Morte de casal – Polícia desvenda crime e prende assassinos

Raimundo Monteiro, Rayfran das Neves, Osimar Rodrigues e Luis Carlos, foram presos
Raimundo Monteiro, Rayfran das Neves, Osimar Rodrigues e Luis Carlos, foram presos

A Polícia Civil apresentou, no último fim de semana, quatro presos por envolvimento em três mortes e uma tentativa de homicídio, ocorridas no último dia 5, no interior do Estado, como resultado das investigações feitas pela equipe de policiais civis da Divisão de Homicídios. Um dos presos é Rayfran das Neves Sales, 38 anos, condenado pela morte da missionária norte-americana Dorothy Stang, crime de repercussão internacional ocorrido em 2005, em Anapu, sudoeste do Pará.

Ele estava, desde junho do ano passado, em prisão domiciliar determinada pela Justiça do Pará. Os demais presos são Raimundo Fernando Ferreira Monteiro, conhecido como “Gordo” ou “Ritchie”; Osimar Lobato Rodrigues, 30 anos, e Luís Carlos do Carmo Lopes, 27. As vítimas são o casal Evalso Fagundes da Silva e Luana de Cássia Castro e Silva e os amigos Leandro Kestring de Vargas e Joseane Noronha Santos. Dos quatro, apenas Luana Silva sobreviveu. Evalso foi morto com um tiro na cabeça em um ramal, à altura do km-24, da Alça Viária, em Acará. Leandro e Joseane também foram mortos a tiros, na zona rural de Tomé-Açu. Os crimes estão ligados ao tráfico internacional de drogas.

Luana de Cássia sobreviveu ao atentado, após se fingir de morta. Luana estava com seu companheiro Evalso, morto com um tiro na cabeça. Ela foi atingida por dois disparos, mas não morreu. O Depoimento de João Vargas, pai de Leandro, também foi fator que ajudou desvendar o crime. Leandro passou mensagem pelo WHAT SAPP: “Pai, se acontecer alguma coisa comigo, estou em companhia de Rayfran das Neves Sales”.

Os fatos foram divulgados em entrevista coletiva na sede da Divisão de Homicídios, em Belém. Participaram os delegados Claudio Galeno, diretor da DH; Ione Coelho, diretora de Polícia Especializada; Marco Antonio Oliveira; MacDowell Fortes; Maria Lúcia Santos e Eduardo Rollo, que participaram das investigações.

Segundo Claudio Galeno, inicialmente, foi instaurado inquérito para apurar a morte de Evalso e a tentativa de homicídio de Luana. Ela continua internada em um hospital de Belém e seu estado de saúde é considerado instável. Uma bala atingiu a coluna vertebral. Luana corre risco de fiar paraplégica.

Leandro Vargas e Joseane Noronha foram assassinados em queima de arquivo
Leandro Vargas e Joseane Noronha foram assassinados em queima de arquivo

O delegado Marco Antônio Oliveira, responsável pelo inquérito, iniciou as investigações sobre o caso que foi o primeiro a chegar ao conhecimento da equipe de policiais civis. Depois que foi estabelecida ligação entre os casos, os inquéritos foram juntados. Durante as investigações, o delegado tomou depoimento de Luana de Cássia, cujas informações foram fundamentais para elucidação dos crimes. A vítima recebeu dois tiros, um nas costas e outro de raspão no rosto, e permanece internada no Hospital Metropolitano em Ananindeua.

WHATSAPP AJUDOU A ESCLARECER CRIME: No último dia 6, vieram à tona notícias sobre o desaparecimento dos jovens Leandro e Josiane, que teriam ido de carro desde a cidade de Rurópolis, no Oeste do Pará, com destino à Belém.

Quatro dias após o fato, o pai de Leandro Vargas foi até a Delegacia de Pessoas Desaparecidas, situada na Divisão de Homicídios, em Belém, para registrar o boletim de ocorrência sobre o desaparecimento do filho.

O pai de Leandro foi ouvido pela delegada Maria Lúcia, titular da Delegacia, a quem informou ter recebido uma mensagem enviada pelo filho via aplicativo de celulares WhatsApp, na noite de 5 de setembro, por volta de 23 horas. Nela, a vítima escreveu a seguinte mensagem: “Pai, se acontecer alguma coisa comigo, estou em companhia de Rayfran das Neves Sales”, citando o nome do pistoleiro que matou a missionária Dorothy Stang. A partir dessa informação, a equipe policial começou a fazer ligações entre o sumiço dos jovens e o ataque a tiros ao casal. Em depoimento, o pai de Leandro confirmou que o filho conhecia Evalso.

