Padre Edilberto: “Portos no Maicá são frutos da ambição de grupos políticos”
A atual situação econômica, social e ambiental de Santarém, do Pará e do Brasil levou o padre Edilberto Sena a tecer duras críticas ao prefeito Alexandre Von (PSDB), ao governador Simão Jatene (PSDB), a presidenta Dilma Roussef (PT) e ao presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB). O religioso alertou que o Brasil vive uma crise política que afeta diretamente a nação e que poderá não ter volta. Padre Edilberto falou que os problemas sociais e ambientais que acontecem em Santarém são o reflexo da discórdia política de Brasília. Ele apontou que alguns projetos que devem ser implantados em Santarém, como a construção de pelos menos três portos na Grande Área do Maicá e, que poderá expulsar centenas de famílias de suas próprias casas, é fruto da ambição de grupos políticos, que começam em Brasília e recebem o apoio de pessoas de Santarém, ligadas à Prefeitura Municipal. Padre Edilberto revelou que a construção de portos no Maicá vai atender apenas o interesse econômico de alguns políticos e algumas empresas. Ele lembrou, ainda, de problemas sociais ocasionados pela Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) e pela construção do Porto da Cargill, na antiga Praia da Vera Paz. Veja a entrevista na íntegra:
Jornal O Impacto: A construção de portos na Grande Área do Maicá vai atender apenas interesses de políticos e empresas?
Padre Edilberto: A questão de instalação de portos na Grande Área do Maicá, no bairro da Área Verde, dentro da área urbana da cidade, três ou quatro portos, assim como a ampliação do Porto da Cargill, são questões graves em que o avanço do progresso dos homens vai esmagando a identidade e o respeito aos moradores de Santarém. A questão dos portos da Área do Maicá virou um problema com a ânsia do progresso econômico que vai atender algumas empresas. O Maicá é uma área de terra firme ocupada por moradores, que lamentavelmente não tem documento de propriedade, porque as autoridades tanto as atuais quanto as anteriores nunca tiveram a responsabilidade de desapropriar os lotes dos que se dizem donos, para que a população pobre possa ter a sua casa. Praticamente todos que estão ali não têm documento de propriedade. Rapidamente chegaram empresas forasteiras e aí a Prefeitura abriu as pernas e abre os espaços para que elas instalem portos em uma área sensível e de proteção ambiental, que é uma APA. Então, além dos moradores da área de terra firme serem impactados, porque deverão ser construídos três portos que vão receber carretas, a biodiversidade do local vai deixar de existir. Na Amazônia manda quem tem capital. As autoridades locais e estaduais se encantam com a chegada de empresas, sejam nacionais ou estrangeiras, na ilusão que trarão empregos e renda para a região. O que é apenas uma ilusão.
Jornal O Impacto: Para que os portos sejam construídos a Prefeitura de Santarém prometeu dar apoio logístico às empresas?
Padre Edilberto: Para isso a Prefeitura planeja construir uma rodovia, cortando a BR-163 por trás do 8º BEC e passando por sete bairros periféricos da cidade. Vão abrir uma avenida imensa para que cerca de 350 carretas fiquem transitando pra lá e pra cá, para que fiquem transportando soja para os portos da Grande Área do Maicá. Isso vai ser uma agressão social terrível e, vai aumentar o número de doenças venéreas, de assaltos, de prostituição e tudo isso dentro da cidade. Perguntamos o seguinte: Por que a Prefeitura não oferece uma área que não está habitada ainda? Existe uma área que fica no limite com o município de Prainha, onde é possível a construção de portos, na Comunidade de Barreiras. Por que fazer dentro da área urbana da cidade? Isso me deixa muito indignado como cidadão santareno, principalmente por ver que as autoridades não reagem e não defendem a população santarena. Eles falam que vai gerar emprego, mas temos como exemplo a Cargill, que no momento em que estava construindo o porto gerou empregos, mas depois que ficou pronto despachou os trabalhadores e ficou com um grupo pequeno. Isso quer dizer que o progresso está agredindo a dignidade dos moradores dessa cidade. Tal contexto em si leva também a graves agressões aos moradores e à natureza da cidade e de seu entorno. Duas fontes ao menos causam violações dos direitos da cidade: o comércio de drogas, cada vez mais intenso e; a invasão de carretas transportando grãos para a exportação via porto da Cargill. Cada carreta carrega 38 toneladas de grãos e são cerca de 150 delas diariamente trafegando pelas ruas estreitas da área urbana.
Jornal O Impacto: O povo de Santarém deveria reagir contra a invasão das grandes empresas, que devem gerar problemas sociais e ambientais para o Município?
