IPHAN realiza visita a prédios históricos da cidade mais portuguesa da Amazônia
Esta semana o município de Óbidos, distante a 1.100 quilômetros da Capital, recebeu a visita de representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O objetivo da visita foi realizar o monitoramento dos imóveis pertencentes ao Centro Histórico, bem como do armamento (Canhões e balas), hoje encontrado exposto em frente à sede da Casa de Cultura, e na Muralha do Forte Pauxis, e também no Forte Gurjão, no alto da Serra da Escama. A visita iniciou na tarde do dia 21 de julho e encerrou na quarta-feira, 22, após uma reunião com o secretário de Cultura e Turismo de Óbidos, Sandro Silva e a equipe de Planejamento e Obras da Prefeitura Municipal de Óbidos.
De acordo com a arquiteta do IPHAN, Andréia Cardoso, a ideia da vinda até Óbidos surgiu a partir da necessidade de realizar um monitoramento do patrimônio arquitetônico da cidade, uma vez que o último inventário foi realizado no ano de 2010, onde estavam explícitos os imóveis e a destinação de seus usos. “Óbidos tem uma arquitetura dos séculos XVII, XVIII que ainda permanecem e tem um traçado urbano da época colonial e como este inventário foi feito há alguns anos nós então viemos fazer uma nova análise para então saber o que ainda permanece, o que foi descaracterizado”, enfatizou Andréia que visitou o município pela primeira vez.
A visita ao município poderá gerar subsídios para futuro tombamento, como os que beneficiaram o antigo Quartel de Óbidos, hoje sede da Secretaria de Cultura e Casa de Cultura de Óbidos, onde funciona um auditório e também uma biblioteca, além de um espaço para apresentações culturais. “O Forte de Óbidos, assim como o Quartel e a Bateria da Serra da Escama foram tombados recentemente pelo IPHAN e fazem parte de um tombamento temático, que também ocorreu em outros prédios pelo Brasil, isso é procedimento, e foram tombados por conta da ligação com o período colonial e como defesa e a cidade surgiu a partir do Forte e isso tem uma importância enorme e este tombamento é o reconhecimento dessa bem”, exclamou.
Além do projeto de tombamento dos prédios em si, os técnicos do IPHAN também atualizaram o inventário sobre o armamento que foi usado pelos militares para proteger Óbidos de possíveis ataques. “Por conta do tombamento das edificações, que foi um tombamento provisório, foi solicitado que nós verificássemos também o material de artilharia que ainda permanece, (canhões, balas), tanto do Forte, quanto os da Serra da Escama, que são canhões do período colonial que precisam ser codificados e avaliados quanto ao estado de conservação deles”, explicou a arquiteta que também verificou o andamento da obra de Reforma e requalificações do Forte Pauxis, reiniciado há aproximadamente dois meses.
O secretário de Cultura e Turismo, Sandro Silva, avaliou a vinda da equipe técnica do IPHAN como positiva para o município. “Eu penso que é de fundamental importância a visita dos técnicos do IPHAN a Óbidos, conhecendo in loco toda estrutura dos prédios que compõem o Centro Histórico de Óbidos, o patrimônio cultural, o patrimônio natural do município e estamos apresentando as demandas na expectativa de se buscar alternativas para recuperar alguns prédios históricos do município”, disse o secretário.
Atualmente o Forte Pauxis continua em processo de revitalização e requalificação e após sua conclusão o local se tornará em um ambiente agradável que voltará a ser um dos principais pontos de visitação. “Os técnicos vieram mais para verificar a situação e conhecer de forma mais aprofundada todo o setor histórico e estamos conversando sobre a reforma do Forte Pauxis que já está sendo executado, e da Casa de Cultura, que é um espaço que fica a disposição da comunidade, tanto governamental, quanto as não governamentais, a comunidade de uma forma geral, é um espaço que serve a coletividade”, concluiu.
ÓBIDOS SEDIA PRIMEIRA GRAVAÇÃO DO PRIMEIRO CD DE CHORINHO DO BAIXO AMAZONAS
O gênero musical denominado de ‘choro’, que posteriormente passaria a chamar-se ‘Chorinho’ surgiu no Brasil no século XIX e logo foi considerado como a primeira música urbana tendo sua composição instrumental base a flauta, o violão e o cavaquinho. Sua popularidade de certo não agradou a elite, devido a mistura africana ao gênero tocado nos bailes nobres, mas conseguiu seu espaço e reconhecimento com nomes celebres como Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Pixinguinha.
No Oeste do Pará, mas especificamente em Óbidos o gênero ficou conhecido pelo mestre Miguel Venâncio, músico autodidata que lançou o seu ‘sapatiado de Venâncio’, muito conhecido na década de 80. “Meu pai foi um homem muito querido na cidade e por onde ele passava as pessoas se alegravam tanto com seus ensinamentos quanto com a música e a dança e eu me emociono ao falar porque a gente viu boa parte do trabalho dele ficando esquecido”, falou o músico Jorge Luiz Vasconcelos Pereira conhecido como Jorge Cancão, que desde os 13 anos trabalha como músico.
Hoje aos 43 anos, dos quais 21 foram escritos como músico da banda Obidense, hoje banda Energia, o maior projeto da vida de Jorge Cancão é a gravação de um CD com musicas de composição própria e outras de resgate de compositores locais. “A música é a minha arte preferida passou pelo meu pai, por mim e eu estou passando para o meu filho e nesse CD eu vou lançar o ‘sapatiado de Venâncio’, ‘Perfeição solística de Jorge’, ‘Palito de Fósforo’, além de outras músicas de artistas da terra”, ressaltou o músico que enquanto criança acompanhava o pai e acabou se apaixonando pela profissão hoje exercida há 30 anos.
O autor do projeto de resgate cultural Obidense, Eduardo Dias, falou que realizar a gravação do CD foi uma forma vista para que o trabalho de tantos compositores não fiquem perdidos no tempo. “Ele é um compositor como poucos na nossa região, e desenvolveu o chorinho em uma cidade que não há espaço, que você não ouve tocar na rádio e em nenhum lugar e é espetacular essa iniciativa do Jorge Cancão de gravar o chorinho que é um ritmo genuinamente brasileiro, um dos poucos ritmos tratados como genuínos”, declarou após citar a importância deste projeto que tem como espelho o artista Obidense Miguel Venâncio, do qual muitas canções ficaram perdidas.
Com a gravação deste projeto Óbidos passará a ser reconhecida também pela sua musicalidade uma vez que hoje a cidade presépio é referencia tanto pelas artes plásticas, magistratura, arquitetura e literatura, entre tantos outros talentos. “Eu acredito que este projeto deixa Óbidos no foco. Esta é uma terra de literatura que começa a desperta para a música como um segmento importante e a partir do disco do Jorge Cancão nós vamos dar um destaque especial para a cidade de Óbidos além de revelar todo esse cabal de artistas e compositores que passaram e não ficou registrado”, finalizou Eduardo.
As gravações do CD de Chorinho Obidense acontecem na sede da Escola de Música Manoel Rodrigues, que neste mês de setembro comemora 10 anos de formação e educação de adolescentes e jovens. A Escola é administrada pelo município, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SEMDES) e que recebe incentivos da Mineração Rio do Norte.
Fonte: RG 15/O Impacto e Martha Costa