Empresários usaram Estado do Tapajós para se promover
Três anos e oito meses depois da realização da consulta plebiscitária sobre a criação dos estados do Tapajós e Carajás, o advogado Eduardo Fonseca critica lideranças de Santarém que juravam amor eterno pela causa, mas que hoje, passaram para o lado do governador do Pará, Simão Jatene (PSDB). Empresários que na época apoiavam a criação do Tapajós e, que hoje fazem parte da base aliada de Simão Jatene, foram duramente recriminados pelo advogado Eduardo Fonseca. O plebiscito aconteceu no dia 11 de dezembro de 2011, em todas as cidades do Pará. Os eleitores responderam a duas perguntas “Você é a favor da divisão do estado do Pará para a criação do estado de Carajás?” e “Você é a favor da divisão do estado do Pará para a criação do estado do Tapajós?”. O número 77 correspondeu à resposta Sim para qualquer uma das perguntas. E o número 55 foi usado para o Não. Na época, apesar do Não vencer o Sim, os números mostraram um racha entre as populações. Em Santarém, que seria capital de Tapajós, 98,63% queriam a divisão. Em Marabá, que seria a capital de Carajás, 93,68% foram a favor da criação do novo Estado. Enquanto isso, em Belém, que segue como única capital, 94,87% foram contra a divisão do Estado. Por conta do empresário Olavo das Neves, que apoiou o plebiscito de 2011 ter assumido recentemente o cargo de presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico do Pará (CODEC), o advogado Eduardo Fonseca comentou que a questão já era previsível, por causa de algumas lideranças de Santarém levarem as coisas para lado individual e não para o lado coletivo. Acompanhe os principais detalhes da entrevista do advogado Eduardo Fonseca:
Jornal O Impacto: Como o senhor analisa essa questão de lideranças da região que apoiaram o movimento para a criação do Estado do Tapajós em dezembro de 2011 terem se aliado ao governador Jatene?
Eduardo Fonseca: Essa questão já era previsível, primeiramente porque o movimento do Estado do Tapajós, hoje, está apagado. Nós não temos lideranças políticas. Algumas dessas lideranças políticas existentes, hoje em Santarém, levam as coisas principalmente pro lado individual, do que pro lado coletivo. Tivemos a oportunidade de termos quatro deputados federais, na Constituinte a favor do Estado do Tapajós e não conseguimos; no plebiscito de 11 de dezembro de 2011, que acredito que foi muito mais uma questão própria dos que se diziam líderes, também não. Eles diziam que queriam realizar esse plebiscito, se juntaram e quiseram dividir toda essa região. Então, perdemos a única oportunidade que tivemos durante quase três séculos, para fazermos o Estado do Tapajós. Temos um Instituto que não é atuante, é muito tímido, muito acanhado. Então, não iremos para outro lugar, a não ser ficarmos realmente nessa situação que estamos hoje.
Jornal O Impacto: Todos esses fatores enfraquecem a luta pela criação do Estado do Tapajós?
Eduardo Fonseca: Tranquilamente. Primeiramente, o pessoal daqui de Santarém tem uma desculpa de dizer que o pessoal de Belém não deixa dividir. Mas, não deixa porque a maioria dos nossos líderes daqui tem o rabo preso com o pessoal de Belém. Aí não tem porque querer se desmembrar de Belém, porque eles saem daqui pegam um avião e amanhã está tudo resolvido a situação deles. A prova está aí, onde muita gente virou pro lado do Governador. Isso aí foi só cascata, os verdadeiros líderes do Estado do Tapajós já se foram, que eram Silvio Braga, Gabriel Hermes, Haroldo Veloso, Ubaldo Corrêa e outros. Esse pessoal trabalhou pelo Estado do Tapajós. Esse pessoal todo já se foi e, hoje, não existem mais lideranças para fazer isso.
Jornal O Impacto: Hoje, existem pessoas que querem se aproveitar do movimento em beneficio próprio?
Eduardo Fonseca: Tranquilamente. Foi o que eu disse. Hoje, nossas ditas lideranças políticas vão muito mais para o lado pessoal do que para o lado comunitário e deixa o povo do Tapajós de lado. Então, acredito que deveríamos fazer um movimento a favor do Estado do Tapajós e contra essas pessoas.
