Em conversa, presidente da Delta fala em dar propina a políticos
O presidente da Delta Construções, Fernando Cavendish, teve uma conversa gravada na qual ele fala em dar propina a políticos, de acordo com trechos divulgados neste fim de semana pelo site Quid Novi, do jornalista Mino Pedrosa. Em uma das frases divulgadas, Cavedish diz: “Se eu botasse 10 paus na mão de nego, ah, nem precisa muito de dinheiro, mas eu ia ganhar negócio”. A Delta confirma a fala, mas diz que a gravação foi feita clandestinamente por um ex-sócio, que o exemplo dado é “hipotético” e foi dito “em tom claro de bravata”.
A Delta é a sexta maior empreiteira do Brasil e está envolvida em denúncias de favorecimento ao bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo acusado de chefiar um esquema de jogo ilegal. Reportagens publicadas neste fim de semana mostram a utilização de empresas de fachada para movimentações financeiras entre a Delta e Cachoeira.
Segundo “O Globo”, Cachoeira usou duas empresas de fachada para movimentar, entre 2010 e 2011, R$ 39 milhões, em parte transferidos pela Delta. O jornal indica que vários saques foram feitos em período eleitoral.
Trechos das conversas
A gravação de Cavendish divulgada pelo site Quid Novi tem dois minutos e sete segundos. Cavendish diz não ter “nenhum interesse em raia miúda”. “Se eu botar R$ 30 milhões nas mãos de um político, eu sou convidado para coisa pra c… Te garanto”, afirma o empresário em um diálogo com interlocutor não identificado.
Noutro trecho, segundo a gravação, o empresário diz: “Ô senador fulano de tal, toma aqui ó, pá. Se me convidar, eu passo o dinheiro pra sua mão”.
Gravação foi clandestina, diz empresa
Em nota, a Delta afirma que o áudio foi “gravado clandestinamente” em dezembro de 2008 durante reunião na qual se discutia a cisão societária entre a Delta e a Sygma Engenharia.
[Observação: após a publicação deste texto, a assessoria da Delta informou que a gravação foi feita em janeiro de 2009 e não em dezembro de 2008. A informação foi corrigida às 20h24.]
Segundo a nota, “o trecho é parte editada de uma longa discussão”. De acordo com a assessoria, nas falas de Cavendish, os verbos estão “flexionados no condicional, como um exemplo hipotético” e têm um “tom claro de bravata” (leia íntegra da nota ao final da reportagem).
“Fernando Cavendish Soares reafirma, por sua vez, que o que está dito naquele áudio gravado clandestinamente em dezembro de 2008 [janeiro de 2009, conforme retificou a assessoria da empresa] não expressa a sua opinião e foi pronunciado em tom de bravata em meio a uma discussão entre sócios que desde então se enfrentam na Justiça”, afirma a nota, assinada por Ana Faraco, do Conselho de Administração.
A empresa afirma ainda que os diretores e executivos da empresa “têm profundo respeito pelo Congresso Nacional, pelos congressistas, pelas instituições republicanas e pelo Poder Público”.
José Dirceu
O processo de separação entre a Delta e a Sygma foi parar na Justiça, e o desentendimento entre os sócios acabou revelando que José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil do governo Luiz Inácio Lula da Silva, prestou serviço de consultoria para a Delta. O contrato de seis meses foi assinado no fim de 2008.
Nessa época, os contratos da empresa com o governo federal quase dobraram. Passaram de R$ 393 milhões em 2008 para R$ 788 milhões em 2009. Atualmente, a Delta é a empresa que mais recebe dinheiro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – R$ 885 milhões em 2011 .
Em entrevista à revista “Veja”, em maio do ano passado, os ex-donos da Sygma, José Augusto Quintella Freire e Romênio Marcelino Machado, acusaram o ex-ministro de fazer tráfico de influência em favor da empreiteira Delta. Segundo Quintella, José Dirceu foi contratado para facilitar negócios com o governo federal.
Em uma nova nota, a Delta negou que o ex-ministro José Dirceu tenha sido contratado para facilitar negócios com o governo federal.
Dirceu afirmou que foi contratado apenas para dar consultoria sobre investimentos no exterior e que não fez tráfico de influência.
CPI
Líderes de PT e PSDB defenderam nesta segunda a convocação de Cavendish pela CPI a ser instalada para investigar as relações de Carlinhos Cachoeira com agentes públicos e privados.
Líderes no Congresso buscam assinaturas para apresentar um requerimento de instalação de uma CPI mista (integrada por deputados e senadores). Escutas telefônicas feitas com autorização judicial pela Polícia Federal apontaram o envolvimento de Cachoeira com parlamentares. Um executivo da Delta também foi flagrado em conversas com o contraventor.
Leia a seguir a íntegra da nota divulgada pela Delta:
Rio de Janeiro, 16 de abril de 2012.
N O T A À I M P R E N S A
O blog do jornalista Mino Pedrosa divulgou no domingo 15 de maio a edição parcial de um áudio gravado clandestinamente em dezembro de 2008 durante reunião na qual se discutia a cisão societária entre as empresas Delta Construção e Sygma Engenharia.
A Delta Construção tem a dizer sobre isso:
1. O trecho é parte editada de uma longa discussão em que os controladores das duas empresas, Delta e Sygma, discutiam em dezembro de 2008 os termos de uma dissociação. Um dos antigos proprietários da Sygma que estão sendo processados pelos controladores da Delta Construção, gravou a longa discussão e pinçou aquele trecho a fim de promover chantagens negociais contra a empresa.
2. O áudio não representa o que a Delta Construção e seus controladores pensam. Antes de tudo, o que é dito ali tem os verbos flexionados no condicional, como um exemplo hipotético, e foi pronunciado num tom claro de bravata.
3. Tanto a Delta Construção como todos os seus acionistas controladores, diretores e executivos têm profundo respeito pelo Congresso Nacional, pelos congressistas, pelas instituições republicanas e pelo Poder Público.
4. Fernando Cavendish Soares reafirma, por sua vez, que o que está dito naquele áudio gravado clandestinamente em dezembro de 2008 não expressa a sua opinião e foi pronunciado em tom de bravata em meio a uma discussão entre ex-sócios que desde então se enfrentam na Justiça.
Ana Faraco
Conselho de Administração
Delta Construção
Fonte: O Globo