No meu tempo de adolescente…
No meu tempo de adolescente a família era a base da moralidade e do respeito, onde os filhos pediam as benções dos pais com o tradicional ‘beija mão’, pelos menos ao deitarem e aoacordarem. Os filhos eram admoestados, muitas das vezes, com um simples olhar dereprimenda, o que era o suficiente para demovê-los de qualquer ato de desobediência. Todos na casa davam uma parcela de participação nos labores da mesma, daí não sobrar tempo para o alcoolismo, drogas ou amizades que levam ao caminho do mau, modo de ser muito diferente do atual, quando não se consegue mais distinguir a autoridade dos pais em várias famílias, os filhos não obedecem ninguém e, se por acaso, resolverem desenvolver alguma atividade, não poderão fazê-la, pois as leis e as autoridades os proíbem de trabalhar, por serem menores, mesmo que a ociosidade lhe abram os caminhos da criminalidade.
No meu tempo de adolescente a Igreja era caminho obrigatório de orações e o padre o conselheiro, o orientador, o exemplo de vida retilínea, enfim, o representante de Deus que transmitia admiração e respeito, enquanto atualmente, ser padre é não ser distinguido pela batina preta; – atualmente muitos deles já nem querem se paramentar para os atos da Igreja – é se misturar à multidão com um comportamento, muitas vezes, pouco recomendáveis; e, finalmente, ministrar sacramentos que, na verdade, muitos nem têm o direito, sequer, de se dizer, católicos.
No meu tempo de adolescente existia a figura do médico da família, que era aquele profissional da saúde que fazia visitas domiciliares aos seus doentes, apadrinhava filhos dos pacientes, conhecia os hábitos de quase todos, e dava diagnóstico com simples apalpação sem a necessidade de tantos exames, hoje exigidos.
No meu tempo de adolescente ser advogado era integrar uma classe privilegiada e de admiração, sempre voltado para fazer justiça se ligando muito mais no seu mister de defesa dos interesses dos desprotegidos, sem se apegar somente ao dinheiro, às vezes sem ser sequer fruto do seu trabalho. Os causídicos daquela época faziam da beca o símbolo da luta pelo direito e a capa da lisura, da honestidade e do respeito que impunham a todos. Hoje a profissão se banalizou, o compromisso de inscrição na OAB virou, para muitos, letra morta, a postura se despiu de vários, e a ambição é a bandeira que muitos empunham sem ceder lugar às qualificações mais positivas de uma bela profissão.
No meu tempo de adolescente o professor era o mestre, o ente que sabia quase tudo. E a figura que guardamos na memória como sendo aquele que nos ensinou os primeiros passos do conhecimento e do saber. Ao adentrar na sala de aula era recebido com respeito e, não raro, com certo temor. Hoje, os coitados dos professores vivem estressados pelos parcos salários que recebem, amedrontados com certos alunos, viciados, mal educados pelos pais que já não podem sequer fazer menção de dar uma palmadinha, quanto mais fazê-los obedecer e respeitar o professor.
No meu tempo de adolescente as famílias se visitavam, batiam papos nas calçadas despreocupadamente, se ajudavam mutuamente, almoçavam na casa dos compadres, iam à missa aos domingos em grupo. Atualmente não se vê mais ninguém papeando nas calçadas, os bandidos e a televisão lhes tiraram este direito, o compadrio já nem existe mais, salvo para cumprir dogma da igreja.
No meu tempo de adolescente o almoço era feita à mesa com toda a família e ali se colocava a conversa em dia, se diziam brincadeiras, se tratavam de coisas sérias, mas todos se comunicavam, o que hoje já não acontece mais, pois todo mundo, em qualquer hora, em qualquer lugar está ligado na internet com o telefone acionado como se fosse um objeto extraterrestre, visto que, ninguém olha de lado ou desvia o olhar do seu aparelho. Mais parecem robôs ligados num objeto pequeno que teve a força de maquinizar toda afamília, tornando seus membros alheios uns aos outros.
No meu tempo de adolescente sair à rua, passear com os filhos e conversar nas praças era forma de lazer que se fazia despreocupada. Também pudera! Naquele tempo não tínhamos a bandidagem de hoje, não se falava em sequestro, em drogas, em assaltos ilimitados, em estupros corriqueiros e em impunidade.
No meu tempo de adolescente nem se conhecia direito o termo corrupção, pois um servidor público, um político, um juiz ou um policial, era sinônimo de destaque, de honestidade e deprestígio. Nos dias atuais, já não se confia em ninguém, a corrupção se alastrou em todos os escalões a ponto do corrupto ou corruptor se ufanarem dos seus atos e se ofenderem com quem os condena, de forma que a desonestidade não é mais uma mácula em quem a pratica, mas um forma de viver e enriquecer rápido.
No meu tempo de adolescente fazer uma faculdade – este era o termo da época – era algo muito difícil e, muitas das vezes impossível, exigindo muita dedicação e estudo. Durante o curso, o aluno teria que ler autores variados, desde romances até as obras clássicas que, pelo conteúdo, tinham algum liame com a faculdade escolhida. Assim, ao concluir o curso o aluno estava bem versado nas disciplinas estudadas. Sabia escrever bem, falar de forma escorreita, com um bom conhecimento teórico e prático. Já na atualidade, as graduações – como chamam hoje – são feitas na pressa, com professores mal pagos e despreparados, sem leituras de obras correlatas, sendo o alunado egresso de uma formação secundária de baixa qualidade. Resultado: maus profissionais que vão cuidar das edificações, da saúde, dos interesses econômicos ou da liberdade de pessoas e empresas. Enfim, bacharéis de várias profissões com pouco saber. Claro que existem exceções, mas o quadro mais amplo é este, os cursos visam mais o dinheiro que a qualidade de ensino.
No meu tempo de adolescente eu nunca imaginei que o futuro seria tão complicado, sem valores morais, sem justiça e sem nada que lembre os tempos bons!
Por: Dr. José Olivar / joseolivar@oi.com.br
Dr. José Olivar, parabéns, texto maravilhoso. Realmente no seu tempo de adolescente, e no meu também, era bem melhor e nem faz tanto tempo assim, mas a mudança foi brutal, infelizmente pra pior. Que pena!