Cesária dobra o risco de bebê ficar obeso
Bebês nascidos por cesariana correm o dobro de risco de apresentar obesidade na infância, em relação aos que vêm ao mundo por meio do parto natural. A constatação aparece em um levantamento com 1.255 crianças divulgado ontem pela publicação científica Archives of Disease in Childhood, ligada ao British Medical Journal, um dos mais conceituados da área no mundo.
Estudos anteriores já apontavam a ligação da cesariana com outros problemas posteriores no bebê, como asma e rinite alérgica. Esse é, contudo, o tipo de parto mais feito no Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a emitir um alerta sobre o excesso da cesárias no País: 52% dos partos são realizados por meio de cirurgia no País, porcentual que chega a 82% na rede particular. A taxa preconizada é de até 15% do total de partos.
A explicação para a cesariana aumentar o risco de obesidade no bebê pode estar relacionada a mudanças na flora intestinal do feto, segundo os pesquisadores responsáveis pelo estudo. Bebês nascidos por parto normal adquirem da mãe, ao nascer, algumas bactérias essenciais para a boa digestão .
Já os nascidos por meio de cesárea, além de apresentarem menos bactérias que auxiliam na digestão, tiveram mais micro-organismos que estão associados à obesidade – comumente encontrados em obesos, esses micro-organismos atrapalham a regulação da absorção de açúcar.
Do total de partos acompanhados pelo estudo, 284 crianças nasceram por cesariana. Dessas, 15,7% desenvolveram obesidade – porcentual que caiu para 7,5% entre as crianças nascidas por meio de parto normal.
Os pesquisadores reconhecem que as mães que deram à luz por meio da cesária tinham, em média, mais peso do que as outras e seus bebês também eram mais pesados ao nascer – elas também amamentavam por menos tempo. Mas, mesmo descontando esses fatores, a tendência à obesidade se manteve.
Há outros riscos envolvidos em cesarianas feitas sem necessidade. Por isso, o procedimento deveria ser tratado como uma opção que depende da evolução de mãe e do bebê no trabalho de parto – e não como uma escolha planejada meses antes de dar à luz. “A cesariana deveria ser, portanto, uma consequência”, afirma o obstetra César Eduardo Fernandes, presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp).
A cesariana deveria ser indicada, tecnicamente, nos casos em que há impedimentos conhecidos para o parto normal, como hipertensão na mãe ou um bebê em posição inadequada, por exemplo. Para Fernandes, contudo, a condição de saúde da mãe durante a gestação é o fator que mais interfere na saúde do feto – mais do que o tipo de parto feito.
Os próprios médicos criticam ao grande número de cesarianas eletivas no País, sem necessidade médica, por mero comodismo de obstetras e mães. “Ela pode colocar em risco o feto. A criança pode nascer com um desconforto pulmonar, por exemplo”, explica o obstetra Olímpio Moraes, vice-presidente da Região Nordeste da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Moraes lembra que, no parto normal, a passagem do bebê pelo estreito canal vaginal ajuda a pressionar a caixa torácica da criança e, assim, expulsar o líquido amniótico. “O pulmão é limpo naturalmente, o que não ocorre na cesariana”, diz. Para a mãe também há benefícios: recuperação mais rápida e risco menor de infecções e hemorragias.