Infectologista alerta sobre epidemia do Vírus Zika na região

Médica infectologista Mariana Quiroga
Médica infectologista Mariana Quiroga

Nos últimos meses, a população santarena vem acompanhando com muito temor o aumento de casos suspeitos de pessoas contaminadas pelo vírus Zika, que é transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti, o mesmo responsável pela transmissão do vírus da Dengue. Estudos e levantamentos realizados pelo Ministério da Saúde relacionam o vírus Zika com a má formação congênita de bebês.
Em entrevista exclusiva ao Jornal O Impacto, a médica infectologista Mariana Quiroga fez esclarecimentos sobre a situação atual dos casos, bem como, negou os boatos que circulam nas redes sociais, que diz que a má formação dos bebês tenha sido ocasionada pela aplicação de uma vacina vencida nas mulheres grávidas.
Jornal O Impacto: Dr. Mariana, qual é a situação dos casos de vírus Zika no Brasil? Existe a possibilidade de a epidemia que começou na Região Nordeste chegar a Santarém?
Dr. Mariana: Nós já temos casos suspeitos em várias regiões do Brasil, inclusive no estado do Pará, ainda não há casos confirmados, mas há notificação de três casos suspeitos. Por ser uma doença emergente, só a suspeita tem que ser notificada e investigada pela equipe da Vigilância Epidemiológica, por causa do risco de transmissão. No Brasil nós temos uma grande característica, a grande disseminação do Aedes Aegypti, que é o transmissor desta doença e de outras. Então, havendo o transmissor, o vírus pode ser disseminado pelo País todo.
Jornal O Impacto: Em sua opinião, o governo errou na abordagem da epidemia do vírus Zika no Nordeste, ou foi falta de conhecimento da doença?
Dr. Mariana: Na verdade, por ser uma doença nova para o País, existe pouco conhecimento sobre as complicações que ela pode trazer. Mas, a maioria dos pacientes que pegam o vírus é assintomática, apenas 20% dos infectados que tem contato com vírus desenvolvem a doença. E o caso que houve relacionado à microcefalia, que é a má formação do bebê, é um achado novo, para o mundo todo. Não há registro no mundo dessa associação do vírus Zika com a má formação congênita. É uma situação que ainda está sendo estudada, então, não tinha como ter previsto isto.
Jornal O Impacto: Nos estudos e levantamentos realizados pelo Governo, já está comprovada a relação entre o vírus Zika e a má formação de bebês?
Dr. Mariana: Já está comprovado, mas não que seja o agente causador, mas sim a existência dessa associação. A partir de um óbito de um bebê, onde foi investigado, foi verificada a presença do vírus, tanto no tecido cerebral, quanto sanguíneo, e a partir disso podemos determinar que há esta associação, mas não que seja exatamente o agente causador. Necessita-se de mais provas ainda para demonstrar que o vírus realmente cause a má formação.
Jornal O Impacto: Mesmo a maioria dos casos sendo assintomática, quais são os sintomas e como pode ser realizado o diagnóstico?
Dr. Mariana: Os sintomas são muitos parecidos nos três vírus, o da dengue, do Chikungunya e do Zika. Febre, dor de cabeça, dor muscular, dores nas articulações. Podem aparecer manchinhas no corpo, que inclusive, coçam. Isso se desenvolve por igual nos três vírus transmitidos pela Aedes Aegypti. A maioria dos casos é benigno, significa que somem todos os sintomas, inclusive o vírus some do corpo. A dengue é a que mais letalidade trás, tem mais casos de complicações, tem a dengue hemorrágica que a gente sabe que causa a morte. No caso da Chikungunya e do vírus Zika não se demonstraram mortes associadas/causadas pelos vírus ainda. O que tem é a relação com a má formação, no caso do vírus Zika.
Jornal O Impacto: Então, uma pessoa adulta que contraia o vírus Zika não apresentará problemas neurológicos.
Dr. Mariana: Os problemas neurológicos não foram diagnosticados em pacientes adultos, porque quem adoeceu foram pacientes grávidas, aí o vírus aparentemente estaria relacionado com má formação no feto. A mãe inclusive pode ser assintomática, pode ter o vírus, não manifestá-lo, e depois o bebê vir a nascer com má formação.
