PT tenta conter Lindbergh e salvar aliança com Cabral no Rio
Preocupado com a reeleição da presidente Dilma Rousseff e com a manutenção do apoio do PMDB, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), pré-candidato ao governo do Rio de Janeiro, para uma conversa ontem em São Paulo, de acordo com petistas, para tentar conter os ataques ao governador Sérgio Cabral. Lindbergh será a estrela de inserções regionais do PT, que vão ao ar a partir de hoje no rádio e na TV, com críticas à gestão de Cabral.
O pré-candidato petista confirmou ao GLOBO a viagem a São Paulo, na tarde de ontem, mas afirmou que não chegou a se encontrar com o ex-presidente, por causa de problemas de agenda de Lula. Em outra frente, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, pretende desembarcar em Brasília amanhã para tentar conter o ímpeto de Lindbergh.
O senador quer que o partido lance sua candidatura até outubro e desembarque, antes disso, do governo Cabral. A direção nacional do PT considera esse calendário precipitado e quer segurar a aliança entre os dois partidos pelo menos até o fim do ano.
Temor de represália
Um dos argumentos utilizados por dirigentes nacionais do PT é que seria oportunismo desembarcar do governo agora que Cabral está com alto índice de rejeição. E fazem um paralelo com a queda de popularidade da gestão Dilma, afirmando que a atitude poderia servir de exemplo para que o PMDB faça o mesmo caso a avaliação do governo federal piore ainda mais.
No início do ano, já houve uma crise por causa das inserções regionais de televisão do PT no Rio, que foram ao ar em fevereiro. Lula não gostou do tom adotado por Lindbergh nos programas, principalmente a sugestão de que o governo Cabral não seria voltado para os pobres.
— Você combina com o João Santana e fica parecendo que eu aprovei — reclamou Lula, na ocasião, referindo-se ao marqueteiro responsável por sua campanha à reeleição, pela campanha de Dilma e pelas inserções do partido no Rio.
Nessa bronca, Lula ainda reclamou do fato de Lindbergh não ter mostrado as inserções de televisão nem para a direção regional do partido antes que elas fossem exibidas na TV. No PT, a especulação era que o senador tinha ido a São Paulo porque Lula queria ver, desta vez, as inserções antes que elas fossem ao ar, mas os programas já haviam sido entregues às emissoras de TV. Segundo petistas, esse seria o motivo do suposto cancelamento do encontro.
No total, o PT terá dez inserções de 30 segundos cada, hoje, sexta, segunda e quarta-feiras. Em todas, Lindbergh será uma espécie de “âncora” e conduzirá o programa. Coordenadas por João Santana, as peças não usarão imagens das manifestações de junho, mas apresentarão os problemas enfrentados na administração de Cabral e cobrados nas ruas, como as áreas de Transporte e Saúde. A concessão do Maracanã também será lembrada.
— Posso adiantar que o discurso não será de um PT que faz parte da base aliada do PMDB. Vamos falar dos problemas do Rio, mas não citaremos Cabral nominalmente. Lindbergh vai mostrar que o Rio pode melhorar — diz um integrante da equipe do programa.
Por interferência da direção nacional do partido, o PT adiou a reunião da Executiva do Rio que estava marcada para anteontem. Na ocasião, aproveitando a queda de popularidade de Cabral, a maioria da Executiva pretendia votar pelo desembarque imediato do governo do estado. Segundo deputados do PT, foi Rui Falcão quem pediu a Lindbergh para suspender a reunião. Os petistas ocupam duas secretarias: a do Ambiente e a de Assistência Social e Direitos Humanos.
Programa do PMDB não terá Pezão
Lindbergh quer que o vice em sua chapa seja do PSB, do PCdoB ou do PDT. Já Falcão ainda sonha que a vaga seja ocupada pelo PMDB.
— Não tenho apego ao cargo. Na hora em que tiver de acompanhar o partido, eu vou. Mas nem um minuto antes nem um minuto depois. Vou sair na hora em que o partido decidir. Não sou um atirador por conta própria — afirmou Carlos Minc, secretário estadual do Ambiente.
O esforço da direção nacional do PT é para que o lançamento da candidatura de Lindbergh seja o menos traumático possível em relação ao PMDB, possibilitando que a presidente Dilma tenha dois palanques no estado.
A partir da próxima segunda-feira, o PMDB também exibirá sua propaganda partidária no Rio, que está sendo criada pelo marqueteiro Renato Pereira. Ao contrário das peças anteriores, Pezão não deverá ser a estrela principal. O objetivo do PMDB é evitar um desgaste em sua pré-campanha. Cabral, avalista eleitoral de Pezão, é o principal alvo dos protestos atualmente e é o pior entre os 11 governadores avaliados pelo Ibope.
Fonte: O Globo