Manifestantes cobram a instalação de CPI na AL
Durante a sessão de ontem na Assembleia Legislativa (AL), mais uma vez dezenas de representantes de movimentos sociais foram à casa para cobrar a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada para investigar a suposta atuação de milícias no Estado.
O questionamento ganhou destaque na imprensa depois da chacina ocorrida nos dias 4 e 5 de novembro passado, que terminou no assassinato de oito pessoas após a morte do cabo PM Antônio Marcos Figueiredo e da prisão do prefeito de Igarapé-Miri, Aílson do Amaral (DEM), o “Pé de Boto”, em setembro, sob acusação de comandar um grupo de extermínio no município.
Já próximo do fim dos trabalhos, cerca de 20 deles ficaram bem próximo do plenário – geralmente os visitantes ficam nas galerias envidraçadas, com visão para as bancadas e mesas diretoras, no andar de cima -, se posicionando em uma das laterais, que tiveram suas portas e janelas fechadas pelos seguranças da casa para evitar que eles tivessem acesso aos deputados. Um deles conseguiu entrar rapidamente, mas logo foi colocado para fora.
Enquanto isso, o presidente Márcio Miranda (DEM), ao microfone, pedia ordem. O sinal da Rádio AL, que transmite online as sessões pelo site oficial do Poder Legislativo, teve o sinal cortado durante o tumulto.
Os deputados da oposição pediram a palavra por mais de uma vez para insistir na celeridade da instalação da CPI, que foi proposta pelo deputado Edmilson Rodrigues (PSol), já possui o número mínimo de assinaturas necessárias e teve pedido formalizado junto à mesa diretora no dia 25 de novembro.
FRASES
Carlos Bordalo, do PT, chegou a subir à tribuna durante a confusão e, se dirigindo ao presidente, lia algumas das frases estampadas pelos cartazes segurados pelos manifestantes, que pediam “CPI das Milícias já”.
Na quarta-feira da semana passada, dia 3, Miranda oficiou os partidos que, por representatividade no parlamento, podem ter assento na comissão, que são o PT, PMDB, PSDB e DEM. Edmilson, por ser o propositor, é membro nato da CPI e tem cadeira assegurada.
O prazo regimental para a nomeação é de cinco dias úteis, ou seja, se encerra hoje, e ontem o presidente voltou a dizer que usará da prerrogativa que lhe cabe de nomear os participantes logo que o prazo se encerre, se as siglas não responderem espontaneamente ao ofício.
O representante do PSol voltou a lembrar que o governo nada disse de concreto até agora sobre a chacina.
“Há, hoje, uma situação de medo dentro da polícia. Eu tenho informação de que a investigação avançou, mas sabe o que ocorre? É que a investigação feita por um delegado – na verdade por uma equipe de delegados – dá conta da seguinte situação: o investigado que já tem confirmação da sua participação em homicídios, de forma organizada em milícia, é o cara que todos os dias o cumprimenta e que está trabalhando no mesmo setor, muitas vezes. Eu já ouvi a seguinte frase: ‘Eu tenho família. Eu tenho medo, mesmo tendo formação técnica, mesmo podendo usar colete, mesmo tendo uma pistola na cintura para me defender’”, disse Edmilson.
“A manchete de ontem do jornal DIÁRIO DO PARÁ dá conta que o ano de 2014 está sendo um dos mais violentos no Estado, com o registro de 325 mortes violentas até novembro. Só neste mês, estão sendo registradas mais de dez mortes por dia no Pará. Somente entre a noite da última sexta-feira, 5, e a noite do domingo, 7, o jornal contabilizou 28 vítimas de homicídios e latrocínios”, disse Edmilson.
“Cito como exemplo o assassinato do advogado e oficial de justiça de Barcarena Ricardo Lobato Varjão, de 26 anos, em plena Av. Braz de Aguiar, no centro da capital; sem falar no escrivão da Polícia Civil José Augusto Santos de Medeiros, de 33 anos, morto no Parque Verde, ambos supostamente vítimas de assalto. É preciso que a comissão seja instalada esta semana para que os membros possam trabalhar durante o recesso parlamentar, como permite o regimento interno”, discursou Edmilson.
Fonte: Diário do Pará