Futebol de Santarém tem que ser mais profissional

Comentarista esportivo diz que falta mais diálogo e união entre as equipes
Comentarista esportivo diz que falta mais diálogo e união entre as equipes

Em 2016, o Campeonato Paraense tem como atração principal a grande quantidade de times do interior na disputa. Reflexo do processo de regionalização do estadual proposto nos últimos anos pela Federação Paraense de Futebol (FPF), o torneio tem 10 times representando 7 cidades. A cidade de Santarém é a mais representada, com três clubes na busca pelo título: São Raimundo, São Francisco e Tapajós. Porém, mesmo com tanta representatividade, o futebol santareno está fora das finais do primeiro turno, com as três equipes amargando resultados ruins, inclusive em casa. Diante deste contexto, o Jornal O Impacto conversou com o comentarista esportivo Paulo Tihamer, da Rádio e TV Tapajós, sobre a importância da participação da cidade no campeonato estadual e o desempenho das equipes. Segundo o entrevistado, erros de planejamento, dificuldades financeiras e até mesmo o mal aproveitamento das categorias de base são fatores que influenciam neste processo. Confira os principais detalhes da entrevista:

Jornal O Impacto: O que significa para Santarém ter três times na elite do Futebol Paraense?

Paulo Tihamer: É um fato inédito para Santarém, uma cidade do interior colocar três times na elite. Desconheço no mundo um feito como este. Para dar um exemplo, temos no estado de São Paulo, a cidade de Campinas, que é do interior, possui o Guarani e a Ponte Preta que nem sempre estão na divisão de elite, principalmente pelo Guarani que não tem feito boas temporadas ultimamente. Você tem no Rio Grande do Sul também, a cidade de Caxias, que possui dois times, o Juventude e o Caxias e muitos outros estados que possuem equipes interioranas, mas no máximo dois por cidade. É um ano importante para o futebol santareno e a ascensão destas equipes pode ser um passo fundamental para a consolidação do profissionalismo do esporte e a responsabilidade aumenta. Na mesma proporção que se tem 30% dos clubes que participam do Parazão e que podem ir para a Série D, você tem também a possibilidade de figurar entre os dois rebaixados. Não quero aqui diminuir a importância deles, mas quero ressaltar que, ter três times vai significar algo bom se eles tiverem bons resultados. Se conseguirmos manter esses três times na primeira divisão o futebol santareno já sai ganhando e se, de repente, algum deles consegue vaga nas competições nacionais será maravilhoso.

Jornal O Impacto: Manter três clubes em atividade é um desafio que envolve esforço e arrecadação de recursos. Você acredita que a parte financeira pode trazer alguma complicação para as equipes?

Paulo Tihamer: Eu sempre tenho dito que ao mesmo tempo que é um motivo de muita alegria, acaba sendo também um motivo de preocupações. Desde o começo o que poderia ter sido observado, é que acabou acontecendo uma pulverização. Nos últimos anos tínhamos no máximo São Raimundo e São Francisco, tendo o Pantera ficado sozinho por algum tempo porque o Leão ficou 11 anos fora do futebol profissional. Quando o São Francisco voltou em 2011, na temporada seguinte o São Raimundo caiu deixando o São Francisco sozinho. No ano passado surge o Tapajós, como uma grata surpresa, mantendo a dinâmica de dois times na primeira divisão. Agora temos três equipes na mesma divisão e não vou dizer que isto seja ruim, mas o mercado de Santarém, envolvendo os empresários e o poder público, não tem como absorver tantos clubes. Já era difícil quando tinha apenas um para garantir os recursos imagine agora dividir o bolo em três partes. As circunstancias também não ajudam, o País atravessa um momento difícil na economia e a crise também afeta nosso Estado e a nossa Cidade. Um número maior de participantes significa um número maior de partidas e o torcedor também não vai ter condições de estar presente em todas as partidas, o que pode afetar a renda. Quando não se tem público no estádio você sacrifica ainda mais os clubes diminuindo a possibilidade de investimento deles.

Com a falta de dinheiro, os clubes acabaram por fazer elencos modestos. No quesito renda ainda não dá para concorrer com Remo e Paysandu que vão ter sempre mais recursos. Isto afeta diretamente nas quatro linhas, porque os times da capital vão formar sempre times mais qualificados que os nossos. Um time de Santarém pode ter uma folha de pagamento dez vezes menor do que a folha da dupla RE & PA. Até mesmo os outros times das demais cidades levam alguma vantagem. Por serem, em sua grande maioria, um time por cidade, a quantidade de recursos pode ser melhor aproveitada.

