Investigação aponta envolvimento de ministro com fraude em terras para reforma agrária
As investigações da Operação “Terra Prometida”, sobre grilagem de terras destinadas à reforma agrária em Mato Grosso, podem complicar a situação do ministro da Agricultura, Neri Geller. Testemunhas ouvidas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal apontam o envolvimento do ministro com a apropriação de lotes que, pelo programa do governo federal, seriam destinados a agricultores sem-terra. Trechos sobre os supostos vínculos do ministro com os desvios do programa já foram enviados ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Geller foi citado várias vezes ao longo da investigação. A suspeita é que ele tenha favorecido a negociação ilegal de lotes e até se tornado proprietário de um deles. O programa do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) prevê a distribuição de 1.149 lotes de 100 hectares. Hoje cada um desses lotes está avaliado pelo mercado local em R$ 1 milhão. Dois irmão do ministro, Odair e Milton Geller, se entregaram ontem à PF após terem a prisão decretada.
O juiz Fábio Henrique Fiorenza, da Justiça Federal de Mato Grosso, encaminhou ao STF o processo ainda no primeiro semestre deste ano. Em agosto, o Supremo desmembrou a investigação e devolveu a parte dos autos relativos às pessoas sem direito a foro à Justiça Federal em Diamantino (MT).
“Diante do surgimento de nome com prerrogativa de foro perante Tribunal Federal os autos foram remetidos a essa corte, que os desmembrou e os devolveu a este juízo para analisar as representações em relação às pessoas sem a prerrogativa”, diz a decisão.
Ao todo, a Justiça Federal decretou a prisão de 52 fazendeiros, empresários e servidores públicos acusados de se apropriar de forma ilegal de lotes da reforma agrária nas imediações de Itanhangá (MT). Trata-se do segundo maior assentamento da reforma agrária da América Latina.
As investigações começaram em 2010, a partir de reportagens do “Jornal Nacional” sobre negociação de lotes da reforma agrária, o que é proibido por lei. O esquema, porém, ocorre desde 1997. O centro do esquema são os municípios de Itanhangá e Lucas do Rio Verde (MT), cidade onde a família Geller tem fazendas.
O juiz cita no despacho como beneficiários da família Geller: António Geller , Clarisse Geller , Mareli Conrad Geller, Liara Regina Conrad e a empregada doméstica Helena da Silva Meireles, supostamente laranja.
Procurado pelo GLOBO, o ministro não quis se manifestar. Em nota divulgada ontem, o Ministério da Agricultura negou o envolvimento de Neri Geller.
“O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento informa que o ministro Neri Geller não foi arrolado na “Operação Terra Prometida”, deflagrada pela Polícia Federal. O ministro, que estava em missão internacional nos Emirados Árabes e retornou ao Brasil no final da tarde desta quinta-feira (27), lamenta a presença de familiares entre os investigados e diz não acreditar na participação dos mesmos em qualquer irregularidade. Geller afirma não possuir associação jurídica ou outro tipo de sociedade com os envolvidos no processo”, diz a nota.
Fonte: O Globo