Essas informações foram os pontos iniciais para fazer a conexão entre os dois casos. “As investigações mostraram que os crimes tinham relação com o tráfico internacional de cocaína”, destacou Galeno. Ele explica que Evalso e Luana eram intermediários no tráfico de uma carga de 50 quilos de cocaína que seria levada, inicialmente, da Bolívia até o Estado de Mato Grosso. Depois, a droga seria trazida para Belém. No último dia 5, o casal se encontrou com Rayfran, Luís Carlos e Raimundo Fernando, em Belém. Todos juntos seguiram em um carro alugado com destino à cidade de Tailândia, Sudeste do Pará, por volta de 11 horas, para se encontrarem com Leandro Kestring para receber a droga. Para fazer a viagem, Luís Carlos chamou o comparsa, Osimar Rodrigues, com objetivo de alugar um carro”, declarou.

Por sua vez, Leandro foi contratado como “mula” por Rayfran e outros traficantes de drogas, de Belém, para receber no Estado de Mato Grosso o carregamento com a droga e leva-lo até a Vila Palmares, em Tailândia, onde a droga seria entregue ao casal Evalso e Luana, e aos demais. Raimundo Fernando, o “Gordo”, foi contratado como segurança dos traficantes.

Na ocasião, Leandro convidou a amiga Josiane para acompanhá-lo durante a viagem feita no próprio carro dele. Porém, a caminho de Tailândia, por volta de 19 horas, na estrada da Alça Viária, Luís Carlos e os comparsas decidiram matar o casal.

Evalso recebeu um tiro na cabeça dado por Luís Carlos. Já Luana foi atingida por dois disparos, mas não morreu porque se fingiu de morta. Depois, os criminosos resolveram abandonar o carro em um ramal perto da Alça Viária, pois o veículo ficou atolado no local. Após a fuga dos criminosos, Luana conseguiu pedir socorro na estrada e foi levada até o Hospital. Rayfran, Raimundo Fernando e Luís Carlos seguiram até Tailândia, onde se encontraram com Leandro e Josiane. Foi nesse momento que Leandro enviou a mensagem ao pai, pois suspeitava que poderia ser morto. As vítimas foram levadas de carro até um ramal, na zona rural de Tomé-Açu, onde foram alvejados a tiros e depois tiveram os corpos abandonados no local. O carro de Leandro foi queimado. O corpo de Leandro, que era conhecido como Lourinho, foi encontrado, no domingo, dia 7, e o de Josiane no dia seguinte. Ambos estavam perto de um igarapé, na zona rural em Tomé-Açu.

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João Vargas (pai de Leandro) e Luana de Cássia (sobrevivente) ajudaram a desvendar crime
João Vargas (pai de Leandro) e Luana de Cássia (sobrevivente) ajudaram a desvendar crime

o dia seguinte, Luís Carlos procurou Osimar para lhe pedir que fizesse uma ocorrência falsa de assalto, alegando que o carro alugado teria sido roubado, o que foi feito por Osimar. Na segunda-feira, Luís Carlos e Rayfran pagaram R$ 260 a Osimar mais R$ 1,5 mil para que ficasse em silêncio, com a promessa de que lhe dariam mais dinheiro. Durante as investigações, Osimar foi chamado para prestar depoimento, no qual reafirmou que o carro alugado, encontrado no ramal da Alça Viária, teria sido roubado no bairro da Pedreira, em Belém. “Desde então, ele passou a figurar como suspeito de envolvimento no crime”, detalhou Cláudio Galeno.

AS PRISÕES: No curso das investigações, os delegados Marco Antonio Oliveira e MacDowell Fortes, da Divisão de Homicídios, em atuação conjunta com a Vara de Combate ao Crime Organizado do TJ do Pará e do GAECO (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público do Estado, conseguiu obter os mandados de prisão temporária de 30 dias dos acusados. Os mandados judiciais foram cumpridos, no dia 19. Rayfran foi preso no momento em que chegava em sua casa, no bairro da Cremação, por volta de 6h da manhã. Raimundo Fernando, o “Gordo”, foi preso, no bairro do Guamá, em Belém, onde reside, por volta de 11 horas. Luís Carlos foi preso, no bairro do 40 Horas, em Ananindeua, por volta do meio-dia. Com ele, uma pistola calibre 380 foi apreendida e assim ele foi autuado por porte ilegal de arma de fogo.

A arma foi encaminhada para perícia de comparação balística no Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, sob suspeita de ser a mesma usada nos crimes. Osimar, o outro envolvido no crime, estava preso desde o último dia 13, quando foi preso, em uma casa no município de Igarapé-Miri, junto com outros comparsas, armados e com drogas. Ele estava recolhido no centro de Triagem da Cidade Nova. Após passarem por perícia de corpo de delito, os presos foram levados a unidades do Sistema Penitenciário para ficarem recolhidos à disposição da Justiça. As investigações prosseguem para apurar o envolvimento de outras pessoas nos crimes. Com informações e fotos de Adécio Piran.

Por: Manoel Cardoso

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