Jornal O Impacto: Existem alguns empresários que juravam amor eterno pelo Estado do Tapajós, mas que, hoje, como num passe de mágica passaram para o lado do Governo do Estado. Como o senhor observa essa transformação dessas pessoas?
Eduardo Fonseca: Volto a reforçar justamente o meu pensamento de que as pessoas estão muito mais preocupadas com o lado pessoal do que com o coletivo. Então, há um pensamento, se eu me dou bem fico em Santarém! Então, é isso que queremos observar. O movimento para a criação do Estado do Tapajós tem que nascer realmente das pessoas comprometidas com a causa. Deve ser visto se as pessoas realmente querem e se os organizadores estão fazendo um movimento de massificação, porque se não houver isso não vai existir nunca o Estado do Tapajós.
Jornal O Impacto: Essas pessoas que ‘viraram a casaca’ esquecem que Santarém está totalmente abandonada pela atual gestão estadual?
Eduardo Fonseca: É isso. As ruas da cidade estão totalmente intrafegáveis, o Estádio Colosso do Tapajós não foi concluído, o Ginásio Poliesportivo também, a Escola Tecnológica está longe de ser inaugurada. Tudo isso é conseqüência de apoiar e justamente ir para o lado do adversário. Alguns deles foram adversários na época da campanha, mas bastou o Governador fazer um pequeno sinal, que todos se voltaram pro lado dele. Então, se estão do lado do Governador quem é que vai falar contra ele? Essas pessoas que passaram pro lado do Governador vão fazer de conta que Santarém não está passando por esses problemas. Ainda temos que conviver com o problema da insegurança, que é total, não se restringe somente a Santarém, é no Brasil todo. As obras estão paralisadas, o País não tem dinheiro e ainda estão dizendo que vão construir isso e aquilo. É um engodo geral e, como santarenos nós estamos envolvido, assim como em outras cidades brasileiras. O governador Simão Jatene não dá nada de perspectiva para o nosso Município.
Jornal O Impacto: Verificamos que a base de apoio ao governador Jatene já está se articulando para as eleições municipais de 2016. Em relação a todos esses problemas de ordem administrativa que estão acontecendo em Santarém, o povo deve ficar em alerta?
Eduardo Fonseca: A questão da Democracia tem essas vantagens, porque em quatro anos se não prestar é só trocar. O problema é que ele está com a máquina administrativa nas mãos e vai procurar todo mundo que quiser passar pro lado dele. Ainda bem que este é o último ano que vai ter reeleição, mas quem está no poder se quiser se reeleger se reelege, porque nós ainda temos, como diz o samba de Dicró: “Se existe mais gente calado e safado é o eleitor”. Algumas pessoas se vendem por camiseta, cachaça, cesta básica. Mesmo com a fiscalização de crime eleitoral, nós temos um Município muito grande, onde esse tipo de expediente continua acontecendo nos interiores e nos bairros da periferia.
Jornal O Impacto: Devido a todos esses problemas políticos, a população de Santarém ainda pode sonhar com a criação do Estado do Tapajós?
Eduardo Fonseca: Eu entendo que deveríamos ter uma parada para reavaliar essa situação do Estado do Tapajós. Acredito que o Tapajós seria uma conseqüência do desenvolvimento econômico da região. Primeiramente, devemos lutar pelo asfaltamento total da BR-163, mas não temos um representante em Brasília para fazer isso. Aqui no Estado do Pará também não temos. Os que dizem que são representantes do Oeste do Pará são todos do lado do Governador. Então, não tem porque pressionar para fazer essa obra, que é o asfaltamento da BR-163, dentro do território paraense. O escoamento da produção de grãos do Centro-Oeste, que automaticamente tem que sair por Santarém, essa que seria a grande bandeira primeiramente. Aí viria o desenvolvimento econômico e com isso teríamos força para conquistar o Estado do Tapajós, mas primeiramente quem está ganhando a estrada são os representantes de Miritituba e não de Santarém!
Por: Manoel Cardoso