Dilma perde o sexto ministro
Às vésperas de completar um ano de sua eleição ao Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff demitiu o sexto ministro em apenas dez meses de governo. Alvejado por acusações de desvio de dinheiro para abastecer o caixa do PC do B, o titular do Esporte, Orlando Silva, entregou o cargo na noite de ontem, um dia depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) anunciar a abertura de inquérito para investigar denúncias de seu envolvimento em crimes contra a administração.
Dilma se reúne hoje com a cúpula do PC do B para definir o substituto de Orlando, depois do impasse que marcou as últimas tentativas de negociação com o partido aliado. São cotados para a pasta os deputados comunistas Aldo Rebelo (SP), Luciana Santos (PE) e o presidente da Embratur, Flávio Dino (MA). O secretário executivo do Esporte, Waldemar de Souza – também filiado ao PC do B – assumirá interinamente o cargo.
Orlando conversou com Dilma por meia hora, ontem, no Palácio do Planalto. Jurou inocência e só deixou o cargo porque foi pressionado pelo governo. Sua intenção era resistir, mas, logo cedo, Dilma pediu ao ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que o alertasse sobre a necessidade do pedido de demissão após a decisão do Supremo. A presidente alegou, ainda, que a crise política poderia abalar a credibilidade do Brasil na organização da Copa do Mundo de 2014.
“Eu saio com a consciência do dever cumprido, para me defender de todas as calúnias e mentiras”, disse Orlando, com os olhos marejados. “Minha honra foi ferida. Foram 12 dias de ataque baixo e vil. Saio para defender a minha honra e a do meu partido”, emendou. O prolongamento da crise, porém, trouxe à tona uma série de fraudes no programa Segundo Tempo, reveladas pelo Estado, e problemas em convênios com organizações não-governamentais (ONGs).
Dominó. Dos seis ministros que caíram até agora na equipe de Dilma, cinco estavam envolvidos em denúncias de corrupção. Mas foi a primeira vez que a turbulência atingiu o tradicional aliado do PT. Num primeiro momento, o PC do B se recusou a indicar nomes para substituir Orlando, que assumiu o Esporte em 2006, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O partido voltou atrás quando percebeu que o desgaste era irreversível.
A presidente planejava demitir Orlando desde a semana passada, mas, na sexta-feira, ao retornar de uma viagem à África, decidiu lhe dar um voto de confiança para evitar o rito sumário e não ficar a reboque de acusações publicadas na imprensa.
A sobrevida do titular do Esporte durou apenas cinco dias. Em conversas reservadas, Dilma disse que não conseguiria manter Orlando até a reforma ministerial, prevista para janeiro, porque ele perdera a batalha da comunicação e as condições políticas para continuar no posto.
A investigação do Supremo agravou ainda mais a situação do ministro. Na manhã de hoje, Carvalho chamou Orlando, o presidente do PC do B, Renato Rabelo, e o líder do partido no Senado, Inácio Arruda (CE), e preparou o terreno para a demissão. “Eu disse a eles que era preciso dar um passo porque a abertura do inquérito foi fator determinante para a mudança da situação”, contou Carvalho.
A conversa foi dura. Culpando o “fogo amigo” do PT por sua desgraça, Orlando disse que a saída representaria uma confissão de culpa de um crime que não cometeu. Rabelo foi na mesma linha e afirmou que o partido não admitia deixar o governo com a pecha de corrupto. “Estou sendo acusado por um bandido, sem nenhuma prova”, insistiu o ministro, numa referência ao policial militar João Dias Ferreira, que chegou a ser preso por fraudes na execução do convênios com o ministério. Nos bastidores, a cúpula do PC do B diz que o governador do Distrito Federal. Agnelo Queiroz (PT), não sairá ileso. Ele antecedeu Orlando no Esporte, na época em que era filiado ao PC do B, e, de acordo com os comunistas, seria o responsável pela engrenagem que desviou dinheiro usando ONGs de fachada.
Fonte: Agência Estado