Agricultor denuncia que sofreu maus tratos no Hospital Municipal de Santarém
O agricultor Francisco das Chagas, 55 anos, morador da Comunidade de Palmas do Ituqui, no planalto santareno, esteve em nossa redação para denunciar que sofreu maus tratos e, que ficou por 72 horas, sem receber atendimento médico dentro do Hospital Municipal de Santarém (HMS). Ele conta que foi internado no HMS, na segunda-feira, 12, com problemas cardíacos, onde ficou até quarta-feira, 14, sem ter sido avaliado por nenhum médico, sem ter recebido nenhum tipo de remédio e nem sequer tomado um soro.
“Primeiramente fui ao centro de saúde de Palmas do Ituqui, mas não fizeram nenhuma avaliação e me enviaram direto para o Hospital de Santarém, onde cheguei desacordado e falando muito mal. Minha esposa quase não entendia o que eu falava. Fiquei sem tomar nenhum remédio, eles me deram apenas Dipirona, que era pra amenizar a dor. Eu cheguei no Hospital Municipal sentindo muita dor nos peitos e nas costas”, diz Francisco das Chagas.
Ele afirma que sua esposa chegou a falar para os médicos, que ele é portador de problemas cardíacos, mesmo assim eles não deram atenção. “Os médicos pediram uma tomografia da cabeça, que foi feita. Foi batido um Raio-X e foi feito um eletrocardiograma, mas o médico plantonista nunca passou no leito que eu estava, para dar uma olhada ou para dar um diagnostico da minha situação”, afirma Francisco das Chagas.
O agricultor revela que foi colocado em uma cama e, que ficou no corredor do Hospital até quarta-feira (14), de onde saiu após sua esposa assinar um termo de compromisso. Francisco afirma que o corredor do Hospital Municipal se compara a um cativeiro, onde as pessoas são deixadas à própria sorte, passando todo tipo de sofrimento.
“Eles não deram nenhum diagnóstico da doença. Foi minha família que falou pra eles, que eu tenho problemas cardíacos. Isso porque eu tive acompanhamento de um médico cardiologista num período de seis anos, na Unidade de Ensino e Assistência em Saúde do Baixo Amazonas (UEASBA) antiga UBAM. No Hospital Municipal, eles não chegaram a me dar o resultado dos exames e não colocaram sequer um soro em mim”, assegura Francisco.
MAUS TRATOS: Quando viu o descaso, Francisco das Chagas conta que pediu para sua esposa lhe tirar do Hospital Municipal, temendo morrer por falta de atenção dos médicos. Para ele, a causa principal do grande número de mortes no Hospital Municipal de Santarém é o abandono dos pacientes.
“Se não eu não saísse ia morrer lá, porque é isso que acontece, o que patrocina esse grande número de mortes dentro do Hospital Municipal de Santarém é o abandono dos pacientes. O Hospital deve ser alvo de investigação severa pelas autoridades, porque as pessoas estão sendo jogadas no corredor, onde vão morrendo aos poucos e a míngua, onde não tomam remédios e nem se alimentam e vão enfraquecendo. Quando a pessoa já está totalmente debilitada, que cai e dá aquele surto é que eles levam pra sala de reanimação, onde o paciente chega em fase terminal e vai a óbito”, denuncia o agricultor.
Francisco reforça que assim como sua esposa, várias pessoas são obrigadas a assinar um termo de compromisso para poder tirar seus parentes de dentro do HMS, onde ficam jogados à própria sorte e não sabendo se os pacientes vão sair vivos. “Quando minha esposa pegou o prontuário, viu que tinham colocado que eu havia tomado vários medicamentos, mas isso não aconteceu. Agora vou denunciar o caso ao Ministério Público Estadual (MPE), que é para que abra uma investigação sobre os maus tratos que as pessoas estão passando dentro do Hospital Municipal de Santarém”, declarou Francisco das Chagas.
SUPERLOTAÇÃO: Médicos e pacientes do Hospital Municipal de Santarém têm sofrido com o descaso da saúde pública no município. Durante Assembléia Geral comandada pelo diretor Waldir Cardoso e o delegado Sindical Júnior Aguiar, em agosto deste ano, médicos do Município denunciaram a superlotação no Hospital Municipal de Santarém, que tem ocasionado sérios problemas no local.
Segundo os médicos, em uma das alas que atende pessoas com graves problemas de saúde, com capacidade para acomodar até seis pacientes, são colocados até 15 enfermos amontoados em macas, uma ao lado da outra. De acordo com os médicos, pacientes têm morrido nesta sala, pois não há respirador para todos os que estão internados no local.
Os profissionais da medicina relataram, ainda, que quando há queda de energia e vários pacientes precisam da ajuda de respirador para sobreviver, têm que ser socorridos através de um respirador manual pela equipe, mas, infelizmente, pacientes estão vindo à óbito.
Outro problema vivenciado pelos médicos que trabalham no Hospital Municipal de Santarém é a falta de vínculo trabalhista. De acordo com o diretor do Sindicato dos Médicos do Pará (Simdmepa), Waldir Cardoso, cerca de 90% dos profissionais da medicina que trabalham no local são contratados como pessoa jurídica que acaba não gerando vínculo algum com o hospital e causando grande instabilidade para os médicos e problemas para a gestão. “O contrato feito aos médicos do Hospital Municipal de Santarém claramente burla os direitos trabalhistas destes profissionais, fazendo com que eles não tenham direito à férias, 13º salário, licença maternidade, entre outros.
Por: Manoel Cardoso
Fonte: RG 15/O Impacto