Izabel Sales: “Helenilson Pontes já vai tarde da Seduc”
Depois de muita pressão feita pela classe dos trabalhadores de educação do Pará, o titular da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Helenilson Pontes, entregou o cargo na última quarta-feira, 23. O anúncio foi confirmado pela Secretaria de Estado de Comunicação (Secom) ainda na noite de quarta-feira.
A Secom informou que o motivo para a saída do secretário é “pessoal”. A decisão foi tomada após uma reunião com o governador Simão Jatene, na tarde de quarta-feira. A Secom anunciou que quem assumirá a pasta da educação é a secretária adjunta de Ensino, Ana Cláudia Hage.
Durante a greve dos professores do Estado, no primeiro semestre deste ano, a classe dos educadores chegou a pedir a saída do ex-vice-governador. Os professores reivindicaram a suspensão dos descontos indevidos dos dias parados durante a greve da categoria, que iniciou no dia 25 de março e encerrou no dia 05 de junho.
Em várias cidades do Pará, os professores comemoram a saída de Helenilson Pontes, da Seduc. “Ele (Helenilson) já vai tarde! Toda a categoria está dizendo que ele já vai tarde. Demorou muito, porque o Governo colocou uma pessoa anti-social, sem a menor sensibilidade com a educação pública. Por ele ter ficado tanto tempo, isso prova que o Governador também não tem o menor compromisso com esse Estado”, declarou a coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Pará (Sintepp) em Santarém, professora Izabel Sales.
Ela admitiu que a classe espera que a nova Secretária Adjunta, que reunia sempre com as lideranças dos professores em Belém e, que sempre afirmava que não agia porque não tinha autonomia para tomar algumas decisões e logo de cara foi colocada como Secretária Adjunta, possa agir com mais autonomia. “Esperamos que ela (Ana Hage) agora possa agir com mais autonomia e que seja sensível para solucionar os problemas da educação no Pará”, declarou professora Izabel Sales.
Segundo ela, depois que Helenilson renunciou a classe não está falando em greve, no Pará. “Sempre fomos maltratados por ele e, não fomos ouvidos em nenhum momento. Também fomos chamados de vagabundos por esse senhor, que já vai tarde. Durante a audiência da Alepa em Santarém, foram unânimes as declarações dos professores, diretores e alunos sobre a péssima qualidade de estrutura das escolas do Estado. Mesmo assim, estamos trabalhando para que os alunos não percam o ano letivo. Queremos que as negociações com a nova Secretária avancem e, que o Governo retire esse desconto e, que negocie para que os alunos não sejam mais prejudicados do que já foram”, comenta professora Izabel.
Para ela, a expectativa dos professores para a nova gestão na Seduc não são muito animadoras. “Até porque o Governo é o mesmo. Já percebemos que com a política do PSDB, desse partido que administra o Estado, nós não temos grande expectativa de que vai haver uma revolução na educação pública. Esperamos pelo menos um pouco mais de sensibilidade da atual Secretária, para que ela consiga ser mais humana e veja os trabalhadores da educação como seres humanos, os estudantes como cidadãos de direito e dando as escolas públicas condições de ensino e aprendizado”, ressaltou a professora Izabel.
CAMPANHA CONTRA PONTES: A justificativa para a campanha de deposição de Pontes se confundiu às motivações da última greve: o Sindicato afirmou que o piso nacional do magistério, instituído por lei, não é pago e que houve uma redução abrupta na carga horária da jornada de trabalho do professor, mesmo com um déficit que seria de oito mil docentes.
Os professores do Estado voltaram a se reunir na quinta-feira, 24, mas decidiram não paralisar, porém, cobram que os descontos feitos pelo Governo do Estado na folha salarial deixem de ocorrer.
PRECOCIDADE: Prevendo um novo desgaste, Helenilson se antecipou e entregou o cargo. Fontes informaram que ultimamente, na tentativa de reformular a Seduc, Helenilson vinha se isolando, até mesmo dentro de seu próprio partido, que preside no Pará, o PSD. Na quarta-feira, 23, a sua convocação pela Assembléia Legislativa do Pará (Alepa) foi solicitada pelo deputado Lélio Costa (PCdoB).
Ainda segundo a fonte, Helenilson ligou na tarde de quarta-feira, 23, pouco antes de entregar o cargo, para o seu companheiro de legenda, deputado Júnior Ferrari (PSD), a fim de comunicar o gesto. Ferrari estava em Brasília e jantava com os deputados Raimundo Santos (PEN) e Martinho Carmona (PMDB) quando foi informado da decisão de Pontes renunciar do cargo da Seduc.
Desde o fim da greve, em junho deste ano, os professores afirmam que nunca foram recebidos pelo governador Simão Jatene. A maior conseqüência da falta de entendimento entre o governo e a categoria é o comprometimento do calendário escolar deste ano, que continua sem reposição das aulas. O Sintepp afirma que a suspensão dos descontos é condição para que a categoria negocie a reposição do conteúdo programático das escolas.
Além do fim dos descontos, os professores pretendem cobrar junto a nova Secretária de Educação, mais estrutura física nas escolas que, segundo eles, estão sucateadas e sem condições de abrigar a comunidade estudantil. Há escolas que não tiveram a reforma concluída e em outras as obras nem foram iniciadas.
ABANDONO DAS ESCOLAS: Um levantamento realizado pelo Ministério Público Federal (MPF) em parceria com o Ministério Público Estadual (MPE) apontou que grande parte das escolas do Pará está em condições precárias e apresenta algum tipo de deficiência de ordem estrutural, pedagógica e de inclusão. A Secretaria de Educação do Estado (Seduc) disse que ainda não recebeu o diagnóstico do Ministério Público.
De acordo com o Sintepp, cerca de 400 escolas estaduais estão com obras paradas no Pará, apesar do atual governo ser a continuidade do anterior, com a reeleição de Simão Jatene (PSDB).
EVASÃO ESCOLAR: A escola estadual Belo de Carvalho, que fica no bairro Livramento, em Santarém, aguarda há pelo menos 19 anos por reforma e, segundo a direção, já perdeu muitos alunos por falta de estrutura. No ano de 2006, o estabelecimento contava com 1.600 alunos, porém, muitos pediram transferência para outras escolas e, hoje, o colégio tem apenas 302 estudantes matriculados.
A escola foi fundada em 1980 e a última reforma aconteceu em 1996. Muitas salas de aula não são mais utilizadas porque não traz segurança aos estudantes e professores. O forro está prestes a cair. A quadra esportiva está tomada pelo mato. Até animais são encontrados no terreno da escola. O muro não existe mais. E mesmo após várias solicitações para que o problema fosse resolvido, até o momento a obra não iniciou.
Nos últimos anos os problemas de estrutura e segurança se agravaram. Uma parte do muro desabou facilitando a entrada de pessoas que não são da escola, aumentando assim a insegurança de alunos e professores, além de fiação elétrica exposta, teto com problemas no forro, dificultando a realização das aulas. “A caixa d’água caiu no meio do ano de 2013, desde aí não conseguimos nada. Nós funcionávamos com três caixas de água e agora só temos uma. Já o muro, no início de 2013 teve uma equipe que veio fazer uma metragem aqui, orçamento e depois não vieram mais. No final do ano de 2013 iniciaram a quadra, mas não concluíram”, relata a professora Luciana Sousa.
Por: Manoel Cardoso
Fonte: RG 15/O Impacto