Violência contra mulher vira tema de grafites de grupo feminista
Quem passa pela praça Comandante Rafael Delgado Sobrinho, próxima à estação Barra Funda, na zona oeste da capital paulista, provavelmente já se deparou com o muro da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) em que um enorme grafite contém o nome de mulheres que foram vítimas em alguns casos de ampla repercussão na imprensa: Mércia Nakashima, Sandra Gomide, Eloá Pimental, Eliza Samúdio. O que muita gente não sabe é que, ao invés de um protesto isolado, o desenho faz parte de um trabalho igualmente amplo de um grupo de “grafiteiras feministas”.
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Criado pelo Grif (Grupo Revolucionário de Integração Feminina) Maçãs Podres, o grafite faz parte do projeto chamado Arte pelo Enfrentamento da Violência Contra Mulheres, coordenado por Valéria Melki Busin da ONG Católicas pelo Direito de Decidir. Ana Clara Marques é integrante do grupo, junto com Patrick Monteiro e Fernanda Sunega.
– A ideia [inicial] era de que devíamos organizar dois murais: um com a temática “mulheres pelo fim da violência”, e um segundo, “homens pelo fim da violência”, onde cada artista teria que desenvolver grafites que abordassem a luta contra a violência sofrida pelas mulheres.
Segundo Ana, o painel da Barra Funda, feito por um total de oito artistas, foi concebido “por mulheres grafiteiras” como parte da campanha mundial “16 dias de Ativismo” pelo fim da violência contras as mulheres. Mas o grafite na zona oeste é apenas “um” dentro de um conjunto de obras das artista que decoram muros em vários pontos da Grande São Paulo.
Zona leste e ABC
Na estação da CPTM de Santo André, no ABC, foi feito o mural “homens pelo fim da violência”. Em São Miguel Paulista, na zona leste da capital, três trabalhos protestam contra o fato de o principal suspeito do assassinato de Mércia Nakashima, Mizael Bispo, ainda estar foragido.
– Nossa intenção é tornar visível o que geralmente é esquecido pelo grande público já que são tantas as mulheres mortas todos os dias no Brasil. Tentamos utilizar a linguagem artística como forma de manifestação social e conscientização, principalmente devido ao fato de as crianças responderem muito bem a este tipo de intervenção.
Em relação aos casos dos assassinatos como o de Mércia Nakashima e de todos os outros nomes inscritos no mural, o grupo tem uma opinião bem formada. Para o Grif Maçãs Podres, esses crimes são a prova viva de uma sociedade machista.
– Através do grafite, de alguma forma, nós nos posicionamos, denunciamos e reivindicamos a Justiça de um modo que, muitas vezes, a sociedade brasileira deseja que se atinja no país. A arte de rua é um instrumento capaz de sensibilizar as pessoas, independente da classe social, da raça, do gênero ou da religião. Temos que, de algum modo, dialogar também com os homens, pois a relação de violência está inserida na incapacidade masculina de lidar com as emoções de perda, e assim, nada é mais condizente do que usar a arte feminista para expressar nossas opiniões.
Do R7