Obama admite suspender ataque se Assad abandonar armas químicas
Depois de o secretário de Estado americano, John Kerry, afirmar que a Síria deveria entregar suas armas químicas para controle internacional, foi a vez do presidente americano, Barack Obama, confirmar, em entrevista à rede NBC, que iria colocar os planos para ataques aéreos em espera, caso o regime do ditador Bashar al-Assad entregue suas armas químicas. Pela primeira vez, o presidente também admitiu estar “pouco confiante” na aprovação da intervenção militar no Congresso, mas se esquivou de confirmar se iria adiante mesmo sem apoio.
As declarações foram feitas em entrevistas gravadas por Obama durante a tarde desta segunda-feira – ele falou com as seis emissoras do país. À CNN, o presidente afirmou que, mesmo não resolvendo o problema da guerra civil, a proposta de Kerry era “potencialmente” positiva devido à ameaça de ataque. E afirmou que a oferta russa é fruto da pressão imposta pela ameaça de intervenção militar americana.
– Acho que inicialmente você tem que considerá-la com ceticismo. Mas é algo que protege nossas tropas nos cenários mais difíceis. Suspeito que alguns aliados de Assad reconhecem que ele cometeu um erro ao usar essas armas – afirmou, acrescentando que Kerry iria explorar com a Rússia o quão séria é a oferta. – É um desdobramento potencialmente positivo quando os russos e os sírios fazem gestos na direção de lidar com armas químicas, é o que temos pedidos há meses e anos. Tenho que dizer que é improvável que chegássemos a este ponto sem uma ameaça militar crível.
Obama, que enfrenta uma luta árdua para conseguir a aprovação dos legisladores americanos sobre uma ação militar na Síria, também reconheceu que tem dúvidas sobre o resultado. E confirmou que não se decidiu se vai avançar caso o Congresso não aprove sua proposta.
– É justo dizer que eu ainda não decidi. Eu não diria que estou confiante – disse à NBC.
Um comentário confuso do secretário de Estado americano causou uma reviravolta diplomática e um profundo embaraço para os Estados Unidos nesta segunda-feira. A sugestão de John Kerry de que, como forma de evitar um ataque, a Síria deveria entregar suas armas químicas logo ganhou adesão da Rússia, do próprio governo sírio, da ONU, de aliados (como a França) e até de parlamentares republicanos nos EUA.
Conversas com presidente russo
Ao programa PBS NewsHour, Obama afirmou que discutiu uma potencial solução diplomática com o presidente russo, Vladimir Putin, quando se encontraram na semana passada para falar da crise durante a cúpula do G-20.
– Eu tive essas conversas. E essa é uma continuação das conversas que tive com o presidente Putin por algum tempo.
Uma nova pesquisa de opinião, encomendada pelo jornal americano USA Today ao Pew Research Center e divulgada nesta segunda-feira, mostra que 63% dos entrevistados são contra uma ação militar no país do Oriente Médio, enquanto somente 28% são a favor. A situação também fica crítica quando a amostragem se estende aos parlamentares. Segundo o jornal, somente 44 dos parlamentares ouvidos seriam a favor do ataque e 149 ainda não se convenceram de que a ação militar é o melhor a se fazer no caso da crise síria.
Também nesta segunda-feira, o democrata Harry Reid, líder da maioria no Senado americano, afirmou que a votação programada para quarta-feira, que deveria decidir sobre uma ação militar, pode ser adiada. A medida, de acordo com a imprensa americana, aparentemente foi tomada em coordenação com a Casa Branca.
Fonte: O Globo