Jornal O Impacto: Todo início de temporada a esperança do torcedor em ver um time local conquistar uma vaga nas competições nacionais e até mesmo conquistar o título da competição se renova, mas no final das contas as equipes acabam decepcionando. Na sua opinião, quais são os fatores que levam a isso?

Paulo Tihamer: Ainda existem muitas falhas no planejamento das equipes. Nesta temporada, por exemplo, os clubes não tinham nem mesmo campo para treinar devido a forte estiagem e Santarém ainda deixa muito a desejar neste ponto, que é a falta de campos adequados e aí já começa a disputa destes times entre si para conseguir um campo para treinar. Outro ponto é o curto tempo de preparação, pois todos apresentaram elenco depois do dia 5 de janeiro para um campeonato que começou no dia 30 de janeiro. Você observa que foram 25 dias para se preparar para a temporada, mas dentro deste prazo, os jogadores tiveram que passar por exames médicos e físicos e a partir daí que o técnico pode fazer os treinos técnico e tático. Os treinamentos de fato se resumem a 10 dias e você não tem condições de fazer um trabalho que proporcione ao jogador uma preparação completa para a competição. Os atletas só atingem realmente um nível bom para competir lá pela terceira ou quarta rodada.

O Paraense não é bem um campeonato e sim um torneio onde você tem quatro jogos no primeiro turno e cinco no segundo e neste número reduzido de partidas que os clubes têm que definir seu futuro, se serão rebaixados, se serão campeões ou classificados para Copa do Brasil e Série D. Se você inicia mal a competição, muito provavelmente você terá dificuldades de alcançar bons resultados quando a competição afunilar nas fases decisivas. Na reta final do primeiro turno já é possível observar das três equipes santarenas, duas começaram mal e já são obrigadas a fazer campanhas excepcionais no segundo turno. No caso do Tapajós, para tentar evitar um possível rebaixamento e caso do São Raimundo, tentar se manter na briga por uma vaga na Série D.

Jornal O Impacto: Muitas pessoas comentam que o futebol de Santarém é profissional, mas ainda apresenta características de futebol amador. Você concorda com esta afirmação?

Paulo Tihamer: Vou dizer que ainda temos que aprender a fazer futebol profissional. Neste aspecto, devo incluir até mesmo a própria imprensa que também está em fase de aprendizado na cobertura de grandes eventos esportivos como o campeonato estadual. Os diretores em alguns momentos agem como se fossem amadores, tanto prova, que neste primeiro turno com as equipes sofrendo resultados negativos, eles querem atribuir a responsabilidade a terceiros. Um exemplo é a reclamação que eles fazem sobre o regulamento, que é formulado pela Federação Paraense de Futebol (FPF), mas é aprovado por eles mesmos. No edital de convocação da reunião que discute o regulamento fica muito claro que o presidente do clube ou um representante devidamente autorizado devem estar presentes. Mas, existem casos, que os dirigentes locais não vão para a reunião e nem sequer mandam representantes e assim se perde a possibilidade de debater e colocar em discussão os anseios dos clubes do interior. É preciso ter uma representação mais eficiente neste sentido e não deixar que sejamos prejudicados por fatores extra-campo. Falta, também, mais diálogo e união entre as equipes. Quando se chega em um congresso técnico da FPF, muitas das vezes, o Tapajós defende uma coisa, o São Raimundo outra e o São Francisco outra coisa diferente. Por quê não há uma união entre eles para defender o melhor para ambos? Será que não é possível que as diretorias não se reúnam e definam um conjunto de ações ou ideias que possam defender juntas a FPF? Quando estiverem lá, os diretores locais também devem ter o cuidado, também, de trazer os clubes do interior para dentro das idéias. Quem comanda o futebol do Pará atualmente é o interior, que detém 80% dos times participantes. Nos dias de jogos, dentro de campo, a rivalidade é interessante e algo muito gostoso no futebol, mas fora dele os clubes devem se manter unidos. Se não houver união o futebol de Santarém e das demais cidades do interior não vão conseguir nada e Remo e Paysandu vão continuar dominando o cenário estadual.

Jornal O Impacto: Mesmo com tantas opções de jogadores na cidade e na região os times profissionais ainda buscam jogadores de fora do Estado para montar seus elencos. Por quê as categorias de base não conseguem suprir esta demanda?