Jornal O Impacto: A senhora poderia esclarecer a informação que circula nas Redes Sociais, que diz que a má formação dos fetos estaria ligada aos efeitos de uma vacina vencida que foi aplicada em grávidas, e não por causa do vírus Zika?
Dr. Mariana: Isso é mais boato, e não tem nada cientificamente comprovado. A vacina vencida, o que ela vai ter de defeito, é que ela não vai fazer o efeito. O efeito esperado de uma vacina, é que ela ajude a imunidade e te proteja contra uma doença. Quando ela vence, e é aplicada, ela não terá a capacidade para te dar essa proteção. Mas não está relacionada, não houve nenhum relato de relação direta com a vacina vencida com má formação congênita. E a vacina em questão, falando da vacina da rubéola, é contra-indicada em grávida, então, nenhuma grávida poderia ter tido a indicação da vacina para rubéola.
Jornal O Impacto: O Sistema Público de Saúde tem como garantir atendimento para as pessoas infectadas pelo vírus Zika?
Dr. Mariana: O diagnóstico, por enquanto está sendo mais clínico, na suspeita, existe ainda poucos laboratórios de referência que fazem o exame, no caso do estado do Pará, é o Instituto Evandro Chagas, de Belém. A amostra para gente ter a certeza do diagnóstico, tem que ser coletada dentro da primeira semana de início dos sintomas, depois disso, a chance de fazer o diagnóstico é muito baixa. Uma vez levantada a hipótese de ser o vírus Zika, o médico deve avisar a vigilância epidemiológica municipal, coletar esta amostra, e essa amostra será enviada para Belém.
O tratamento da doença em si, não existe tratamento especifico, no mesmo caso da Dengue e do Chikungunya, é apenas tratamento sintomático. Se existir febre, o paciente tem que ficar em repouso, acalmar a dor, se ela existir. É contraindicado o uso de Ácido Acetilsalicílico, como Aspirina. Que pode ocasionar complicações. Mas não existe outro tratamento. O Estado está sim capacitado para fazer esse segmento.
No caso das grávidas, é orientar um pré-natal controlado. A recomendação atual, na verdade, está sendo evitar a gravidez. Porque, a nossa arma de prevenção é combater o mosquito, sabemos que na Amazônia a gente não consegue controlar o mosquito. Nós moramos no clima propício para o desenvolvimento do mosquito, embora a gente tenha medida que pode diminuir a quantidade de mosquito na área.
Recomendamos o uso de repelentes, tentar não se expor a ambientes com muitos mosquitos, evitar o horário de pico, que é no início do dia e no final da tarde. Usar camisas de mangas-compridas, e por fim, e mais eficiente, é a higiene dos domicílios, evitar água parada. Então, a prevenção tem que partir de cada um de nós. Para as pessoas que sentirem os sintomas, procurar atendimento, para que possa ser diagnosticado e investigado se realmente é vírus Zika.
MINISTÉRIO DA SAÚDE ATUALIZA NÚMEROS DE MICROCEFALIA RELACIONADOS AO ZIKA: Novos casos de microcefalia, relacionados à infecção pelo vírus Zika, foram divulgados na terça-feira, 15, pelo Ministério da Saúde. De acordo com o novo Boletim Epidemiológico foram registrados 2.401 casos da doença e 29 óbitos, até 12 de dezembro deste ano. Esses casos estão distribuídos em 549 municípios de 20 Unidades da Federação.O informe divulgado detalha, pela primeira vez, os primeiros casos confirmados e descartados. Do total de suspeitos notificados, foram confirmados 134 e descartados 102. Continuam em investigação 2.165 casos. Foi confirmado um óbito e descartados dois. Permanecem em investigação 26 mortes.
A investigação dos casos de microcefalia relacionados ao vírus Zika é feito em conjunto com gestores de Saúde de estados e municípios. O novo informe traz ainda os seis novos Estados (Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, São Paulo e Rio Grande do Sul) que notificaram casos suspeitos. Equipes técnicas de investigação de campo do ministério da Saúde estão trabalhando nos estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe e Ceará.
