FMI quer metas de inflação 'mais claras e acessíveis'
O Fundo Monetário Internacional (FMI) advertiu ontem os bancos centrais a tornarem “mais claras e acessíveis” as suas metas de inflação, sob pena de minarem sua credibilidade diante dos mercados.
O alerta foi provocado pela preocupação do Fundo com a ameaça de novas ondas de elevação de preços internacionais do petróleo e dos alimentos e, igualmente, com as economias sujeitas a “um excessivo aumento de demanda”, como é o caso do Brasil. Para o FMI, a ausência de transparência dos bancos centrais pode descarrilhar os planos monetários em curso.
Assim como pode ter como alvo o Brasil, onde a inflação tem subido sob especial pressão da demanda por alimentos e serviços, o recado do Fundo dirigiu-se igualmente às autoridades monetárias da Europa e dos EUA. O Banco Central Europeu elevou duas vezes a taxa de juros, para adequar a região à sua meta inflacionária de médio prazo. O Federal Reserve mantém informalmente o centro da meta de inflação em 2%, mas desconta dos cálculos a variação dos preços do petróleo e dos alimentos.
“Um choque nos preços dos alimentos pode ter, particularmente, uma segunda rodada de efeitos nas economias com bancos centrais menos críveis e com excessiva pressão da demanda. Um grande número de economias emergentes e em desenvolvimento compartilham essas características”, afirma o capítulo 3 do Panorama da Economia Mundial.
A edição completa do documento será divulgada na próxima semana durante a reunião de outono do FMI e do Banco Mundial, em Washington.
Ao mesmo tempo em que chama a atenção para essas nuances da meta de inflação e para o risco da anulação dos efeitos esperados das políticas monetárias, o FMI coloca atenção especial na necessidade de os países mostrarem-se ambiciosos no ajuste de suas contas públicas. A iniciativa, salienta o texto, reduz os desequilíbrios externos na economia mundial.
O Fundo considerou o plano de ajuste fiscal dos Estados Unidos demasiado modesto para reduzir o déficit no comércio de bens e de serviços do país com o exterior, de US$ 329,8 bilhões entre janeiro e julho deste ano. No início de agosto, o Congresso americano aprovou o corte de US$ 917 bilhões nos gastos públicos até 2022, além de uma possível redução adicional de US$ 1,5 trilhão na dívida pública, a ser definida até o fim de novembro.
Panorama. Na zona do euro, segundo o estudo, o ajuste fiscal deverá contribuir para a “eliminação de pequenos desequilíbrios internos”. Na Ásia e em outros emergentes, deverá reduzir o superávit em transações correntes. Mas, nos EUA, o ajuste fiscal terá de ser aprofundado para trazer impacto positivo na área externa.
“A relativa ausência de medidas de consolidação permanentes nos EUA sugere que a política fiscal vai contribuir pouco na diminuição do déficit externo americano”, diz o capítulo 4 do Panorama da Economia Mundial, também antecipado ontem.
Nos últimos três anos, o FMI vinha insistindo na necessidade de maior equilíbrio no comércio mundial – a diminuição do saldo positivo dos emergentes, com a expansão de seus mercados domésticos, e a redução dos déficits dos Estados Unidos e da Europa, por meio de maior esforço exportador.
Com base na avaliação das mudanças na política fiscal das economias avançadas nos últimos 30 anos, o Fundo concluiu que um ajuste nas contas públicas de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) é capaz de provocar melhorias nas transações correntes de 0,5 % em dois anos. Isso porque o ajuste fiscal traz como consequência a desvalorização da taxa de câmbio. Com isso, a demanda doméstica por bens e serviços importados cai e aumentam as exportações.
Efeitos da crise
US$ 329,8 bi foi o déficit dos EUA no comércio de bens e serviços com o exterior entre janeiro e julho. US$ 917 bi foi o corte aprovado pelo Congresso americano nos gastos públicos até 2022.
Por: Denise Chrispim Marin – O Estado de S.Paulo