Psicóloga: “Mulher vítima de violência doméstica não tem que sentir-se culpada”

Ângela Maciel, psicóloga e coordenadora do Centro de Referência Especializado de Atendimento a Mulher
Ângela Maciel, psicóloga e coordenadora do Centro de Referência Especializado de Atendimento a Mulher

De acordo com a Secretaria de Política para Mulheres, uma a cada cinco mulheres é vítima de violência doméstica no País, e aproximadamente 80% dos casos, a vítima tem como algoz o seu próprio parceiro ou ex-parceiros.

Neste mês de agosto, comemora-se dez anos da Lei Maria da Penha, legislação criada para punir os autores da violência no ambiente familiar. Considerada uma das melhores legislações do mundo no combate à violência contra as mulheres, de acordo com a Organização das Nações Unidas.

Porém, ao completar uma década, existem ainda muitos desafios a serem superados, como a não aplicação da lei em alguns casos, a falta de grupos de recuperação para agressores e de atendimento especializado às vítimas, e principalmente, a falta de conscientização de parte da população sobre o que é violência doméstica.

Para realizar está avaliação tão relevante para a sociedade, à equipe de reportagem do Jornal O Impacto conversou com a psicóloga e Coordenadora do Centro de Referência Especializado de Atendimento a Mulher, Ângela Maciel.

De acordo com a psicóloga, não há dúvidas dos avanços em relação ao atendimento a mulher vítima de violência doméstica. Porém, muito ainda tem que ser feito para garantir os direitos que a legislação prevê.

“Houve vários avanços nestes dez anos. Cito, por exemplo, as medidas protetivas de urgência, que hoje são decretadas dentro da delegacia, e em até 48 horas são encaminhadas para o Juiz. A questão dos atendimentos, como os que são realizados no Centro de Referência Maria do Pará, inclusive com o acompanhamento junto ao agressor, porque muitas vezes, isso depende de apenas um diálogo entre os familiares. Então, implantamos esse trabalho, a pedido das usuárias do Centro”, afirma Ângela Maciel.

ATENDIMENTO DIVERSIFICADO: Quando uma mulher vítima de violência doméstica busca atendimento no Centro de Referência, ela dá início a procedimentos, que vão desde atendimento psicológico, até atendimento jurídicos. “A vítima que procura atendimento aqui no Centro, recebe orientação jurídica, de como ela deve proceder. No momento que ela chega aqui, e tem algumas dúvidas em relação ao jurídico, nós a orientamos para que ela possa fazer tudo dentro da lei. E assim consiga realmente retirar o agressor da casa dela, por exemplo, que são justamente as medidas protetivas. Dependendo do caso, ela será encaminhada para o Pro Paz Integrado, onde ele vai fazer o Boletim de Ocorrência”, esclarece Ângela.

Para Coordenadora do Centro de Referência, muito ainda precisa ser feito para mudar a realidade que maltrata parte da sociedade. E cita por exemplo, a necessidade de funcionamento nos finais de semanas, da Delegacia da Mulher.

“Sem sombra de dúvidas, o que precisa melhorar é a implantação do atendimento 24 horas e também nos finais de semana na Delegacia de Atendimento Especializado a Mulher. É de suma importância conseguir esse serviço, uma vez que a maioria das agressões acontece no final de semana, justamente quando a questão do álcool, as pessoas acabam ingerindo bebida alcoólica, e consequentemente acabam cometendo violência. Então, a mulher não tem para onde ir. Ela até pode ir para a Seccional, porém, muitas das vezes os procedimentos são encaminhados apenas na segunda-feira. Desta forma, a mulher acaba não sendo assistida no momento que ela deveria ter assistência total. Inclusive, já estamos fazendo um baixo assinado, que está percorrendo na cidade inteira, para ver se a gente consegue um número de assinaturas que possam de fato trazer a Delegacia 24 horas para Santarém”, acrescenta.

Ângela Maciel faz o convite para todas as mulheres que de alguma forma estão passando por violência doméstica, que procurem a Unidade do Centro de Referência, mesmo que seja apenas para conhecer e se informar dos serviços que são ofertados. “Nosso objetivo é fortalecer a mulher, resgatar a alta-estima dela, resgatar a identidade, onde muitas das vezes, ela acaba perdendo, por vivenciar tanta violência. Então, nós estamos aqui para acolher e restaurar esta mulher. Para isso, nós trabalhamos com grupos terapêuticos, trabalhamos com atendimento psicológico individual, com oficinas, cursos que são ofertados para ela sair do círculo da violência. Porque muitas das vezes, ela fica dentro desse círculo porque depende afetivamente e financeiramente do agressor”, conclui.

EVENTO DE COMEMORAÇÃO: Na próxima segunda-feira (8), no Fórum de Santarém, a partir das 9 horas, acontecerá evento para comemorar os dez anos de existência da Lei Maria da Penha. Será uma oportunidade para conhecer mais um pouco do trabalho desenvolvido pelo Centro de Referência Maria do Pará, bem como de toda a Rede de Atendimento à Mulher em Situação de Violência Doméstica. Participe!

MARIA DO PARÁ: A unidade em Santarém completou cinco anos de funcionamento. Neste período, realizou um total de 1.358 atendimentos, em sua maioria, casos de violência psicológica e moral. Os atendimentos são realizados de segunda à sexta-feira, no prédio localizado por trás da Prefeitura Municipal de Santarém, na Rua Magnólia, S/N, no bairro Aeroporto Velho.

Por: Edmundo Baía Junior

Fonte: RG 15/O Impacto

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