Informe RC
A JARARACA- I
Do dramaturgo, cineasta e escritor Arnaldo Jabor.
O atraso do país será perpetuado em nome da burrice ‘progressista’. Nunca vi o Brasil tão esculhambado como hoje. Não há outra palavra que nos descreva. Já vi muito caos no país, desde o suicídio de Getúlio até o porre do Jânio Quadros largando o poder, vi a morte de Tancredo na hora de tomar posse, vi o país entregue ao Sarney, amante dos militares, vi o fracasso do plano Cruzado, vi o escândalo do governo Collor, como uma maquete suja de nossos erros tradicionais, já vi a inflação a 80% num só mês, vi coisas que sempre nos deram a sensação fatalista de que a vaca iria docemente para o brejo, de que o Brasil “sempre” seria um país do futuro. Eu já senti aquele vento mórbido do atraso, o miasma que nos acompanha desde a colônia, mas nunca vi o país assim. Por que chegamos a tal ponto, até a explosão das manifestações no país inteiro anteontem? Tudo foi causado pelas ideias que formaram o imenso rabo de jararaca que nos esmaga hoje e que provavelmente nos levará a esmagar a cabeça da serpente.
A JARARACA- II
As catástrofes econômicas e políticas que podem ainda destruir o país foram os mandamentos fiéis de um catecismo comunista boçal que essa gente adotou em 1963 e agora repetiu de 2002 em diante. Nos meus 20 anos, era impossível não ser “de esquerda”. Nós queríamos ser como os homens heroicos que conquistaram Cuba, os longos cabelos de Camilo Cienfuegos, o charuto do Guevara, a “pachanga” dançada na chuva linda do dia em que entraram em Havana, exaustos, barbados, com fuzis na mão e embriagados de vitória. A genialidade de Marx me fascinava. Um companheiro me disse uma vez: “Marx estudou Economia, História e Filosofia e, um dia, sentou na mesa e escreveu um programa racional para reorganizar a humanidade”. Era a invencível beleza da Razão, o poder das ideias “justas”, que me estimulava a largar qualquer profissão “burguesa”. Entrei para o PCB e nas primeiras reuniões de base, para meu desespero, me decepcionei. O pensamento político e existencial deles era simplista, partindo sempre de uma ideia para depois chegar a ela de novo. Nas reuniões e assembleias, surgia sempre essa voz rombuda da burrice ideológica.
A JARARACA- III
Em vez do charme infinito dos cubanos, comecei a ver o erro, plantado em duas raízes: ou o erro de uma patética estratégia inócua ou a Incompetência, a mais granítica, imaculada incompetência que vi na vida. O ponto de partida da incompetência é se sentir competente. O homem “bom” do partido não precisa estudar nem Marx nem nada, apenas derramar sua “missão” para o povo. Administrar é coisa de burguês, de capitalista. Para eles, o Estado é o pai de tudo. Logo, o dinheiro público é deles, a empresa pública é deles, roubar é “desapropriar” a grana da burguesia. A incompetência do comuna típico é o despreparo sem dúvidas, é a burrice alçada a condição de certeza absoluta. É um ridículo silogismo: “Eu sou a favor do bem, logo não posso errar e, logo, não preciso estudar nem pesquisar”. A verdade é que odeiam o que têm de governar: um país capitalista. Como pode um comuna administrar o capitalismo? Todos os erros e burrices que eu via nas reuniões do PC eram de arrepiar os cabelos. Eu pensei horrorizado, quando vi o PT no poder: vão fornicar tudo. Fornicaram. Assim, se organiza a burrice, a adoção só de ideias gerais, o desejo de fazer o mundo caber num ideário superado.
A JARARACA- IV
Daí a desconfiança no mercado, nos empreendedores, contra todos os que trabalham no centro da sociedade civil, que comunas veem como uma anomalia atrapalhando o Estado. Vivíamos assediados por lugares comuns. O imperialismo era a “contradição principal” de tudo. As discussões intermináveis, os diagnósticos mal lidos da Academia da URSS sempre despencavam, esfarinhavam-se diante do enigma eterno: “o que fazer?”. E ninguém sabia. O que aconteceu com esse governo foi mais um equívoco na história das trapalhadas que a esquerda leninista comete sempre. Erraram com tanta obviedade, com tanto desprezo pelas evidências de perigo, que a única explicação é o desejo de serem flagrados. O fracasso é o grande orgulho dos revolucionários masoquistas. Pelo fracasso constrói-se uma espécie de “martírio enobrecedor”, já que socialismo hoje é impossível.
