Perillo rebate acusações, nega elo com Cachoeira e se diz vítima
Após mais oito horas de depoimento na CPI do Cachoeira, o governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB) saiu fortalecido, segundo a avaliação de alguns parlamentares, das acusações sobre sua relação com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Dentre a grande variedade de assuntos abordados, ele afirmou que a venda da sua casa foi “totalmente” legal. Perillo ressaltou por diversas vezes que “vendeu uma propriedade sua, e não um bem do estado”, e que só depois de receber o valor total do negócio descobriu que o ex-vereador Wladmir Garcez teria conseguido um empréstimo para comprar o imóvel. Perillo, que se disse vítima de injustiça, afirmou que depositou em sua conta pessoal o valor, e declarou no imposto de renda.
– Eu recebi três cheques pré-datados. E já me arrependi de não ter visto de quem era o cheque.
Perillo explicou também que o ex-assessor dele Lúcio Gouthier Fiúza estava presente na revenda da casa para o empresário Walter Paulo Santiago porque o imóvel ainda estava no nome dele, e não no de Wladmir Garcez.
– Meu representante não recebeu qualquer valor na negociação da casa com Walter Paulo. Vendi a casa no valor do mercado para Wladmir Garcez. Não recebi duas vezes pelo imóvel – garantiu o governador.
E acrescentou:
– Se a negociação fosse fraudulenta, eu jamais teria declarado a venda à Receita Federal e ter colocado anúncio nos classificados – concluiu.
Indicações de Demóstenes e Garcez
Perillo também negou durante o depoimento que Cachoeira tenha indicado Edvaldo Cardoso para assumir o Detran no Estado. No entanto, admitiu que contratou algumas pessoas indicadas pelo senador Demóstenes Torres (sem partido – GO) e pelo ex-vereador Wladmir Garcez, apontados pela Polícia Federal como aliados de Cachoeira em diversos esquemas.
– O Wladmir fez pedidos pessoais dele na condição de político e vereador. Não sei quanto o Wladmir levou (pedidos), mas atendemos poucos (…) O Demóstenes sugeriu para o primeiro escalão o suplente dele e outros nomes de pessoas qualificadas que foram nomeadas – reiterou
Ao ser questionado sobre o mensalão, ele afirmou que denunciou pessoalmente o esquema ao ex-presidente Lula, em 2005, mas procurou não explorar o tema durante seu depoimento, que serviria de embate caso houvesse pressão da bancada petista.
– O foco desta CPI não é o mensalão. Não vou voltar a este tema. São águas passadas.Não guardo rancor. Cumpri meu papel à época. Em assuntos que desconheço, não posso fazer nada – disse Marconi.
Já no fim da sessão, ao ser inquirido pelo deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), ele desabafou:
– Nunca imaginei na minha vida que um aviso iria gerar tanto ódio e tanta perseguição.
Relação com Cachoeira
Durante o depoimento ele negou ter qualquer “relação de proximidade” com o contraventor Carlinhos Cachoeira, destacando que as gravações telefônicas da Polícia Federal registram apenas um diálogo dele com o contraventor, por ocasião do aniversário de Cachoeira.
– Só há uma e fortuita ligação telefônica. Estava na casa de um amigo, quando alguém dos presentes me disse que era aniversário do senhor Carlos Cachoeira. Me perguntou se eu aceitaria falar com ele pela data. Não estava ali telefonando para um contraventor, mas para um empresário que atuava no setor de medicamentos, sócio do maior laboratório de bioequivalência (de Goiás). Disse que, se ele telefonasse, eu falaria. Conversa rápida e trivial.
Ao ser questionado pelo deputado Felipe Pereira sobre quantas vezes esteve com Carlinhos Cachoeira, Perillo afirmou que esteve com ele por três vezes – a primeira no Palácio das Esmeraldas, a segunda no Detran e a terceira na casa do senador Demóstenes Torres. Perguntado se ele sabia que Cachoeira era o principal contraventor de Goiás, o governador explicou que, inicialmente, sabia que Cachoeira trabalhava com jogos de loteria do estado, e depois foi apresentado como sócio de uma indústria de medicamentos.
Bate-boca entre tucanos e o relator
Perillo disse que não vê motivos suficientes, no momento, para ter o seu sigilo telefônico quebrado. Perillo falou em resposta ao relator da CPMI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), que perguntou ao governador se ele estaria disposto a abrir mão de seu sigilo telefônico.
– Não vejo sinceramente, na condição de ex-deputado estadual, federal, senador, motivos suficientes, justificativas plausíveis para que haja quebra de sigilo – disse o governador.
O governador ressalvou, porém, que a decisão sobre uma eventual quebra de sigilo caberá à própria comissão de inquérito e ao Superior Tribunal de Justiça.