LABORATÓRIOS: A circulação do vírus Zika é confirmada por meio de teste PCR, com a tecnologia de biologia molecular. A partir da confirmação da circulação do vírus em uma determinada localidade, os outros diagnósticos são feitos clinicamente, por avaliação médica dos sintomas. Durante a apresentação dos novos dados de microcefalia, o diretor de Vigilância das Doenças Transmissíveis, Claudio Maierovitch, disse que o Ministério da Saúde está trabalhando no fortalecimento do diagnóstico para o vírus Zika.
Ele explicou que 18 laboratórios já estão capacitados, sendo 13 centrais e cinco de referência. O teste para a confirmação do vírus Zika deve ser feito, de preferência, nos primeiros cinco dias de manifestação dos sintomas. Vale ressaltar que o vírus Zika é de difícil detecção, já que cerca de 80% dos casos infectados não manifestam sinais ou sintomas.
Além de destacar o fortalecimento da rede de laboratórios, Claudio Maierovitch, alertou para os cuidados necessários neste verão. “É muito importante, neste período de festas e férias, que as pessoas, antes de viajarem, façam uma varredura geral em suas casas, eliminando todos os possíveis focos do mosquito. Devido às condições climáticas, esse período de verão é um momento de maior circulação do mosquito”, alerta Maierovitch.
O Ministério da Saúde estuda, junto com especialistas e gestores locais de saúde, um novo modelo de notificação. Este novo modelo de avaliação faz parte dos estudos que envolvem o vírus Zika, uma doença nova que chegou ao Brasil em maio deste ano e é desconhecida para a literatura mundial.
O teste para a confirmação do vírus Zika deve ser feito, de preferência, nos primeiros cinco dias de manifestação dos sintomas.
PROTOCOLO: Além do protocolo emergencial de vigilância e resposta aos casos de microcefalia relacionados à infecção pelo Zika, o Ministério da Saúde lançou, nesta segunda-feira (14), o Protocolo de Atenção à Saúde e Resposta à Ocorrência de Microcefalia Relacionada à Infecção pelo Vírus Zika. O documento orienta o atendimento desde o pré-natal até o desenvolvimento da criança com microcefalia, em todo o País. O planejamento prevê a mobilização de gestores, especialistas e profissionais de saúde para promover a identificação precoce e os cuidados especializados da gestante e do bebê.
O principal objetivo do Protocolo é orientar as ações para a atenção às mulheres em idade fértil, gestantes e puérperas, submetidas ao vírus Zika, e aos nascidos com microcefalia. Este plano recomenda, ainda, as diretrizes para o planejamento reprodutivo, a detecção e notificação de quadros sugestivos de microcefalia e a reabilitação das crianças acometidas pela malformação congênita.
O documenta reforça o papel das equipes de saúde na oferta de métodos contraceptivos e na orientação de mulheres em idade fértil e casais que desejam engravidar, especialmente sobre os cuidados necessários para evitar infecção pelo vírus Zika durante a gravidez. As equipes também terão de intensificar a busca ativa de gestantes para o início oportuno do pré-natal e acompanhar o desenvolvimento dos nascidos com microcefalia.
Outro destaque do protocolo é a ampliação do acesso aos testes rápidos de gravidez. O Ministério da Saúde estima que serão investidos entre R$ 5 milhões e R$ 6 milhões para que os testes estejam disponíveis em todas as unidades da Atenção Básica do País.
PLANO NACIONAL: No dia 5 de dezembro, foi lançado o Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia. Trata-se de uma grande mobilização nacional envolvendo diferentes ministérios e órgãos do governo federal, em parceria com estados e municípios, para conter novos casos de microcefalia relacionados ao vírus Zika. O Plano é resultado da criação do Grupo Estratégico Interministerial de Emergência em saúde Pública de Importância Nacional e Internacional (GEI-ESPII), que envolve 19 órgãos e entidades.
O plano é dividido em três eixos de ação: Mobilização e Combate ao Mosquito; Atendimento às Pessoas; e Desenvolvimento Tecnológico, Educação e Pesquisa. Essas medidas emergenciais serão colocadas em prática para intensificar as ações de combate ao mosquito.
Por: Edmundo Baía Júnior
Fonte: RG 15/O Impacto

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