MILTON CORRÊA

Aritapera: Minha terra natal é tema de livro

Informações da Agência Pará de Noticias dizem que, depois de ter sido lançado previamente em junho no encerramento da VI Feira Internacional de Turismo da Amazônia (Fita) deste ano, o livro Aritapera: Terra, Água, Mulheres & Cuias teve seu lançamento oficial na última quarta-feira, dia 15/08/2012, na própria comunidade de Aritapera, em Santarém, região turística do Tapajós.

O evento aconteceu no Ponto de Cultura da comunidade de Aritapera, onde foi desenvolvida uma pesquisa que deu origem ao livro, organizado pelos antropólogos Antonio Maria de Souza Santos e Luciana Gonçalves de Carvalho e que faz parte do primeiro volume da coleção Mapeamento Cultural da Região do Tapajós, desenvolvido pela Companhia Paraense de Turismo (Paratur) e pela Secretaria de Estado de Turismo (Setur), através do Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur), em parceria com o Museu Emílio Goeldi e  Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).

“Aritapera: Terra, água, mulheres e cuias” fala da importância das cuias dentro do universo amazônico e de que forma elas estão inseridas no cotidiano das comunidades ribeirinhas. A pesquisa começou em 1977, por Antonio Maria Santos.  Ele relata que de acordo com a própria comunidade, nos últimos 10 anos, a atividade vem ganhando maior destaque, resultando na crescente valorização e divulgação, passando a garantir novas opções de mercado.

Os textos tratam do artesanato de cuias em diferentes aspectos (modos de fazer, iconografia, importância econômica, cartografia), de histórias de vida de artesãs, da criação da marca coletiva adotada por um grupo de produtoras e de algumas experiências de intervenção e organização da produção e da comercialização das cuias do Aritapera.

Entre os textos selecionados estão trabalhos do próprio pesquisador e de recentes pesquisas desenvolvidas por alunos e colaboradores da Ufopa, orientados por ele e pela professora Luciana Carvalho. A antropóloga, que é professora da Ufopa, conta que nos últimos 10 anos tem sido colaboradora e articuladora dos trabalhos de valorização do artesanato das cuias do Aritapera. Ela coordena o Programa de Extensão Patrimônio Cultural na Amazônia na Ufopa.

A região do Tapajós, em especial o município de Santarém, ficou conhecida pela produção de cuias tingidas e ornamentadas. Constituída de um conjunto de comunidades numa área de várzea, a região do Aritapera tem participado, nos últimos dez anos, de diferentes projetos voltados para a valorização desse artesanato e das pessoas que o produzem – no caso, dezenas de mulheres que se dedicam a esse ofício passado de mãe para filha.

No Centro do Aritapera, um grupo de mulheres articuladas na Associação das Artesãs Ribeirinhas de Santarém, construiu, com apoio do Ministério da Cultura e de instituições parceiras, uma bela sede que funciona como um Ponto de Cultura dotado de espaços de produção, convivência, biblioteca comunitária, recepção de visitantes, exposição e venda de cuias.

 A dinamização do uso desse espaço, a partir de sua divulgação em outras comunidades ribeirinhas, na cidade de Santarém, e junto a diferentes públicos externos, é uma expectativa das comunidades que nele investiram e investem cotidianamente. Nesse sentido, o trabalho proposto pela Paratur e pelo Museu Goeldi, de inclusão do Aritapera em seu roteiro de pesquisa e divulgação turística, atende a anseios das comunidades no que diz respeito à valorização de seus modos de fazer tradicionais.

Adenauer Góes, titular da Setur, informa que além do Tapajós, onde os municípios de Belterra e Oriximiná estão inseridos nas ações do Prodetur, o Mapeamento Cultural também envolve as regiões turísticas de Belém e do Marajó. Ele adianta que até o final deste ano o Pará deve receber US$ 44 milhões oriundos de financiamento pleiteado pelo Governo do Estado junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a serem investidos no turismo. Para Socorro Costa, presidente da Paratur, não só o livro, mas outras iniciativas que valorizam o turismo paraense a partir da cultura, natureza, dos recursos de sol, praia, eventos e negócios trazem subsídios para que, com diretrizes do Plano Ver-o-Pará, a Paratur possa fortalecer suas ações de divulgação, promoção e marketing do Pará a partir do slogan “A obra-prima da Amazônia”.

As cuias de Santarém

Artesanato típico de Santarém e um dos ícones da identidade cultural do Pará, as cuias pintadas de Santarém passaram do anonimato a patrimônio cultural do Pará. Bonitas e coloridas, são feitas geralmente por mulheres. A participação dos homens acontece principalmente no processo de retirada do miolo do fruto.

Como toda cultura tem seu berço, o das cuias pintadas é a comunidade de Aritapera, situada às margens do rio Amazonas, em Santarém, Oeste do Pará. É na comunidade que, pelas mãos habilidosas de um grupo de mulheres, nascem peças do artesanato, nacionalmente conhecido como “cuias pintadas”.

Velha conhecida dos índios amazônicos que a utilizam para beber água, tomar banho no rio e até como prato, a cuia, fruto da cuieira (Crescentia cujete) ou Kuimbúka em Tupi, significa cabaça ou concha de tirar água do pote. É da casca desse fruto que há séculos índios e caboclos de Santarém fazem nascer o que hoje se conhece como artesanato das cuias pintadas. Atualmente, além da função utilitária, as cuias têm papel decorativo, tanto no Brasil quanto no exterior.

As cuias podem receber decorações gravadas, pintadas ou incisas, com formas que remetem às culturas indígenas presentes em toda a região amazônica. Hoje, por iniciativa dos próprios artesãos, o emprego das cuias também se estende a brinquedos, instrumentos musicais, máscaras, roupa de banho e acessórios, como bolsas, brincos, pulseiras. Nas barracas de venda de tacacá, elas se destacam, pois essa iguaria típica da culinária paraense é servida exclusivamente em cuias pintadas.

Tradições indígenas mantidas no processo de produção

Mas qual o processo de produção das cuias pintadas? Após a retirada da árvore, passa pela limpeza (retirado o miolo), secagem e eliminação das imperfeições (geralmente com lixa natural feita de escamas de pirarucu). Depois a cuia é tingida com o “cumatê”, tinta natural vermelho-escuro, extraída da casca da árvore conhecida como axuazeiro.

Em seguida as peças, já com a cor preta, são postas para secar sobre jiraus, onde ocorre a fixação da tinta. Nesta fase da produção entra a parte mais interessante, pois as cuias são tratadas com urina, o que permite uma aderência ainda maior da tinta nas peças. Só então as cuias ficam prontas para receber os desenhos pelas artesãs.

Engana-se quem imagina que as cuias são lavadas com urina. Um forro de palha impede qualquer contato direto das cuias com a urina, da qual apenas se extrai a amônia. Numa reação química já conhecida pelas índias há pelo menos quatro séculos, desde quando se tem notícia do fabrico artesanal das cuias pretas de Santarém. A amônia atua sobre a tintura do cumatê, enegrecendo-a por inteiro. Depois de bem lavadas e enxutas, as cuias perdem qualquer resíduo de odor de urina que possa ter ficado durante o processo e já estão prontas para serem pintadas ou para uso absolutamente higiênico.

Fonte: Defender

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