Brasileira prefere ser doméstica em Portugal a ser empresária no Brasil
A cearense Aldanira Rocha, 46 anos, resolveu deixar a família e o Brasil para tentar a vida como empregada doméstica em Lisboa. A experiência de trabalho tem dado certo. Depois de sete anos, Aldanira continua no exterior e já conseguiu comprar um sítio de quatro hectares no litoral cearense com o salário que recebe. “Amo o meu trabalho, mas não faria a mesma função no Brasil por causa do salário”, diz.
Em Portugal, Aldanira conta que trabalha legalizada e tem todos os benefícios previstos pela legislação trabalhista portuguesa. A assistente familiar ganha 900 euros por mês, cerca de R$ 2 mil, e mora na casa dos patrões. “Eu gasto por mês cerca de 100 euros. O resto, coloco na poupança”.
Antes de trabalhar no exterior, Aldanira tinha uma pequena confecção em Fortaleza. Ela chegou a empregar sete costureiras, mas após um calote teve de fechar a empresa. “Gostava do que fazia, mas o negócio não deu certo. Trabalhava muito com cheque pré-datado e isso quase me levou à falência”, diz.
A cearense teve, então, a oportunidade de trabalhar como assistente familiar em Portugal – função que equivale a ser empregado doméstico no Brasil. Como assistente familiar, ela cuida de um idoso e realiza serviços domésticos e burocráticos, como pagar contas e acompanhar consultas médicas.
“Os portugueses não procuram esse tipo de emprego, que acaba sendo feito pelos imigrantes. Não troco ser assistente familiar em Portugal para voltar a ser empresária no Brasil. A única coisa que me dói é a saudade da família”, diz Aldanira.
Com o dinheiro que economizou como assistente familiar, além da compra do sítio, Aldanira ajudou a filha a comprar um carro e paga a assistência médica da mãe. Essas conquistas também tiveram a ajuda do marido que trabalhou por três anos como caseiro em Portugal, mas teve de voltar ao Brasil por questões de saúde.
Crise econômica na Europa
A cearense conta que sempre observa as taxas de câmbio para as economias renderem mais. “Quando o euro está mais valorizado, transfiro uma quantia boa para minha família no Brasil”, explica. Aldanira diz que todos os serviços portugueses estão sentindo a crise econômica da Europa. “Portugal está parado. Tenho sorte porque meus patrões têm condições para manter meu emprego”.
O contrato do atual trabalho de Aldanira termina em 2013, mas ela não sabe se será a hora de voltar ao Brasil. “Um dia tenho de voltar para a minha família, mas quero me organizar melhor financeiramente”, revela.
Dica do especialista
O consultor em Recursos Humanos, Israel Araújo, alerta que trabalhar no exterior não é tão simples e avalia que agora não é um bom momento para sair do país. “Estados Unidos e Europa estão passando por uma crise sem precedentes. Enquanto, no Brasil, fala-se em falta de mão de obra”.
Para Israel Araújo, o mercado de trabalho no Brasil pode ser mais interessante, principalmente, pela chegada de eventos mundiais, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
Aos que pensam em trabalhar como empregado doméstico no exterior, o consultor faz recomendações. “Pesquise e avalie bem as promessas ou propostas, pois o serviço doméstico no exterior é um luxo e, em tempos de crise, os luxos são os primeiros itens a ser cortados do orçamento”, lembra.
Antes de fazer um contrato de trabalho em outro país, Araújo aconselha o futuro empregado a pesquisar a legislação interna do país quanto ao trabalho de estrangeiros e buscar o consulado para orientações precisas. “Se o trabalho for possível e legalizado, siga as orientações de acordo com a legislação de cada país. Depois disso, podem ser negociados prazos ou custeio de retorno ao país de origem no caso de rescisão antecipada do contrato”.
Do G1