Garantido supera incidentes e vence 48º Festival Folclórico de Parintins
O Garantido superou os incidentes durante as três noites de apresentação no 48º Festival Folclórico de Parintins e se sagrou campeão pela 29ª vez na história, se consolidando como o maior campeão da disputa. Com o tema “Garantido, o boi do centenário”, a agremiação exaltou as raízes, na Baixa do São José, o fundador Lindolfo Monteverde e a tradição construída na arena ao longo de um século.
Vindos dos estados da Bahia, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Norte, os jurados deram um susto nos torcedores do boi vermelho e branco, pois, na primeira noite, o Caprichoso (419,5 pontos) saiu três décimos a frente do Garantido (419,2 pontos). Já na segunda noite de apresentações, o bumbá vermelho ganhou por cinco décimos (419,9). Na noite de encerramento da festa, o boi da “Baixa do São José” levou 420 pontos contra 419,6 do Caprichoso.
A cidade está em festa. O presidente do boi-bumá, Telo Pinto, classifou a vitória como superação. “Passamos o ano trabalhando em uma gestão diferenciada para que não se repetissem os problemas do ano passado e se tivesse a certeza da vitória. Esse é o título mais importante da história do Garantido, pois não há nada mais importante do que ser campeão no ano do centenário”, disse ao G1
Na primeira noite, o maior destaque foi uma alegoria de 19 metros de um mapinguari, figura mítica indígena, que chamou a atenção pelos detalhes mecânicos e tecnológicos. A grande estrela da festa, o Boi Garantido, surgiu em seguida em um balão de ar quente em formato de coração. O bumbá apareceu sobre a galera, mas não entrou, deixando o público na expectativa.
Outro destaque da primeira noite foi a apresentação da cunhã-poranga Tatiane Barros, que teve uma entorse no tornozelo direito, durante um ensaio, dois dias antes da primeira apresentação. No momento em que sentiu a lesão, Tatiane disse estar bem, mas após o encerramento da festa, no domingo (30), ela confessou que teve medo de não se apresentar por causa da entorse. “Tive muito medo de perder o Festival, mas graças a Deus deu tudo certo e fizemos um grande espetáculo”, disse.
Problemas com balão de ar
O Corpo de Bombeiros agiu na prevenção de acidente, pois, segundo a corporação, não foi informado que o Garantido usaria fogo nas imediações do Bumbódromo. De acordo com o tenente Ricardo Rocha, como a corporação não foi previamente alertada sobre um balão de ar quente que o Garantido levantou, não foi expedida autorização que permitisse o uso do mesmo na arena ou na área externa do Bumbódromo.
Ainda segundo o coronel Rocha, não há informações sobre qualquer determinação dos Bombeiros para que o balão, que chegou a subir, mas estava amarrado por cordas, fosse baixado, e as duas agremiações serão convocadas para uma reunião onde serão orientadas sobre os procedimentos neste tipo de situação.
De acordo com Leopoldo Mendonça, da diretoria do Garantido, o plano desde o início era subir com o balão cerca de 15 metros e depois baixá-lo, e que nunca houve a intenção de alçar voo. Segundo ele, os Bombeiros não determinaram a descida do balão.
2ª noite: resistência e fé
O Garantido exaltou o fundador, Lindolfo Monteverde, e a religiosidade da Baixa do São José na segunda noite do festival. Um dos momentos mais emocionantes da noite ocorreu logo no início da apresentação, quando Israel Paulain surgiu do alto em uma estrutura de metal. Cantando a toada ‘Vermelho’, ele estava companhado apenas por um violinista. Do alto, também surgiu Sebastião Júnior, o levantador de toadas. Ele estava em uma estrutura que tinha o formato do escudo da agremiação e que soltava faíscas nas extremidades. Com o apoio da galera do ‘Boi do Povão’, o Bumbúdromo tremeu ao som da toada ‘Meu eterno Garantido’.