O pedido de Cunha acirrou os ânimos dos membros da CPMI. Tão logo o relator formulou a pergunta a Perillo, parlamentares saíram em defesa do governador, gritando que Perillo não havia comparecido na condição de investigado, mas de testemunha. E que a pergunta do relator era uma tentativa de fazer algo que, para ocorrer, precisa ser aprovado pelos conjunto de integrantes da comissão.
O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) pediu calma diversas vezes. A gritaria durou alguns minutos. Parlamentares tucanos acusaram Cunha de falta de imparcialidade, já cobrando dele o mesmo tipo de rigor no depoimento de quarta-feira, quando comparecerá à CPI o governador petista do Distrito Federal, Agnelo Queiroz . O relator enumerou, então, argumentos para justificar o pedido. Segundo Cunha, ainda que a versão dada hoje pelo governador sobre as suspeitas de que é alvo tenha “início, meio e fim”, há indícios que deixam em aberto outras possibilidades e que isso precisa ser investigado.
– O senhor está aí como relator ou vice-líder do PT? – gritou um tucano.
Sobre Delta e Jayme Rincón
Questionado sobre Jayme Rincón, que foi coordenador financeiro da campanha de Perillo e que teria recebido de Cachoeira, por meio de sua empresa, uma quantia de R$ 600 mil, o governador disse que desconhece o fato e que sua prestação de contas foi aprovada após as eleições de 2010.
– Eu desafio qualquer pessoa no Brasil, qualquer consultoria, a descobrir qualquer esquema de empreiteiros, qualquer propina ou outra irregularidade no meu governo. Não existe isso. Me estranha muito eu estar o tempo inteiro na imprensa por ter vendido a minha casa – disse Perillo, que sempre tentava mudar de tema quando o assunto Rincón surgia na CPI.
Sobre os contratos com a Delta, Perillo disse que o governo de Goiás tem 19 contratos firmados com a empresa, sendo que sete foram feitos durante a sua administração. Ele afirmou que não houve nenhuma irregularidade durante a contratação dos serviços da empresa.
Ao responder perguntas do relator Odair Cunha (PT- MG) o governador disse que o estado tem apenas 4% de contratos assinados com a Delta, num total de R$ 51 milhões, contra R$ 64 milhões do governo anterior. Ele afirmou também que o ex-vereador Garcez nunca tratou com ele sobre assuntos relacionados à Delta, mas que tinha conhecimento que ele procurou algumas pessoas do governo. Garcez é apontado pela PF como a pessoa que levava ao governo os pleitos do contraventor Cachoeira ao governo de Goiás.
Perillo negou conhecer o ex-presidente da construtora Delta, Fernando Cavendish, e afirmou ter estado com o ex-diretor da empreiteira no Centro-Oeste, Claudio Abreu.
-Nunca conversei com o Fernando Cavendish. Sei que ele já esteve em Goiás, mas comigo nunca. Não o conheço. Claudio Abreu, estive com ele uma vez, acho que foi na casa do senador Demóstenes (Torres, sem partido-GO). E estive com ele uma ou duas vezes na campanha – disse Perillo.
Perillo também negou que o jornalista Luiz Carlos Bordoni tenha recebido, por intermédio do contraventor Carlinhos Cachoeira, por serviços prestados na campanha eleitoral em 2010.
– Ele terá oportunidade de apresentar as provas ou aqui ou na Justiça. Cabe a ele, como acusador, o ônus da prova – disse, ressaltando que ajuizou ação por calúnia, injúria e difamação contra o jornalista, que diz ter recebido R$ 40 mil das mãos do governador.
Perillo falou sobre suas administrações no governo de Goiás, que, segundo ele, registrou aumento no PIB e na geração de emprego e renda neste estado. E, a todo momento, se dizia vítima de uma “grande injustiça”. Segundo ele, muitos veículos de comunicação estão divulgando informações descontextualizadas.
Perillo diz que é contra jogos de azar
Indagado se é favorável à liberação do jogo no Brasil – a pergunta foi genérica, referente a jogos ilegais, mas sem especificar qual tipo – , o governador Marconi Perillo disse que o tema é tratado atualmente com hipocrisia.
Eu, particularmente, não jogo e sou contra o jogo. Agora, entre a hipocrisia reinante por todos os cantos e a legalização, talvez fosse melhor que uma providência como essa fosse tomada. Embora, repita, se tivesse que votar aqui no Congresso, a favor ou contra, eu votaria contra a legalização.
Grampos ilegais
O governador disse que investigação do serviço de inteligência do governo goiano indica que Perillo estaria sendo alvo de grampos telefônicos desde a sua eleição, em outubro de 2010. Ele afirmou que, por ora, só existem relatos preliminares e não identificou quem seriam os responsáveis pelos supostos grampos:
– Existem arapongas oficiais, segundo relatos preliminares, bisbilhotando e fazendo escutas ilegais desde que eu ganhei a eleição, em outubro de 2010 – disse Perillo.
Fonte: O Globo