Parceria para a preservação de espécies no rio Trombetas

A Reserva Biológica do Rio Trombetas, localizada em Oriximiná, Oeste paraense, recebeu mais 9.602 filhotes de tracajás e pitiús nesta quarta-feira (14), durante a soltura simbólica dos quelônios feita na praia da Marciana. O evento fez parte das ações do projeto Tartarugas da Amazônia – Conservando para o Futuro desenvolvido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em parceria com a Mineração Rio do Norte (MRN), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e a comunidade moradora da reserva, no lago Erepecu.

O evento inaugurou a soltura oficial de filhotes nascidos neste ano no projeto, que até o final de dezembro deverá contabilizar 15 mil animais devolvidos à natureza.

Desde setembro, as 27 famílias quilombolas envolvidas no projeto vêm se dedicando ao manejo e monitoramento dos ninhos deixados nas nove praias que integram o lago.

O projeto Tartarugas da Amazônia existe há cerca de oito anos, é voluntário e exige dedicação exclusiva dos comunitários no último trimestre de cada ano. A vigilância nos ninhos é permanente, feita durante 24 horas pelos comunitários, que passam dias em barracas montadas nas praias, para evitar que os ovos sejam roubados para consumo e venda ou comidos por predadores naturais.

A dedicação exclusiva dos quilombolas ao projeto é garantida com a doação de cestas básicas feita pela MRN, para garantir o sustento das famílias que ficam ausentes da comunidade. Além disso, os comunitários recebem combustível para as rabetas, que são pequenas embarcações usadas para a locomoção até as praias.  Já com apoio do INPA, as famílias recebem capacitação para dominar a técnica de manejo dos ninhos e garantir um número maior de animais nascidos.

O trabalho começa sempre no mês de setembro, com a identificação das covas dos ovos e posterior transferência deles para locais mais seguros, livres das cheias das marés e onde o monitoramento é mais fácil. Os ovos são mantidos em berçários de madeira, montados pela própria comunidade, até o nascimento dos filhotes. Depois de nascidos, os animais são encaminhados para um tanque berçário onde permanecem por alguns dias até serem devolvidos à natureza.

Mudança de cultura – Há oito anos, Raimundo Dias Barbosa, líder da comunidade do Erepecu, tinha o hábito de consumir e vender tracajás e pitiús. Esse tipo de comportamento fazia parte da cultura de toda a comunidade.

“Antes era só comer e vender. Hoje, até me sinto culpado e penso em recuperar o que eu ajudei a diminuir. Então, pra mim, é muito válido esse trabalho. A gente fica 105 dias lá reparando, faça sol ou chuva”, ressalta.

A preservação também passou a fazer parte da vida de Francisca dos Santos, de 60 anos, que ainda criou os filhos sem o pensar no futuro das espécies. “Criei meus filhos com fartura. A gente via muito tracajá e pitiú por aí. Eu pensava que um dia podia acabar, mas não sabia como fazer. Aí veio o projeto e a minha família foi uma das primeiras a aderir”, comemora.

Soltura de quelônios

A mudança de pensamento da comunidade para a cultura de preservação é gradativa, segundo José Risonei da Silva, chefe da Reserva Biológica. “A conscientização é um processo de médio e longo prazo. A cada ano, mais famílias do lago Erepecu se interessam pelo projeto. Assim, vamos aumentando o número de praias e de filhotes nascidos”, diz o representante do ICMBio.

O apoio dos parceiros do projeto também tem contribuído significativamente para a mudança de comportamento na comunidade. “Sem a ajuda da MRN e do ICMBio, a gente não teria como realizar o projeto, porque a gente se muda para as praias. Aí, a gente teria prejuízo. Com apoio, a gente pode fazer um trabalho bom e garantir os tracajás e pitiús para a geração futura”, assegura Adenilson Santos, de 26 anos.

Para Ademar Cavalcanti, gerente de Meio Ambiente da MRN, a parceria com as comunidades é a mais eficaz forma de garantir a sustentabilidade na reserva. “A Mineração vem apoiando o ICMBio em duas unidades de conservação – a Rebio Trombetas e a Flona Sacará Taquera. Não há dúvidas de que o crescimento do número de filhotes soltos, ano a ano, é resultado desse trabalho conjunto. Não existe sustentabilidade sem envolvimento da comunidade”, finaliza.

Quando o projeto iniciou suas atividades, a produção variava entre 700 e 1000 filhotes. Em 2010, o número já chegou a 11 mil e este ano a comunidade comemora os resultados de mais um ciclo de trabalho.

Fonte: Érica Bernardo/MRN

Um comentário em “Parceria para a preservação de espécies no rio Trombetas

  • 15 de dezembro de 2011 em 14:31
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    Muito louvável a iniciativa, digna de aplausos e alegria. Seria verdadeiramente efetivada se o governo federal investisse mais no IBAMA e na PF(Polícia Federal), em toda Região Norte do Brasil.
    O nosso IBAMA aqui no oeste paraense funciona de forma muito precária, em tudo, por causa da falta de recursos.

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