A batucada do Garantido entrou na arena conduzida pela família Monteverde, descendentes do fundador do boi da ‘Baixa do São José’. O Amo do Boi, Tony Medeiros, cantou versos contando a história de Lindolfo. Israel Paulain foi além, e falou diretamente sobre a criação do centenário do Garantido. Um dos brincantes trouxe um boi semelhante ao que Lindolfo brincava aos 11 anos e que mais tarde daria origem ao ‘Boi do Povão’.
O ‘Boi da fé’ apareceu em uma canoa, dentro de uma alegoria que representava São Pedro, o padroeiro dos pescadores, em homenagem que seguiu com uma alegoria que representava a vila de canoeiros, ícone da origem humilde do Garantido.
Na sequência, Sebastião Júnior iniciou a clássica toada ‘Lamento de Raça’, tocando uma flauta indígena, o que levou a parte vermelha do Bumbódromo ao delírio.
No item Lenda Amazônica, o Curupira trouxe uma alegoria gigante repleta de detalhes tribais, de onde surgiu a cunhã-poranga Tatiane Barros, que foi suspensa a cerca de 10 metros. Um imprevisto assustou integrantes que se apresentavam. Parte da alegoria acabou pegando fogo, produzido por mecanismos que continham faíscas. Bombeiros que estavam na arena no momento do incidente controlaram as chamas rapidamente. Não há informações sobre feridos.
Em um dos pontos altos da noite, Israel Paulain e Sebastião Júnior se juntaram à galera, seguindo com a apresentação que celebrava o centenário com a clássica toada ‘Vermelho’, composta por Chico da Silva e eternizada na voz de Fafá de Belém.
3ª noite: Tradição
Na última apresentação, o Boi de Lindolfo levou pra arena a resistência e consagração da agremiação, ressaltando a tradição construída ao longo dos festivais. A apresentação do Garantido começou completamente apoiada na ‘galera’. O apresentador Israel Paulain, e o levantador de toadas, Sebastião Júnior, inflamaram a massa vermelha, que logo dominou o espetáculo.
Com o apoio da Batucada, um Garantido gigante adentrou a arena, cercado por outras alegorias que exaltaram o folclore. De repente, o boi gigante, que inicialmente era apenas uma alegoria fixa, ganhou movimentos, encantando o Bumbódromo.
Um dos pontos altos da noite foi a apresentação do levantador de toadas Sebastião Jnior, o qual interpretou ‘Tambor’, deixando o Bumbódromo em silêncio por alguns segundos. Na sequência, a porta-estandarte do Garantido, Verena Ferreira, desceu do céu, em uma estrutura metálica de formato redondo, lembrando o esplendor do sol, em plena madrugada.
A galera do Garantido também fez um espetáculo à parte. Israel Paulain convocou a arquibancada a cantar com a batucada, e durante a toada ‘Miscigenação’, o Bumbódromo vibrou com a interação entre os intens do boi vermelho.
Mais problemas com alegorias
Uma alegoria do boi Garantido teve um princípio de incêndio na noite deste domingo (30), último dia do Festival Folclórico de Parintins. Esta é a segunda alegoria do boi vermelho e branco que pega fogo nesta edição da festa. No último ano, o boi sofreu com o mesmo problema.
A alegoria, que representa o ritual Ofoié, já estava na arena quando ocorreu o incidente. No entanto, o Corpo de Bombeiros controlou as chamas e ninguém ficou ferido.
Nova tentativa com o balão
Devidamente regular desta vez, o balão de ar quente foi utilizado pelo Garantido para fazer com que o boi chamasse a atenção da parte de dentro da arena, mesmo estando do lado de fora. O ato aconteceu já no fim da apresentação, quando a galera vermelho e branca teve sua participação mais marcante, tirando as camisas e rodando no ar, em um encerramento digno de uma instituição centenária.
Fonte: G1