anos, ou se utilizaria esse dinheiro para se recuperar a “imundície” em que se transformou a Praça Tiradentes, que foi uma conquista de anos dos moradores dos arredores dali do bairro da aldeia?

NESTA SEXTA TEM BANDA STYLLUS, COM CAETANO E DELSON NO FLUMINENSE, O MELHOR DA SAUDADE, A PARTIR DAS 23 HORAS, IMPERDÍVEL.

Por: Eduardo Fonseca

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