Je ne suis pas Charlie

Ismael de Moraes
Ismael de Moraes

O que os terroristas fizeram no atentado da revista Charlie Hebdo é inominavelmente abominável. Não é possível dizer mais nada que o mundo inteiro já não o faça melhor. Mas…
Ao procurar ver os cartuns publicados pela revista não tenho como ostentar a bandeira “Je suis Charlie”, ainda que ela esteja significando uma manifestação que vai além do que foram os artistas e humoristas assassinados. Aliás, devo não fazê-lo justamente porque por ela o topo da pirâmide ocidental expressa a superioridade dos valores da civilização sobre a barbárie.
Não posso me identificar, nem de modo fugaz, sem me sentir idiota e irresponsável, com uma revista que publica charges do profeta Maomé, que é para os muçulmanos o mesmo que Jesus representa para os Cristãos, repetidas vezes caricaturado com a intenção de escandalizar os islâmicos, sempre nu, com as nádegas ou o ânus expostos, ora como ator de filme pornô ora segurando o Corão, o livro sagrado do Islã, que é chamado de merde (merda). Há uma charge em que o Deus dos cristãos está sendo penetrado por Cristo que, por sua vez, está com um símbolo enfiado nas nádegas que representa o Espírito Santo.
O que esse humor (?) seja na ofensa a Maomé e ao islamismo seja na figura da orgia incestuosa que desrespeita a Santíssima Trindade dos cristãos pode ser construtiva para esta mesma civilização que agora se faz representar pelo bordão “Je suis Charlie”?
Os cartunistas da revista Charlie Hebdo são (e aqueles foram) desonestos em se valer dos fundamentos da democracia para coonestar os valores da civilização por meio do humorismo figurativo em nada edificante para a união das pessoas e a paz mundial, cada vez mais cara ao mundo globalizado. As pessoas que os adotam como heróis e como símbolos da civilização são ingênuos ou precisam aderir à corrente midiática que vai passando.
Aristóteles foi o primeiro que colocou o riso como um instrumento poderoso da verdade, daí Umberto Eco tê-lo utilizado como mote filosófico no extraordinário romance “O Nome da Rosa”. Mas, respeitando o gosto de cada qual, não consigo rir e nem ver algo aproveitável nos desenhos que causaram a ira dos assassinos.
O verdadeiro humor usa a sutileza e não a depravação. Por isso, acredito que possamos adotar símbolos mais dignos da decência que inspira a nossa revolta do que a obra daquelas vítimas da revista Charlie Hebdo, porque a arte dessa revista nada mais é que agressão pura e simples, grosseira, sem sofisticação, que usa a ofensa direta e procura chocar por uma iconoclastia primária. Je ne suis pas Charlie!
Fonte: RG 15/O Impacto

8 comentários em “Je ne suis pas Charlie

  • 15 de janeiro de 2015 em 09:22
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    Meu amigo Ismael, parabéns pelo excelente artigo. Concordo integralmente com o teor e conteúdo do texto. É brilhante e esclarecedor, devendo sim merecer uma profunda reflexão acerca da inversão de valores e do conceito acerca da verdadeira liberdade de expressão e de imprensa. Acho inaceitável que jornalistas se baseando nessa liberdade constitucional, façam charges contra qualquer entidade divina, em completo desrespeito às crenças, pois quando assim fazem violentam o direito dos crentes em Deus, em Jesus, em Maomé, em Alá, em Buda e em outras entidades, em que todas pregam o amor, o amor à vida. Logo, tirar a vida de pessoas da forma como ocorreu, foi e é abominável sob todos os aspectos, como também foi e é inaceitável que se faça caricaturas e charges desrespeitosas às crenças das pessoas. Tem que haver respeito à liberdade de religião, política, de expressão, de imprensa, etc. Infelizmente, mais charges foram publicadas, com uma tiragem de 05 milhões de exemplares totalmente esgotados e que estão causando estragos e acirrando os ânimos e mais pessoas inocentes poderão ser vitimadas. Por essas e por todas as charges já publicadas ofensivas às crenças religiosas, ignoro-as, não quero saber das mesmas e não sou “je suis charlie”. Jesus Cristo é o meu Rei! Deus seja louvado!