Padre Edilberto: Me deixa preocupado, também, é de ver a passividade da sociedade santarena, que está vendo sua cidade ser agredida e ocupada pelo tal progresso, prejudicando a vida do povo, mas ninguém reage, nem as associações de bairros, nem as associações empresariais, nem os vereadores e, eles estão aceitando que façam isso, exceto as lideranças dos bairros que estão sendo mais impactados, esses sim estão tomando posição. No entanto, eles estão sendo criminalizado, como o que aconteceu no Lixão de Perema, quando um grupo de pessoas bloqueou a rodovia Santarém/Curuá-Una. Por causa disso foi requerido pelo Município e a Justiça aceitou e baixou uma liminar, que se eles bloquearem novamente a rodovia, eles serão criminalizados. Isto é, estão criminalizando os movimentos sociais, até mesmo as pessoas que tentam defender os nossos direitos são acusadas de crimes. Enquanto que, quem quer ocupar uma área como a do Maicá, não está sendo considerado criminoso. Aqui está a contradição do capital com domínio sobre a cidadania! Dois agravantes complicam as vidas da sociedade santarena: as autoridades aplaudem a invasão de novas empresas ocupando o território urbano. O Prefeito municipal alega que essas empresas trarão empregos e renda para o município. Os vereadores caminham com as decisões do Prefeito; outro agravante é a indiferença da sociedade de tantas agressões sócio ambientais. Com alguns pequenos grupos de moradores que tentam resistência, a outros se inquietam com os assaltos e acidentes de trânsito, mas não conseguem ligar os fatos a causas mais graves.
Jornal O Impacto: Essa questão das empresas que chegam a cidade ocasionando prejuízos à população tem alguma relação com a má qualidade da administração pública de Santarém?
Padre Edilberto: Olha, veja só! A nossa administração pública que não é somente a de hoje, mas, também, a de ontem, de anteontem, no meu entendimento são administrações que não tem noção de urbanização séria em defesa do cidadão. Eles ocupam o cargo e vão trabalhando a torto e a direito. Isso nos governos anteriores foi a mesma coisa. Eles não tem o chamado Plano Estratégico e o Plano Diretor. Isso está no papel, mas na prática não se executa. Isso nos deixa triste, mas não acontece somente em Santarém. Hoje, estamos em um País onde a cidadania está sendo violentada a serviço do capital e do tal progresso. Tudo isso está acontecendo em Santarém. Só para se ter uma idéia, não conseguiram resolver o problema do Porto da Praça Tiradentes, da conclusão do Estádio Colosso do Tapajós e da Cosanpa, que é uma empresa do Estado do Estado do Pará, mas a responsabilidade da distribuição de água de esgoto é do Município de Santarém. Houveram denúncias relacionadas a isso desde o governo da ex-prefeita Maria do Carmo. Na época, ela deveria ter encerrado o contrato com a Cosanpa e ter procurado outra empresa mais séria. O governo da Maria do Carmo renovou com a Cosanpa, que é uma empresa que não presta serviço digno para a população santarena.
Jornal O Impacto: Esse problema social que reflete em Santarém começa em Brasília, onde hoje, o País vive uma crise política com o presidente da Câmara Federal querendo derrubar a presidente Dilma?
Padre Edilberto: Hoje, em Brasília está acontecendo uma coisa gravíssima para com a sociedade brasileira. Existe um grupo de deputados eleitos pelo povo, que está defendendo somente os seus interesses. Aí vem a Presidente da República, que está prisioneira nas mãos da oligarquia rural e da oligarquia empresarial. Tudo isso porque ela escolheu para ministro da Fazenda, um banqueiro. Ou seja, ela entregou a responsabilidade econômica do País aos interesses dos bancos. Escolheu uma latifundiária para ministra da Reforma Agrária. Ou seja, entregou a responsabilidade agrária do País nas mãos de uma latifundiária. A presidente Dilma cavou sua própria sepultura e, hoje, está perdida numa briga estúpida e agressiva para a cidadania com esse tal de Cunha, presidente da Câmara Federal. O que é impressionante pra mim, é como ele manipula os deputados, inclusive os eleitos no Pará. São raros os deputados e senadores do Pará que tem uma posição digna de interesse da cidadania. Apenas alguns deputados defendem os cidadãos, mas a maioria defende os seus interesses e dos seus patrões. Afinal de contas, eles foram eleitos com o dinheiro de seus patrões. Então, isso é triste e a situação é gravíssima no País. Isso me preocupa muito, porque tirar a Dilma da Presidência não vai resolver o problema e, vão colocar o Brasil na mão de quem? Então, o País vive uma crise seríssima que não sabemos qual vai ser a saída, francamente!
Por: Manoel Cardoso
Fonte: RG 15/O Impacto
Como Santareno, espero pelo desenvolvimento desta cidade maravilhosa hà muito tempo. Mas espero que seja de forma organizada. O governo local precisa planejar juntamente com o setor privado este desenvolvimento. Para que as indiferencas não prevalecam e não traga mazelas a população local. É um anseio de longa data do povo santareno. Cabe as associações e liderancas locais a fiscalização. Rumo ao progresso da Pérola do Tapajós!
Concordo com a matéria em parte, Não quero defender Prefeito ou Empresários, no entanto acho que o progresso tem que cheger um dia em nossa cidade e vai chegar cedo ou tarde, acho no meu humilde entendimento que se deve buscar formas e mecanismos para que esse desenvolvimento chegue de maneira a não impactar de forma brusca na vida dos santarenos, não estou dezendo que sou a favor disso ou dquilo mas sou um dos querem ver essa cidade crescendo não só em população e pobreza, mas crescendo também em empregos e renda.