A JARARACA- V
A história de nossa esquerda é uma sucessão de derrotas. Derrota em 1935, derrota em 1964, derrota em 1968, derrota na luta armada, derrotas sem fim. Até que surgiu, nos anos 1970, um homem novo: Lula, diante de um mar de metalúrgicos no ABC. Aí, começou a romaria em volta da súbita aparição do messias operário. Tive pavor de que a velha incompetência administrativa e política do “janguismo” se repetisse no Brasil, que fora saneado pelo governo de FHC. Não deu outra. O retrocesso foi terrível porque estava tudo pronto para a modernização do país; mas o avião foi detido na hora da decolagem. Hoje, vemos mais uma “revolução” fracassada; não uma revolução com armas ou com o povo, mas uma revolução feita de malas pretas, de dinheiro subtraído de estatais, da desmoralização das instituições republicanas. Hoje, vemos o final dessa epopeia burra, vemos que a estratégia de Dirceu e seus comparsas era a tomada do poder pelo apodrecimento das instituições burguesas, uma espécie de “stalinismo de resultados”. Os quadrilheiros do governo não são de esquerda, não; são de direita, autoritários. O incrível é que os intelectuais catequizados ainda pensam: “o PT desmoralizado ainda é um mal menor que o inimigo principal — os tucanos neoliberais”. O PT ainda é o ópio dos intelectuais. Se continuar assim, o atraso do país será perpetuado em nome da burrice “progressista”. O diabo é que burrice no poder chama-se “fascismo”.
O POVO NÃO AGUENTA
Enquanto o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, substituto de Joaquim Levy, exonerado, a pedido do ex-presidente Lula, e sua equipe econômica procuram um milagre de tirar o Brasil do fundo do poço, colocado pela companheira Dilma e seu antecessor, com efeitos em sua nomeação para a chefia da Casa Civil, suspensa por liminares concedidas pela Justiça e decisão monocrática de um ministro do Supremo, acusado por enes suspeitas de corrupção e querer se abrigar no foro privilegiado, fugindo a pedidos de prisão da Operação Lava Jato, e tentar manter como ministro, à custa do dinheiro surrupiado dos cofres do governo, o projeto de poder da companheirada de legendas aliadas com partes pagas, o ministro da Fazenda, com forte tendência petista, declarou, semana anterior, que começa a ver uma luz no fim do túnel. Ele enxerga, mas o povo não vê. Mas como, se os preços de alimentos aumentou próximo a 1% em fevereiro e, ainda este mês de março até o dia 31, os remédios terão reajuste de até 12,5%, valores muito acima da inflação? Isso sem contar com o preço da energia.
EM BREVE, O POVO VAI SABER
Caso a companheira Dilma e o PT venham a ser retirados do poder, como mostra o andar da carruagem, por excesso de corrupção nos governos petistas, e venham a ser apurados os valores desviados do BNDES, destinados a países companheiros e empresários amigos, do FGTS, Fundo de Pensões das estatais, e de todos os setores do governo tomados pela gatunagem, os bilhões de dólares desviados da Petrobrás por partidos e políticos ainda em apuração pela Operação Lava Jato, ligados à base política do governo, dentro e fora do Congresso, devem, se atualizados, bater na casa dos trilhões. O tempo, senhor da razão, vai mostrar. O maior estouro vai ser no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, o FGTS, de onde são pagos o Seguro Defeso e financiamento das casas do programa Minha Casa Minha Vida, usando bilhões de reais nos governos Lula e Dilma, cujos imóveis, na maioria dos estados, estão dando dor de cabeça a Caixa Econômica. Está em pauta, na Câmara Federal, uma Medida Provisória que limita os gastos com o dinheiro do trabalhador e que sejam aplicados em habitações, em municípios com menos de 50 mil habitantes. Em Santarém, mais de 5000 mil imóveis, há 5 anos em construção, ainda não deram sinal de quando vão ser entregues aos compradores. Deve haver um motivo.
DE NOVO ALENQUER
Em Alenquer, onde sua população, de maneira ordeira e pacífica, assiste o entra e sai da prefeitura, do prefeito mais corrupto de sua história, o Flávio Marreiro, desta vez, no cargo, por decisão do juiz local, Gabriel Veloso. Embora possa ter sido juridicamente legal o seu retorno, o povo não entende de leis para se conformar. A coluna recebeu pedido para ser transmitido para o magistrado. Vamos lá: que mantenha sua solicitação feita ao Juízo, pelo Promotor de Justiça, que pediu bloqueio de 60% do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e 78% do SUS e FUNDEB para garantir o pagamento dos funcionários municipais até o dia 5 do mês seguinte, como determina a Constituição, para o dinheiro não tomar Doril, como vem ocorrendo há mais de 3 anos, e determine a prefeitura a derrubar o antigo porto, em frente à cidade, condenado pela Defesa Civil do estado e do município, com verbas do estado, repassados ao município, construído com material de R$1,99, como afirmam os ximangos. Pedido feito.