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  • 14 de janeiro de 2015 em 20:05
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    Concordo com você Ismael de Moraes, sou contra o radicalismo extremo, o mundo todo sabe como esse povo é, e que ainda há uma pessoa que fez uma charge de Maomé sendo procurada, essa pessoa está valendo Um Milhão de dólares para quem der o paradeiro desse Inglês que fez uma charge, eu acho que foi uma brincadeira de muito mau gosto e deu no que deu, vou citar um exemplo porque esse afetou todos nós, sou evangélico jamais concordei com a atitude de um Bispo da igreja Universal em chutar uma Santa da Igreja Católica, outro fato que nos revoltou foi em um shopping de Natal onde uma filho de satanás enfiou em seu ânus um terço da Igreja Católica, e depois satirizou dizendo “é assim que eu faço com seu Deus”, nós evangélicos tomamos as dores porque a falta de respeito desse mau caráter foi extrema por demais, claro que esses episódios teve outro desfecho aqui por não sermos extremistas radicais como os Islãs é outra conversa e devem ser respeitados, assim como os católicos tem seus lideres e símbolos religiosos, os Islãs tem esse direito de terem e serem respeitados, volto a dizer sou contra a violência, mais esses franceses cutucaram onça com vara curta e se deram mau, e levaram outras pessoa inocentes junto com eles que fizeram as coisas erradas, tudo por causa dessa insanidade, que essa lição sirva para que haja mais respeito e amor no mundo.
    outra coisa que se levantou com esse episódio, foi essa tal liberdade de imprensa, eu acho isso uma invasão da privacidade das pessoas, e isso tem que ser revisto, nenhuma pessoa pode ter sua privacidade violada, Invasão de privacidade é crime previsto no Artigo 5° da Constituição. É passível de punição, mas tem um caráter particular pela crueldade com que atinge o ofendido. Neste ponto, o sofrimento causado nas pessoas atingidas tem o poder de ganhar dimensões inimagináveis por quem o comete. Assim eu penso.

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  • 14 de janeiro de 2015 em 17:54
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    Parabéns pelo artigo!!!! Muito bem colocado.

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  • 14 de janeiro de 2015 em 16:51
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    Quem já sofreu ataque da imprensa, sabe a dor. Tem jornalista sério e jornalista safado. Temos visto muito em Santarém, blogs irresponsáveis publica matérias contra as pessoas e políticos que não merecem. tem bloqueio safado que tira uma de honesto e sério, mais vive do dinheiro público, preciso do dinheiro publico para comer.

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    • 14 de janeiro de 2015 em 20:07
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      É verdade Aquino, tanto que as dimensões dessa atitude foi o que ocorreu, há extremistas e radicais em todo lugar, na religião, na imprensa e em outras partes da sociedade.

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  • 14 de janeiro de 2015 em 15:59
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    A Justica tem que impor limite na imprensa para evitar essas coisas. Tenho lido ofensas graves contra as pessoas que pode causar serios danos e fica por isso mesmo, ja que a justica custa julgar e acaba ocorrendo esse tipo de reaçao. Devemos respeitar a crença de cada um.

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    • 14 de janeiro de 2015 em 16:02
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      Tem caso que deve ser publicado mesmo, com respeito sem ofender. Estamos vivendo momentos de falta de respeito com nossas autoridades, com as pessoas, com o ser humano, Esse artigo é muito bom para reflexao para os donos de imprensa. Pensar e respeitar.

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  • 14 de janeiro de 2015 em 15:55
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    Bem coerente, bem pensado, Concordo com essa direçao. É por esse caminho, respeitar é importante, a imprensa nao respeita. Parabes senhor pelas colocaçoes.

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