Paulo Tihamer: A culpa tem que ser dividida por todos. Primeiramente, o jogador precisa saber se ele realmente quer ser jogador profissional e quem quer se atleta precisa ter cuidado com algumas coisas. Podemos acompanhar durante os campeonatos das categorias de base que os jogadores mantém uma rotina totalmente fora do padrão. Você vai ver jogadores, muito deles menores, que jogam, mas não abrem mão do uso de drogas, principalmente álcool e cigarro. Como é que você vai fazer a base de jogadores profissionais tendo uma realidade como esta? A base não é somente formar times com jogadores de 14 a 17 anos. A base envolve, também, uma estrutura que você vai dar para aquele garoto que vai representar os clubes profissionais no futuro. Se de cada 100 meninosda base, 10 deles se tornarem profissionais já é lucro, mas seria muito melhor que desses 100, mesmo os 90 que não seguirão carreira, todos fossem cidadãos, imagina o ganho que se proporciona à sociedade. Os clubes têm que incluir o acompanhamento de profissionais como pedagogos, psicólogos, médicos e outros que possam ajudar nesta formação. Sabemos que isto requer um custo alto, mas não é impossível. Temos faculdades na cidade que formam vários desses profissionais. Na ausência do dinheiro, por que não trabalhar com uma parceria? Os times entram com a demanda, as faculdades podem indicar acadêmicos e por meio do estágio poderia suprir esta necessidade.

Não se pode exigir dos jogadores revelados aqui que eles cheguem no futebol profissional e arrebentem. Dar a bola e fazer ele correr daqui para ali não é base. Esse garoto acaba ficando sem acompanhamento nenhum. Você não sabe como ele está na casa dele, se está se alimentando bem, se a família está desagregada. Muitos dos garotos que estão nas escolinhas de futebol são de bairros periféricos, que vivem algum tipo de situação de risco e o futebol é a válvula de escape.

Jornal O Impacto: É possível montar uma equipe competitiva para o Paraense formada só por jogadores da região?

Paulo Tihamer: Acredito que sim. Mas, não posso dizer simplesmente que esta seja a fórmula mágica para o ano que vem. Para dar certo isto deve consistir em um projeto a médio prazo contando com o aprimoramento das categorias de base. Em 1976 e 1977, o Esporte Clube Santarém foi o primeiro profissional a participar do Paraense, com um elenco formado com jogadores e comissão técnica exclusivamente da região e era um time bom. Naquela época Remo e Paysandu eram fortíssimo, pois disputavam a primeira divisão do Campeonato Brasileiro e mesmo assim fez duas campanhas medianas, apesar das dificuldades de uma época mais remota. Essa equipe também disputou amistosos contra equipes grandes do futebol carioca como o Botafogo de Marinho Chagas, o Flamengo de Zico e nenhum deles conseguiu vencer o Esporte Clube Santarém no antigo estádio Elinaldo Barbosa. Se foi possível naquela época, por que não daria certo agora? Temos muitos bons jogadores em cidades próximas como Monte Alegre e Mojuí dos Campos, que se passarem por uma boa preparação podem sim representar bem a região no estadual.

Jornal O Impacto: O que esperar das equipes de Santarém para o segundo turno de 2016?

Paulo Tihamer: Apesar de todos os fatores negativos, a gente espera sempre que as equipes possam alcançar bons resultados. O primeiro turno já passou e deve ser página virada para os clubes. Neste intervalo de jogos, todos vão procurar fazer ajustes para viabilizar uma melhora na competição e esperamos que esses ajustes possam surtir algum efeito. Apesar da campanha neste primeiro turno não ter saído como o esperado, nem tudo está perdido e a gente espera que as coisas melhorem.

Da Redação

Um comentário em “Futebol de Santarém tem que ser mais profissional

  • 26 de fevereiro de 2016 em 16:04
    Permalink

    Santarém, como qualquer outra cidade que não seja capital(e a maioria das capitais também), não têm a mínima condição de ter 03 times profissionais, é economicamente impossível. Mas, os times daqui não são profissionais, são times de temporada, que servem de estadia por pouco tempo para jogadores de baixíssimo nível, que se sujeitam a treinar em “terrões”, a comer mal, morar mal,e etc, etc e etc. Podemos até ter 02 times profissionais aqui, mas será mais pela tradição de São Raimundo e São francisco( no amador e no passado) e pelo baixo nível do futebol do campeonato, Paraense do que por profissionalismo. Tem que ter ao menos um bom campo e um alojamento para os atletas, isso é apenas o básico do básico.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *