Comida deve ficar 10% mais cara este ano e pressiona inflação

O preço da maioria dos alimentos mais consumidos deve ficar mais cara

Não há para onde fugir. O preço da maioria dos alimentos mais consumidos pelos brasileiros está em franca alta, a ponto de a inflação desse grupo de produtos, que pesa mais de 20% no orçamento das famílias, ficar em 8,84% nos 12 meses encerrados em agosto, contra 5,24% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o índice oficial do país. E a estimativa é que essa inflação fique entre 9,5% e 10%, bem acima dos 7,18% registrados no ano passado.

A seca americana, que pressionou os preços no atacado de milho e soja, agora mostra seus efeitos com força no varejo. Pesquisa feita por André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostra que o custo de alimentos como frango, carne de porco, óleo de soja, massas, pão só faz crescer.

O frango subiu com a alta do preço do milho no atacado (só em agosto, o grão subiu 20,33%), o que encareceu as rações. O frango inteiro já subiu 2,02% em agosto e, nos 30 dias terminados em 7 de setembro, a alta é de 3,29%. O custo maior do trigo no atacado, reflexo de uma quebra de safra em alguns países da Ásia, fez subir o preço do pão francês (1,43% em agosto, e 2,29% nos últimos 30 dias). E a alta da soja no atacado (14,89% em agosto) elevou o preço do óleo de soja de 2,12% para 2,31% nessa comparação feita pela FGV.

— Coma alta das rações, subiram os preços das carnes de porco e de frango. A carne bovina também sente os efeitos, porque os consumidores substituem. E sem contar com alimentos in natura, como o tomate, que subiu mais de 100% em três meses — explicou Braz.

Carnes podem subir com entressafra

Mas o alívio começa a aparecer. A cotação do milho na Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio de Janeiro começa a ficar menor. A saca de 50 quilos, que era negociada a R$ 42 há uma semana, baixou para R$ 36.

A alta não se restringe à seca americana. A colheita de arroz também sofreu com problemas climáticos por aqui. Assim, o preço de um dos mais básicos alimentos da mesa do brasileiro já subiu 3,98% nos últimos 30 dias. E a pressão não deve diminuir. No atacado, a saca de 30 quilos subiu de R$ 60, há um mês, para R$ 80 nos últimos dias.

José de Sousa, presidente da Bolsa, já vê pressão dos atacadistas para subir ainda mais o preço da carne bovina:

— Nas negociações, os frigoríficos estão tentando impor aumentos de R$ 0,30 nas carnes de segunda e de R$ 0,20, nas de primeira. Em outubro e novembro, começa a entressafra e essa pressão deve aumentar.

O custo do feijão preto também não para de subir. Há um mês a saca vem sendo vendida por R$ 140. Antes disso, chegou a ser cotado a R$ 60. Esse tipo de feijão, consumido quase que exclusivamente no Estado do Rio, já subiu 45,86% nos últimos 12 meses, devido a problemas climáticos por aqui.

Leites e derivados 8% mais caros

Outro grupo dos mais importantes no orçamento alimentar, os laticínios, também está encarecendo.

— Leites e seus derivados já registram aumento de 8%, comparado a preços de 30 dias atrás — afirmou João Márcio Castro, gestor comercial da Rede Princesa de Supermercados.

Segundo Castro, há 45 dias os supermercados começam a receber tabelas majoradas da indústria:

— Mas nos últimos 30 dias, esta alta se intensificou. A carne bovina subiu cerca de 23%; a suína, 14%; e a de frango avançou em média 21% em relação há um mês. Como estamos no mês de aniversário, fazemos promoções e a demanda não caiu.

O trigo, além de sofrer os efeitos da quebra de safra na Ásia, sobe pressionado pelas altas no milho e na soja, já que também é usado nas rações, explica Elson Teles, economista do Itaú Unibanco. Para ele, a estabilidade do dólar em torno de R$ 2 não tem afetado tanto os preços.

Para 2013, há forças puxando para cima e para baixo a inflação, que deve ficar um pouco acima de 5%. Espera-se uma queda nos preços das commodities agrícolas, depois da alta forte deste ano. Porém, não haverá o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) mais baixo para automóveis e eletrodomésticos para ajudar a conter os preços. A ação do governo para baixar as tarifas de energia e desonerar mais ainda a cesta básica são pontos que podem deixar a inflação comportada. Mas o preço da gasolina vai subir, se não nos próximos meses, certamente em 2013:

— Ainda há o aumento dos ônibus urbanos. Há dois anos, a tarifa não é reajustada em São Paulo. Depois das eleições, deve subir — diz Braz, da FGV.

Teles lembra que os serviços devem subir menos. A alta do salário mínimo, que baliza as remunerações nesse setor, deve ser a metade do reajuste autorizado de 13% deste ano.

Fonte: O Globo

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