Laboratório de Ecossistemas Amazônicos começa a produzir clones vegetais
Por meio da técnica de micropropagação, o Laboratório de Estudos de Ecossistemas Amazônicos (LEEA), da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), iniciou a produção dos primeiros clones vegetais de plantas de importância para a região Oeste do Pará. É a primeira experiência dessa natureza na região do Baixo Amazonas.
As pesquisas lideradas pela Profa. Dra. Eliandra de Freitas Sia, do Instituto de Biodiversidade e Florestas (Ibef), com o auxílio das bolsistas de iniciação científica Tanara Pletsch Dalla Costa e Fernanda Cristina dos Santos, ambas do 6o semestre do curso de biotecnologia, estão utilizando, inicialmente, plantas de abacaxi e banana, cedidas por produtores da agricultura familiar da região.
Para a professora Eliandra Sia, responsável pelo projeto “Multiplicação de material de Propagação de Plantas de importância agronômica para a Amazônia”, esses resultados podem representar uma importante contribuição para a agricultura do Oeste do Pará.
“A importância de trazer essa técnica consiste em disponibilizar material de propagação de plantas acessíveis para os produtores da região, que, atualmente, necessitam comprar mudas fora do estado e com preço mais elevado. Havendo opção de disponibilizar material de propagação a partir da produção in vitro, em nossos laboratórios, estaremos dando uma importante contribuição para a agricultura local”.
A professora ressalta ainda as vantagens desse tipo de técnica. Entre elas está a possibilidade de produzir um elevado número de plantas em tempo e espaço reduzidos. Soma a isso disponibilizar aos produtores mudas, material de propagação com características superiores e fitossanitárias. Entre as desvantagens da técnica estão a necessidade de investimentos e infraestrutura laboratorial e formação de mão de obra especializada.
O plano piloto do projeto prevê a entrega de três mil mudas a produtores locais no espaço de um ano e meio. Os pesquisadores irão acompanhar o crescimento dessas plantas “até o final” para complementar os dados da pesquisa. “Os agricultores parceiros do projeto receberam a notícia com otimismo, pois eles já esperavam há muito tempo que a micropropagação chegasse até a região de forma acessível”, informou a professora Eliandra.
Aluna do 6o semestre do Bacharelado Interdisciplinar em Biotecnologia do Ibef, Tanara Pletsch Dalla Costa demonstra os conhecimentos adquiridos nas aulas teóricas e práticas ao explicar a técnica da micropropagação, vivenciada por ela no LEEA. “É uma técnica de propagação vegetativa utilizada para multiplicar plantas em larga escala gerando assim uma grande quantidade de mudas que são clones reproduzidos em vidro, livre de doenças e contaminantes”. São produzidas em laboratório com condições totalmente assépticas, com controle de temperatura, luminosidade e nutrientes. Ela é iniciada a partir da seleção de uma muda (matriz) de alto padrão – essa seleção é feita em conjunto com os produtores locais, visando assim produzir mudas que sejam adaptadas à região.
Para se ter uma ideia de como é o processo de propagação, tomemos como exemplo o abacaxi. Cada coroa possui de 10 a 20 gemas viáveis a depender da variedade. De cada gema podem ser multiplicadas em laboratório até 300 mudas, o que resultaria em uma média de 4.500 mudas clonadas a partir da coroa do abacaxi. “Se consideramos uma planta de abacaxi completa, incluindo suas partes como filhotes e rebentões, podemos conseguir em média 10 a 15 mil clones de apenas um exemplar da fruta. Outros sistemas, como o cultivo em biorreatores, promovem taxas de propagação ainda maiores”, esclarece a professora.
Fernanda Cristina dos Santos, do bacharelado de Biotecnologia, é ingressante no projeto de iniciação científica e reconhece a importância da sua participação na pesquisa para a sua formação profissional. “Para mim, que nunca antes havia tido contato com as rotinas das práticas laboratoriais, a vivência com o trabalho em laboratório está sendo uma experiência muito gratificante. Sinto que estou realmente sendo preparada para o mercado de trabalho e também para a área de pesquisa, no caso de uma pós-graduação, por exemplo”.
A agricultura e a cultura de tecidos – A cultura de tecidos – na qual está inserida a técnica de micropropagação – tem múltiplas finalidades dentro da agricultura e resulta na recuperação de plantas livres de vírus e outros patógenos, muito comuns às culturas de hortifrutigranjeiros.
Essa técnica é relativamente antiga. No Brasil, já é uma realidade, não apenas dentro de laboratórios acadêmicos de pesquisa e ensino, em instituições públicas, mas também em empresas privadas bem articuladas comercialmente.
“Muito ainda precisa ser trabalhado para que tenhamos material disponível. Mas o ponto principal, segundo a professora, é a capacitação das pessoas com o intuito de trazer avanços tecnológicos para a região. Buscar novos conceitos, aumentar a capacidade e habilidade de execução e, em conjunto, ter atitude para implantar novos projetos e formar parcerias, fazendo assim com que o conhecimento de fato se transforme em resultado local”, finaliza a pesquisadora.
A pesquisa é uma das ações desenvolvidas no âmbito do Núcleo de Hortifruticultura do Ibef, mantido com recursos do Ministério da Integração Nacional e coordenado pela Profa. Dra. Patrícia Chaves, também do Ibef. “Esse projeto tem como um de seus principais objetivos trazer para o território do Baixo Amazonas agrotecnologias que os agricultores familiares ainda não experimentaram, como por exemplo a aquisição de mudas a baixo custo”. Ela acrescenta ainda: “Esse projeto, além de trabalhar a questão da extensão, por meio do curso de Biotecnologia, traz a pesquisa como sustentação”.
Fonte: RG 15/O Impacto e Lenne Santos/Ufopa