BREVE VAI ACABAR
O Brasil é o único país do mundo onde movimentos sociais, alguns fantasmas, sem endereço e CNPJ, como o dos Sem Terra, invadem os prédios públicos e privados, depredando, ateando fogo e roubando, sobrevivendo à custa do dinheiro da União e não são punidos por serem, nesta época do impeachment, paus mandados do governo nas passeatas de rua de apoio à presidente e ao PT. Nesta segunda semana do mês, em Vitória, no Espirito Santo, MST, Movimento de Pequenos Agricultores e CUT, às 5 h da manhã, invadiram a sede do governo Capixaba, pedindo melhor tratamento aos homens do campo na luta contra a seca. Obrigação do INCRA. No norte do Rio Grande do Sul, 500 pessoas do MST e Atingidos por Barragens, ocuparam uma fazenda de 500 hectares e pedem sua desapropriação. Obrigação, também, do INCRA. No nordeste do Paraná, no município de Araupes, nessa segunda quinzena do mês, desocupados do Movimento dos Sem Terra invadiram um viveiro e destruíram 1,2 milhões de mudas de pinho, que estavam sendo preparadas para o plantio em áreas de reflorestamento, causando prejuízo de 5 milhões de reais. Aí vira caso de Polícia! Esses crimes, pelos quais ficam impunes, breve irão acabar. Ou, pelo menos, vão prestar conta com a Justiça.
FALSA REVOLTA
Antigos comerciantes, hoje empresários, que exercem suas atividades no trecho da rodovia Santarém/Cuiabá, do Cais do Porto ao Viaduto “área urbana da cidade”, estão revoltados com o Ministério Público do Estado e fiscais da Prefeitura, que exigem, dando prazo, a retirada das puxadas cobertas e paradas de veículos na área onde exercem suas atividades, deixando livre para pedestres, com multas para desobedientes da mixaria de 50 reais. Mas o pior está por vir, a companheira Dilma encaminhou para apreciação das duas casas do Congresso (Câmara e Senado) Medida Provisória que penaliza com multas que podem chegar a R$19.000,00 quem deliberadamente ocupa vias públicas. A Câmara Federal já analisa a MP, que modifica o Código de Trânsito Brasileiro (lei nº 9.503/97), para prever como infração gravíssima a conduta de usar veículos para restringir ou perturbar deliberadamente a circulação nas vias públicas.
ATOS E FATOS
PARA PISAR_ Do bispo auxiliar de Aparecida-SP, Dom Darci José Nicioli, em seu sermão semanal, após Lula se comparar a uma jararaca e dizer que a Polícia Federal acertou no rabo, não na cabeça: “Peço, meu irmão e minha irmã, a graça de pisarem na cabeça da serpente daqueles que se autodenominam jararacas”._ TRISTEZA_ Da ex-presidenciável Marina Silva, criticando Lula, que incita a militância petista para defende-lo nas ruas, das acusações da Lava Jato: “É triste ver um partido fazer apologia do confronto para se defender. Qualquer incitação à violência, é preocupante”._ ESCOLHIDO A DEDO_ Afirmação do ainda senador, Delcídio do Amaral, na sua delação premiada, para liderar a bancada do governo no Senado: “Fui escalado para líder do governo pela Dilma e pelo Lula para barrar a Lava Jato”. _ PAI CORUJA_ Do ex-presidente Lula elogiando os dons financeiros do filho Lulinha: “Esse menino é o Ronaldinho dos negócios”. _OS SINOS BATEM_ Um padre da paróquia de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, bateu o sino da igreja por 40 minutos, despertando os fiéis para a inusitada situação. Justificativa: protestava contra a nomeação de Lula._ NÃO MERECE_ De um ministro do Superior Tribunal de Justiça “STF” em resposta aos ataques do ex-presidente à Justiça: “Lutamos para que o rico criminoso não se torne ministro”. _ IRONIA DO DESTINO_ Do ex-presidente Lula em 1998: “No Brasil é assim: quando um pobre rouba vai para a cadeia, mas quando um rico rouba, vira ministro”. Como está milionário, deve ter mudado de pensamento. _MELHOR EXPLICANDO_ Do juiz federal Sérgio Moro: “A sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, que agem protegidos pelas sombras. O importante é que as autoridades eleitas e os partidos ouçam a voz das ruas”.