Radar vai vigiar desmate sob nuvens na Amazônia
A partir de outubro, o País vai ganhar um novo “olho”, muito mais potente do que o existente hoje, para vigiar o desmatamento da Amazônia. O governo vai contratar um radar orbital que produzirá, diariamente, imagens da região. Os dados poderão servir também para o combate a outros atos ilícitos, como o garimpo ilegal, o tráfico e a ação de grileiros.
A vigilância será mais intensa porque o radar conseguirá “ver” através das nuvens, o que não é possível atualmente. O sistema que funciona no Brasil usa imagens ópticas tomadas por radares. Mas, quando o tempo está encoberto – o que, no caso da Amazônia, ocorre em sete meses por ano -, o trabalho fica prejudicado. Há aviões equipados também com radares. Mas a atuação deles é limitada pelo tamanho da área a ser monitorada e também pelo custo elevado da operação.
Não por acaso, a quantidade de alertas sobre desmatamento ilegal cai drasticamente no período nublado. Além disso, o crime organizado se aproveita dessa deficiência para desmatar no período em que os radares não podem denunciar sua ação.
Alcance. O radar orbital permitirá que a vigilância seja feita com maior frequência e atinja uma área mais de três vezes maior do que a atual. Em vez de 280 mil km² vistoriados a cada 15 dias, serão 950 mil km² monitorados diariamente. Os dados, depois de interpretados e auditados, serão entregues ao governo brasileiro com uma defasagem de três dias após a coleta.
Com esse alcance maior, o radar não vigiará só a Amazônia, mas poderá monitorar todo o território nacional, incluindo as áreas marítimas. Ou seja, o sistema poderá gerar informações para diversas ações de inteligência do governo.
A precisão também será muito maior. O radar orbital permitirá detectar pontos de desmatamento seletivo, no qual os madeireiros se concentram na retirada de espécies específicas, como o mogno, por exemplo.
Para implementar esse novo sistema, batizado de Amazônia SAR (sigla em inglês para Radar de Abertura Sintética), serão investidos R$ 80,5 milhões, sendo R$ 63,9 milhões do Fundo Amazônia e R$ 16,6 milhões do Orçamento federal. O contrato será assinado amanhã.
O Centro Gestor e Operacional do Sistema de Vigilância da Amazônia (Censipam), órgão do Ministério da Defesa que atua nesse projeto em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), está finalizando o edital para a contratação do radar. Já foram detectados diversos parceiros internacionais que poderão prestar esse serviço, informou ao Estado o diretor-geral do Censipam, Rogério Guedes.
Antena. As imagens serão compartilhadas com a comunidade acadêmica e ajudarão também a aprimorar os dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), em funcionamento desde 2004. “É uma ferramenta fundamental, que amplia enormemente nossa capacidade de monitorar a região Amazônica”, disse Guedes.
Como parte do novo sistema, será construída uma antena de 11 a 15 metros de altura e diâmetro de 15 metros, nos arredores de Brasília, além de uma base de recepção. A previsão é que esses equipamentos estejam prontos no início de 2018. Essa infraestrutura, explicou o diretor do Censipam, poderá ser utilizada posteriormente para receber dados de outros radares.
Doações. O Fundo da Amazônia, de onde sairá a maior parte dos recursos para bancar o Amazônia SAR, é formado por doações de países estrangeiros, como Noruega e Alemanha, e de empresas, como a Petrobrás.
Os recursos são administrados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e, para esse projeto, serão aportados a fundo perdido, ou seja, o governo brasileiro não terá de devolvê-los.
O Fundo da Amazônia segue uma linha adotada pelo Brasil nos foros internacionais segundo a qual os países que pressionam politicamente pela preservação do bioma devem contribuir para isso. A justificativa é que, para preservar a floresta, o País abre mão de desenvolver atividades econômicas mais intensivas na Região Amazônica.
Criado em 2008, o fundo movimentou R$ 1,8 bilhão no ano passado. Além de ações de fiscalização e monitoramento, os recursos são destinados a projetos de recuperação de áreas desmatadas, manejo sustentável de florestas e até programas de regularização fundiária.
Fonte: estadão