Escavações de Belo Monte guardam fósseis de 420 milhões de anos
Mais do que energia elétrica, a Usina Hidrelétrica Belo Monte, construída no Pará pela Norte Energia S.A, trabalha para enriquecer, definitivamente, o acervo cultural brasileiro na área da paleontologia – ciência que estuda a vida passada na Terra. O Programa de Salvamento do Patrimônio Paleontológico da UHE Belo Monte já identificou centenas de fosseis, restos de plantas e sinais de vida passada, quando a área onde está sendo construída a Casa de Força Principal nada mais era do que um grande oceano. Os restos de peixes primitivos, corais, plantas, pegadas, túneis de animais que viviam abaixo do solo, conchas de animais marinhos diversificados (Braquiópolis) datam de 420 milhões de anos atrás. Pelo menos duas espécies encontradas até agora não foram identificadas no acervo científico mundial.
A iniciativa de criar um programa específico para salvar e preservar o acervo paleontológico na área da UHE Belo Monte foi do governo brasileiro e da Norte Energia S.A., que incentiva e cumpre com os estudos de preservação previstos no Projeto Básico Ambiental (PBA), dado o volume de detonação de rocha e escavação. Toda retirada realizada no sítio Belo Monte, em parte do Travessão 27 – estrada que dá acesso aos canteiros de Canais e Pimental – e nos arredores de Altamira, mais precisamente à frente do Batalhão do Exército e próximo ao aeroporto, é acompanhada por um paleontólogo de empresa contratada da Norte Energia. Um deles é o coordenador do programa, Henrique Zimmermann Tomassi. “O material encontrado até agora é o suficiente para garantir, no mínimo, dez teses de doutorado”, comemora.
O trabalho começou em julho de 2011 e vai durar cinco anos. Todo material encontrado, inclusive as espécies possivelmente não catalogadas, será encaminhado para instituições de pesquisas. O mais provável é que o acervo seja entregue ao Museu Paraense Emílio Goeldi – um dos mais importantes centros de estudos científicos do Brasil, com sede em Belém, capital do Pará. A ideia é manter esse material no Estado do Pará e fortalecer esse tipo de estudo científico no Norte do Brasil.
O trabalho é feito em áreas específicas porque apenas as rochas sedimentares, formadas grãos comprimidos durante muito tempo e com muita intensidade, são capazes de guardar restos orgânicos e demais sinais de vidas passadas. Os sítios Canais de Diques, Pimental e Bela Vista são compostos por rochas metamórficas, constituídas por outro processo de formação. As detonações feitas em Belo Monte facilitam, ainda, o acesso ao acervo paleontológico na região norte do país. “Aqui (na Amazônia) é sempre muito difícil entrar na mata, na floresta, e chegar ao lugar onde estão estocadas as rochas sedimentares. Por isso Belo Monte proporciona, para a ciência paleontológica, uma oportunidade única, rara e rica em conhecimento”, explica Zimmermann.
Para aguçar o conhecimento e alertar quanto ao cuidado no manuseio do material retirado em Belo Monte, a Norte Energia apresenta parte do material coletado até agora em exposições itinerantes, nos canteiros de obra. Em Belo Monte, as fotos e informações foram expostas na área externa do refeitório, onde pelo menos 8 mil pessoas passam diariamente. Chance única descobrir que, junto com a terceira maior usina hidrelétrica do mundo, cada trabalhador contribui, também, para diminuir a distância brasileira na área da paleontologia em relação a outros países do mundo. “Belo Monte entra num rol privilegiado de áreas brasileiras ricas em material paleontológico, como a Chapada do Ararapi, na divisa entre Fortaleza e Pernambuco; e Corumbá, no Mato Grosso. Quem ganha com isso, é o povo brasileiro, a ciência brasileira”, conclui o peleontólogo Henrique Zimmermann.
Nas obras de Belo Monte, a exposição começou pelo Núcleo de Recursos Humanos, dentro da cidade de Altamira. O acervo já passou também pela Vila Residencial e sítio Belo Monte. Ainda este mês chegará aos sítios Canais e Diques e Pimental. Num futuro próximo, o programa prevê a apresentação do acerco paleontológico em escolas da rede pública e privada de Altamira e demais cidades da área de influência da Usina Hidrelétrica Belo Monte.
Fonte: RG 15/O Impacto e Karina Pinto