Ministério Público investiga máfia do TFD

Promotor Túlio Novaes diz que falta de acompanhamento de gestores se consolida grave irregularidade
Promotor Túlio Novaes diz que falta de acompanhamento de gestores se consolida grave irregularidade

A superlotação no complexo do Hospital Municipal de Santarém (HMS) e do Pronto Socorro Municipal (PSM) devido a grande demanda de pacientes com casos simples, que vêm de outros municípios da região Oeste do Pará em busca de tratamento preocupa o Ministério Público Estadual (MPE).

Em fevereiro de 2013, inconformado com a falta de acompanhamento de centenas de pacientes por parte dos gestores de seus municípios de origem, o então vereador Paulo Gasolina (DEM) fez o pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), para apurar o que chamou de “Máfia do TFD”, se referindo à falta de pagamento do beneficio do Tratamento Fora de Domicílio, pelas prefeituras circunvizinhas ao pólo Santarém.

Para o Promotor de justiça, Dr. Túlio Novaes, a falta de acompanhamento dos gestores se consolida como uma grande irregularidade praticada muitas vezes em regiões que estão desassistidas e longe dos grandes centros de saúde. De fato, segundo ele, em Santarém a grande demanda de pacientes virou um problema, devido os municípios vizinhos ao pólo, principalmente os que ficam à margem esquerda do rio Amazonas, enviarem pessoas com casos simples com muita freqüência para o HMS.

“Os outros municípios do entorno de Santarém, todos recebem verbas federais para o desenvolvimento de políticas públicas de saúde relacionadas a atenção básica e a média complexidade. Às vezes percebemos que em algumas situações os usuários são encaminhados para Santarém sem absolutamente nenhum resguardo da lei”, revela o Promotor.

Ele reforça que existem pessoas com problemas simples que poderiam ser resolvidos no seu Município de origem, mas que muitas vezes são colocadas num barco e encaminhadas para o complexo do Hospital Municipal de Santarém, onde são recebidas de portas abertas, sem o TFD ou outro benefício, o que acaba engrossando a demanda por saúde local e sem nenhum controle por parte da regulação desses enfermos que vêm e que chegam dessa maneira.

“A gente faz um apelo para que esses municípios façam o seu dever de casa, com a atenção básica e o tratamento de saúde e, só enviem para Santarém quando houver necessidade devido a complexidade do problema e a ausência do leito”, recomenda Dr. Túlio Novaes.

Para ele, de modo geral é preciso que os municípios equipem os seus órgãos de saúde e apliquem essas verbas, para que esses pacientes não tenham o transtorno de se deslocar até Santarém para fazer um tratamento simples e, que deveriam ser feitos nos seus locais de origem.

“Esse é o posicionamento do Ministério Público Estadual. Esses pacientes que estão vindos dos municípios vizinhos são um dos grandes problemas que Santarém está enfrentando. Os municípios não fazem o seu dever de casa em relação à saúde e muitas vezes despacham esse paciente sem TFD e sem nada. Essas pessoas chegam aqui e o Hospital tem a obrigação de receber, quando alguns casos deveriam ter sido resolvidos no seu local de origem”, explica.

APLICAÇÃO DE VERBAS: Segundo o promotor Túlio Novaes, não haveria a necessidade dessas pessoas se deslocarem, se os municípios aplicassem de fato as verbas que são destinadas à saúde pública, de forma correta. “Diga-se de passagem: muitos desses municípios têm o que chamamos de ‘Gestão Plena em Saúde’, ou seja, eles são responsáveis pelo uso e a aplicação dessas verbas de forma integral e muitos deles não fazem o dever de casa!”, exclama Dr. Túlio Novaes.

Ele adianta que está entrando em contato com os promotores de cidades vizinhas como Alenquer e Óbidos, para que haja uma interpelação aos gestores locais, com o intuito de que seja feita aplicação das verbas na saúde, o que deverá ser cobrado pelo Ministério Público Estadual.

“É importante dizer que o gestor que descumpre o seu dever de prestar a saúde nos seus locais de origem e, ele além de suscitar uma responsabilidade criminal, também pode ensejar uma improbidade administrativa e outros problemas relacionados a essa omissão. Isso de fato acontece e Santarém acaba sendo impactada por essa omissão”, declarou o Promotor Público.

MÁFIA: Em fevereiro de 2013, o vereador Paulo Gasolina revelou que tinha uma quadrilha agindo ilegalmente, com os recursos do TFD, porque acolhiam pacientes de outros municípios, usando endereços que muitas vezes não existem e os internavam como se fossem de Santarém. “Denunciei o caso na Secretaria de Saúde, para o diretor do Hospital Municipal de Santarém, para o Superintendente da Polícia Civil e para o diretor da Seccional de Polícia Civil, para que fosse realizada uma investigação, para dar fim a essa quadrilha que usa pessoas incautas para ganhar dinheiro”, afirmou Paulo Gasolina, na tribuna da Câmara, em fevereiro do ano passado.

Por: Manoel Cardoso

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