Pedidos de refúgio de venezuelanos em Roraima cresce 110%
Ao menos 493 venezuelanos procuram a Polícia Federal em Roraima para pedir refúgio nos primeiros sete meses deste ano. O número representa 110% a mais do que os 293 pedidos registrados ao longo de todo o ano de 2015. Para a PF, o ‘aumento sensível’ nos pedidos ocorre devido à crise econômica vivida no país que faz fronteira com Roraima, e que está a 250 km da capital Boa Vista.
Conforme o delegado da PF Alan Robson, os venezuelanos que entram em Roraima buscam se legalizar no país através de pedidos de refúgio. Esta modalidade é destinada a estrangeiros que, por motivos de perserguição política, religiosa e ideológica, não podem mais viver no país natal.
Ele afirma que o aumento de imigrantes venezuelanos é tão grande que a PF teve de reforçar o efetivo policial em Pacaraima, cidade que faz fronteira com o município de Santa Elena de Uairén, na Venezuela.
“O número de pedidos de refúgios de venezuelanos supera o de todos outros estrangeiros”, avalia Robson
Ele explica que para se legalizarem no país, os venezuelanos procuram a delegacia da PF de Pacaraima ou a Superintendência da Polícia Federal em Boa Vista.
“No caso dos pedidos de refúgio, a PF recebe os dados, e envia as solicitações para Brasília, onde eles são julgados. Nesse ínterim, os estrangeiros podem permanecer no país enquanto esperam a decisão”, detalha.
Deportações
Além dos pedidos legais, a PF tem percebido o aumento ‘sensível’ de venezuelanos em situação ilegal em Roraima. Reflexo disto é que só nos últimos 12 meses, mais de 300 venezuelanos foram deportados do estado.
Em uma dessas ações, cerca de 60 venezuelanos foram devolvidos ao país vizinho. Parte deles pedia esmolas nas ruas e semáforos da capital roraimense, o que é incompatível com a entrada de estrangeiro do Brasil na condição de turista.
“Não temos o número exato de venezuelanos que estão de forma ilegal no estado, mas exercemos um contínuo trabalho com dados, inteligência, denúncias de populares e contato com autoridades de outros países para acompanhar esse fluxo migratório”, pontua.
Em julho de 2015, a PF encontrou 16 mulheres venezuelanas trabalhando em casas de prostituição em Boa Vista. À época, a polícia informou que elas tinham vindo por conta própria a Roraima, onde se prostituiam e pagavam 20% do que ganhavam aos donos das casas.
“Quando o estrangeiro está no Brasil, de forma regular e irregular, e comete crimes não é competência da PF, é atribuição das polícias Militar e Civil. Nós cuidamos das medidas administrativas e questões de legalização no país”, explica.
Venezuelanos alegam fugir da crise
A crise econômica enfrentada pela Venezuela é o principal motivo apontado pelos imigrantes ouvidos pelo G1. Eles relatam não terem tido quaisquer dificuldades para atravessar a fronteira que separa os dois países.
Dois jovens que buscaram a PF na última sexta-feira (10) para oficializar o pedido de refúgio alegam que decidiram vir morar em Roraima por conta da difícil situação vivida na Venezuela.
Um deles, de 20 anos, afirma que chegou a Roraima em março deste ano. Antes de vir para o Brasil, trabalhava e estudava Ciência Política na Venezuela. A crise, no entanto, ‘corroeu’ o poder de compra do salário mínimo que recebia no país e, por influência de uma amiga, optou por vir morar em Roraima.
“Trabalhava para ganhar um salário mínimo na Venezuela, Lá um salário equivale a R$ 70, o que hoje em dia só dá para comprar 1kg de carne, 1kg de queijo, 1kg de presunto e 1 Litro de óleo. É muito pouco”, explica. Ele pediu para não ter o nome divulgado.
Desde que veio morar em Roraima, conseguiu o emprego de garçom em um restaurante, onde recebe R$ 800. Ele afirma que envia parte do dinheiro à família que continua morando na Venezuela.
“Dizem que o Brasil está em crise, mas para nós está tudo bem aqui, porque tem comida, tem emprego. Isso para nós é o suficiente. A crise do Brasil não é econômica, nem na saúde, a crise é apenas política”, avalia o jovem.
O outro jovem que também tenta obter refúgio no Brasil afirma que chegou ao estado em janeiro deste ano. Ele morava em Maracaibo e veio para Brasil de ônibus. Ao atravessar a fronteira dos dois países, não enfrentou nenhum tipo de dificuldade. No entanto, para se empregar no Brasil levou mais de três meses.
“Me esforcei bastante para conseguir um emprego, mas consegui e agora estou tentando regularizar minha situação no país, para conseguir trabalhar com a carteira assinada. No futuro, quero arrumar um emprego melhor para voltar a estudar”, explica o jovem de 20 anos.
Apesar de serem maioria, os jovens não são os únicos venezuelanos a deixarem o país de origem para trás.
Diagnosticado com câncer ósseo na perna, um venezuelano de 58 anos, se mudou para Roraima há um ano. Ele afirma que por conta do problema de saúde, teve de deixar a Venezuela para buscar tratamento. “Lá [na Venezuela] não tem remédios, não tem médicos. Aqui no Brasil consegui atendimento de graça pelo SUS [Sistema Único de Saúde]”, conta.
Ele diz que está morando no Terminal do Centro de Boa Vista e sobrevive com ajuda de amigos. “Não tenho como trabalhar, porque estou enfermo então vivo com o que me dão. Apesar de tudo, amo o Brasil, aqui me ajudam muito”, finaliza.
(Com informações do Portal G1 RR)