‘Se as empresas brasileiras falharem, estrangeiras ocupam’, diz diretora-geral da ANP
O noticiário sobre os problemas enfrentados pelo grupo X, de Eike Batista, e pela HRT não devem afetar o apetite do mercado pelo leilão — cujo edital deve ser publicado amanhã — dos primeiros blocos do pré-sal a serem licitados exclusivamente pelo regime de partilha em outubro. A avaliação foi feita ao GLOBO pela diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Magda Chambriard, horas depois de desembarcar em Londres para conversas com investidores. “Certamente a natureza não gosta de espaços vazios. Se as empresas brasileiras falharem, esse espaço será ocupado pelas estrangeiras”.
Quais as perspectivas para a nova rodada diante dos problemas do Grupo X e da HRT?
No road show de Cingapura, não vi ninguém muito preocupado com isso.
O grupo X foi audacioso na última rodada. Isso não pode influenciar o mercado agora?
Quem mais comprou blocos foi a Petrobras (mais de 30), que abriu mão da operação de alguns. E o segundo lugar foi a Petra. Isso é tão pequeno. Tivemos 30 operadores A qualificados para a 1ª rodada. Até a HRT foi A e, na época, não concordei. Diria que foi uma compreensão do edital que deixou uma brecha, que espero fechar agora. Mas foi muita gente.
Qual será o interesse?
Esse edital vai despertar um interesse tão diferente, que será do mundo todo. Em Tupi, falava-se de cinco a oito bilhões de barris de óleo equivalente, ou seja, óleo mais gás. Agora, está em seis bilhões. Em Libra são de oito a 12 bilhões só de óleo, fora o equivalente. Ou seja, é mais ou menos o dobro de Tupi. A camada é mais espessa. A exploração, mais eficiente. Tupi está a 250km da costa. Este está a 170km. Libra é tão melhor que Tupi… Como alguém vai achar que não vai ter interesse?
Do ponto de vista dos brasileiros, tem a Petrobras, mas não esses outros dois…
Mas tem a Queiroz Galvão, que está muito sólida. A gente fala do grupo X, que enfrenta essas dificuldades todas. A HRT nem vou comentar, porque, para mim, nem era A. Porém, (o grupo X) cumpriu todas as exigências até agora para a 11ª rodada. Vamos ver como será na garantia do programa exploratório mínimo na assinatura do contrato. Até agora estão cumprindo as exigências: qualificaram-se técnica, econômica e financeiramente direitinho.
O grupo X está se qualificando e pode participar desta nova rodada do pré-sal?
A qualificação ainda não começou porque precisa do edital. Vou extrapolar. O que a gente vai fazer agora? Olhar se a qualificação que todos submeteram está dentro do prazo. Pedimos balanço assinado por auditor independente dos últimos três anos. Para a 11ª Rodada, eles (grupo X) submeteram. Dependendo da data que submeteram o balanço e da data do balanço, até serve para esse. Mas não posso dizer se serve ou não, porque não me lembro quando foi. Acho que aí tem espuma demais. Tinha espuma demais antes, quando diziam que eram grandes demais. Sou muito cautelosa com essas afirmações. Gosto de olhar passo a passo o que as empresas estão fazendo. E eles furaram muito, mais de 100 poços e, para a ANP, sob este ponto de vista foi ótimo. Sempre digo, ninguém tem bloco da 9ª rodada. Só eles. Descoberto com declaração de comercialidade.
E esses blocos que para os quais o grupo X entregou a declaração de comercialidade que, agora, diz não ter tecnologia para explorar?
Ainda não vi dentro da ANP porque estou viajando. A declaração de comercialidade é um ato unilateral. O que a gente faz é analisar o óleo no local, ver se tem o que diz que tem, analisar o limite do campo para saber se ele está retendo mais área ou não, etc. Temos seis meses para isso. Depois, o concessionário tem mais seis meses para submeter o plano de desenvolvimento e, em seguida, temos mais tempo para fazer a análise. Esse prazo não expirou. Então, essa espuma toda que fizeram… Isso está ainda totalmente dentro do nosso prazo de análise.
Então, o que está acontecendo com o grupo X está sendo superdimensionado?
Tudo o que envolve o Eike se torna grande demais na mídia. Temos que tomar muito cuidado. Sem dúvida nenhuma, minha percepção é que, realmente, ele gasta demais. Mas, no que diz respeito à ANP, até agora, o gastar demais tem sido bom, porque ele furou muito e a gente quer que fure.
Onze das 20 empresas de América Latina e EUA que mais perderam em bolsa são brasileiras, incluindo grupo X e HRT. Isso é sinal ruim ou outras veem como vácuo a ser ocupado?
A natureza não gosta de espaços vazios. Se as empresas brasileiras falharem, esse espaço será ocupado pelas estrangeiras. Mas isso vai na direção oposta de uma percepção ruim de mercado, vai na linha de que é preciso aproveitar um nicho. As companhias, antes de darem lances, fazem trabalho de inteligência competitiva. Não querem demonstrar interesse, porque, se o fizerem, aumenta a oferta.
A crise europeia aumenta o apetite pelo Brasil, onde o retorno é maior?
Esse negócio de crise nem está sendo levado em conta. Companhia de petróleo atua em área com guerrilha, furacão, gelo. Imagina com direito a morar em Ipanema e beber água de coco…
Fonte: O Globo