MILTON CORRÊA

Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)

Curso de pós-graduação lato sensu em Jornalismo Científico

PROJETO DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Reportagem Especial (com enfoque científico)

A RELAÇÃO DO IGARAPÉ URUMARI E SANTARÉM

PRESSÃO ANTROPICA

Alguns fatores já foram identificados na questão da agressão ao igarapé Urumari, mas de acordo com aprofessora, YngleaGoch, a ocupação desordenada tem se constituído numa das ações nefastas à sobrevivência do igarapé. “Santarém cresceu sem planejamento e isso gerou uma pressão antrópica sobre os sistemas aquáticos, houve descuido com a nascente do igarapé, que está localizada em área urbana, totalmente desmatada”, relata.

A pesquisadora lembra que no entorno do igarapé há o processo de ocupação, com a criação de animais à margem e despejo dedejetosque sofrem um processo de decomposição, quesão lançados para dentro do curso d’água.

Depois de realizar algumas visitas ao igarapé, para constatar o desmatamento, YngleaGochrecomenda que seja feito pelo poder Público Municipal, um mapeamento, de toda a área do igarapé, coma finalidade de identificarquais são as fontes poluidoras, e a partir disso, deslocá-las da região do entorno do igarapé Urumari.

A bióloga sugestiona criar uma política de utilização das margens do igarapé, verificando quais são as propriedades que estão de acordo com as resoluções ambientais, quais as que devem sair da área de proteção e a imediata revitalização da mata ciliar. “Recuperando a vegetação da margem do igarapé, você já consegue reter muito material que chegaria até lá”, prevê.

Outro problema identificado é o assoreamento que tem diminuído a profundidade do igarapé, pois nos últimos anos houve perda de profundidade etambém da vazão, diminuindo assim, a velocidade da corrente e da capacidade de se auto depurar. “O que pode diminuir o processo de assoreamento, é a recuperação da mata ciliar, alémde ser feito o diagnóstico dospotenciais poluidores e criando uma política de como minimizar o lançamento dos efluentes dessas fontes poluidoras”, recomenda a bióloga.

EM DEFESA DO IGARAPÉ

Com objetivo de defender a sobrevivência do igarapé, foi criado em agosto de 2007, o Comitê em Defesa do Igarapé Urumari formado por representantes das Associações de Moradores dos bairros adjacentes ao igarapé, juntamente com a Federação das Associações de Moradores e Organizações Comunitárias de Santarém (FAMCOS)e a Paróquia Cristo Libertador que congrega todos os bairros, por onde passa o igarapé. Além disso, o comitê conta com a parceria de outras entidades como: Ministério Público Estadual/Promotoria de Meio Ambiente, Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SEMMA; Secretaria Municipal de Educação – SEMED, Faculdades Integradas do Tapajós – FIT, Projeto Saúde e Alegria, Instituto Manancial e Projeto Formigas que Voam.

O Comitê tem como objetivos discutir estratégias de proteção e recuperação do igarapé; promover educação ambiental nas comunidades inseridas no ecossistema do igarapé; disseminar a cultura da preservação ambiental no cotidiano popular. A partir da instalação do Comitê foi possível, em conjunto com outras instituições e Poder Público Municipal, suspender a licença para a construção de um condomínio em área de mata ciliar do igarapé.

Outro importante instrumento utilizado pelo Comitê de Defesa é a educação ambiental, com a realização de eventos como: Encantos do Urumari e a Romaria das Águas do Urumari. São atividades de mobilização que misturam o componente cultural ao tom de denúncia, e ao mesmo tempo, é uma cobrança de uma fiscalização maior do PoderPúblico contraas agressões cometidos no Igarapé.

Lançamento de efluentes no Igarapé Urumari. Foto: Comitê em Defesa do Igarapé do Urumari
Lançamento de efluentes no Igarapé Urumari. Foto: Comitê em Defesa do Igarapé do Urumari

Em 2012, preocupados com o agravamento da situação, representantes do Comitê e da Federação das Associações de Moradores e Organizações Comunitárias, encaminharam ofício ao promotor de justiça do Meio Ambiente de Santarém, Paulo Arias Carvalho Cruz, relatando as várias denúncias recebidas sobre os crimes ambientais cometidos contra o Igarapé. No documento, as entidades pedem providências com a finalidade de preservar e garantir a sobrevivência desse importante curso d’água do município de Santarém.

As entidades reafirmam no documento, os esforços quetem feito com objetivo de esclarecer e orientar a população sobre a importância do igarapé na vida de todos. Lembramainda que tem realizado visitas, vistorias, palestras e outros debates, com a finalidade de coibir práticas danosas ao meio ambiente.

Os representantes pedem que os órgãos responsáveis pela fiscalização do meio ambiente, tenham uma ação mais eficaz, que acompanhem de perto a situação, pois em muitos momentos, os destruidores agem de forma irresponsável sem receberem nenhuma sanção pelos atos cometidos.

No documento são listadas as irregularidades, inclusive relatando a invasão, “por pessoas com melhor poder aquisitivo”, com a construção de casas sobre a área do igarapé, no trecho da Avenida Dom Frederico Costa, entre Moaçara e Rua Marcilio Dias, no bairro Jutai. E outra, no bairro São José Operário, onde houve aconstrução de um muro por dentro da área do igarapé Urumari.

Sobre o assunto a promotoriade Meio Ambiente informou que enviou ofício à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, solicitando a fiscalização nos locais denunciados pelas entidades, e a adoção das providências cabíveis, com identificação doseventuais responsáveis pelos danos ambientais. E que após, realizada as fiscalizações encaminhasse à Promotoria um relatório das atividades executadas na área.

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