Vereador sobre salário de políticos: ‘Se não for corrupto, ele mal se sustenta’

Vereador Odilon Sanção, do SDD
Vereador Odilon Sanção, do SDD

Às vésperas de completar 27 anos, Parauapebas, no Pará, resume em si uma contradição. Enquanto um de seus vereadores reclama dos R$ 13,8 mil que recebe da Câmara, a média de salários na cidade é de aproximadamente 3% desse montante: R$ 433, segundo o IBGE.
Há duas semanas, em sessão da Câmara, Odilon Rocha de Sanção (SDD) disse que “mal dá para sobreviver” com o salário pago aos vereadores. “Com o valor que o vereador ganha aqui, se ele não for corrupto, ele mal se sustenta durante o mês”, disse Odilon.
Apesar de a declaração de ter sido criticada nas redes sociais, ele ganhou ontem o apoio do presidente da Câmara, Ivanildo Braz, também do Solidariedade. “Não foi só a parte do vídeo (que repercutiu ontem na internet). O vereador em sequência explicou seu raciocínio e comparou o (nosso) salário com o dos secretários”, disse Braz. Procurada, a direção do partido no Pará não retornou as ligações.
“É uma falta de respeito com os moradores. Não só ganham muito mais do que a maioria dos cidadãos de bem, como ainda acham que, se não se corromperem, não têm como viver. Isso faz nascer a descrença na política”, desabafou o estudante Eris Silva, de 24 anos, morador de Parauapebas.
Como ele, a auxiliar administrativa Fabíola Perez Rodrigues, 29, também da cidade, acrescenta que em vez “de justificarem suas ações corruptas, os vereadores deveriam trabalhar para aumentar a oferta de trabalho. “Trabalhar de carteira assinada aqui, só na prefeitura ou na Serra dos Carajás.”
A Câmara tem 15 vereadores, e cada um recebe salário de R$ 10.013 e R$ 2.800 para despesas com combustível. Há ainda à disposição R$ 1 mil para ligações telefônicas. Com tudo, recebem por mês R$ 13,8 mil, que pode aumentar R$ 300 a R$ 800 com auxílio viagem.
Na internet, nos perfis nos quais o vídeo foi publicado, a indignação era geral. “Bater panela para Dilma é fácil. Tem ir pra Câmara”, escreveu Leovido Ferraz.
Em números, Parauapebas é uma cidade rica. Suas terras se assentam sobre o maior sítio de minério do mundo e, por conta da exploração pela Vale do Rio Doce, tem o segundo maior PIB (o total da riqueza produzida) do Pará. Fica atrás apenas de Belém, a capital do estado. Apesar disso, 52% da população de cerca de 200 mil habitantes são considerados pobres ou miseráveis.
‘MP deveria processá-lo’
Para o sociólogo e cientista político Paulo Baía, professor da UFRJ, o Ministério Público (MP) deveria abrir uma ação contra o vereador Odilon Rocha por apologia ao crime. Na interpretação de Baía, ele diz à população de Parauapebas, de “maioria absolutamente honesta e trabalhadora, que não vale a pena agir dentro da legalidade”. “Ao falar assim, ele naturaliza a corrupção e afirma que o única forma de se sair da pobreza é de maneira ilícita. Esse vereador está fazendo apologia ao crime, insuflando a viver na incorreção”, diz o sociólogo.
Odilon Rocha “está desconsiderando a ética do trabalho, ignorando a maneira como a maioria da população da cidade vive, que é do trabalho e na pobreza”.
Baía, que conhece a cidade, afirma que este distanciamento de políticos com as realidades locais afasta a população da política. “É ato de total descompromisso com suas bases, com a população pobre que o elegeu. Ele mora numa cidade rica, com história de conflito, e estimula o crime. É uma contradição não só de Parauapebas, mas do Brasil, da desigualdade social.”
Fonte: O Dia

2 comentários em “Vereador sobre salário de políticos: ‘Se não for corrupto, ele mal se sustenta’

  • 12 de maio de 2015 em 16:46
    Permalink

    Agora vão lá…aproveitem as eleições e votem nele de novo..pobrezinho.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *