Moradores consomem água contaminada
Problemas gástricos como náuseas, vômitos e diarreia levaram dezenas de moradores do Residencial Salvação, localizado na rodovia Fernando Guilhon, na área suburbana de Santarém, a desconfiar que estão consumindo água contaminada. A localização do poço de captação de água, construído próximo ao antigo Lixão de Cucurunã gera desconfiança nos moradores, de que o chorume (líquido venenoso) tenha contaminado o lençol freático e, que a água servida pela empresa “Em Casa” às famílias, esteja transmitindo doença.
O forte odor e a coloração amarelada da água aumenta a suspeita dos moradores. “Há três semanas morreu uma criança com doença intestinal e todos os moradores aqui de perto desconfiam que o problema tenha sido causado pela água. No exame médico atestou uma bactéria que no Hospital Municipal de Santarém (PSM) não souberam especificar. A gente fica com medo porque tem crianças em casa. Quando viemos morar aqui passamos a beber essa água e começamos a sofrer com dor de barriga e vômito. Passamos a comprar galão de água mineral de 20 litros pra gente beber. Aí melhorou tudo”, contou a moradora, Edilane Moreira.
Ela denuncia que encontrou muitos problemas na distribuição de água feita pela empresa “Em Casa” quando passou a morar no Residencial Salvação. “Quando morávamos em outro bairro, e como a gente era acostumada a beber água da Cosanpa, a gente não tinha tanta dificuldade. Agora quando a gente passou pra cá, verificamos que tinham muitas coisas ruins dentro das caixas d’água das casas. Era bota velha, plásticos, baratas e grilos”, revela Edilane.
DIFICULDADE: Sobre a compra de água mineral para suprir a necessidade do consumo, Edilane diz que nem todas as famílias têm condições de comprar um galão. “Nem todas as pessoas tem condições de comprar água mineral pra beber. A água servida pelo microssistema às vezes está muito ácida e com cheiro de ferro velho, amarelada e sai areia das torneiras”, afirma.
Devido à péssima qualidade da água distribuída pela empresa “Em Casa”, Edilane reforça que muitas famílias reclamam. “Muita gente não tem condições de comprar água mineral. Virou rotina aqui as mães irem depressa as unidades de saúde, porque os filhos estão sendo acometidos por vômitos e diarreia. Isso gera muita reclamação”, comenta.
Segundo Edilane, um galão de água mineral de 20 litros custa R$ 20,00. “Mas, apenas pra abastecer o vasilhame está R$ 5,00. Pra quem tem muitas crianças em casa, um galão dá apenas para um dia, devido a forte temperatura que está fazendo em Santarém, e isso faz a gente beber muita água. Agora pra tomar banho, lavar roupa e as louças a gente usa água do microssistema”, explica a dona de casa.
Além de problemas intestinais, Edilane ressalta que muitas pessoas reclamam que estão sendo acometidas por micose, quando tomam banho com a água do microssistema. “Eu tive que levar o meu filho na UPA 24 Horas, porque ele foi contaminado por micose. Agora estou dando banho nele com água mineral. Outras pessoas também estão com doença de pele”, ressalva.
NOVA CIDADE: O Residencial Salvação é praticamente uma nova cidade que surgiu dentro de Santarém, no oeste do Pará. O empreendimento construído pelo programa do Governo Federal “Minha Casa, Minha Vida” possui 3.081 unidades e abriga em torno de 15 mil pessoas. O residencial é um dos maiores construídos no Brasil. Foi entregue à população de Santarém, no dia 5 de maio deste ano, pela então presidenta Dilma Rousseff (PT).
Procurado por nossa reportagem nenhum funcionário da empresa “Em Casa” quis gravar entrevista sobre o sistema de distribuição de água no Residencial Salvação. Nossa reportagem colheu amostras da água em uma residência e levou para análise no Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas (ICTA) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). O resultado da análise na água deve sair nos próximos dias.
Por: Carlos Cruz