Mulher que foi escrava sexual por 13 anos e teve filhos vendidos lança livro
Britânica conta que foi estuprada quase todas as noites; Seu agressor continua impune
Mulher foi mantida em cativeiro por sequestrador que a atraiu para sua casa quando a jovem tinha 15 anos, relata ela em livro.
Uma britânica afirma ter sido sequestrada quando tinha 15 anos de idade e mantida presa em cativeiro por longos 13 anos. Durante todo esse tempo, ela alega ter sido tratada como escrava sexual por seu sequestrador, que vendeu os quatro filhos que ela teve. A história é narrada no livro “Secret slave” (Escrava secreta, em português), que ela lança nesta quinta-feira, no Reino Unido.
Anna Ruston (nome fictício) contou que, durante a adolescência — período em que se sentia muito rejeitada pelos pais —, começou uma amizade com um motorista de táxi asiático chamado Malik, que, em um dia de 1987, a convidou para ir à sua casa, conhecer sua família e “tomar um chá”, relatou ela ao “Daily Mirror”. O homem morava na mesma casa que seus irmãos, suas esposas, seus filhos e sua mãe. Depois do chá, insistiu para que ela passasse a noite ali.
Naquela noite, Malik invadiu o quarto onde ela estava instalada e a estuprou, enquanto a chamava de “bichinho branco sujo” e dizia que iria “se fazer com ela”. Essa violência, conta a moça, se repetiria pelos próximos 13 anos, e Malik permitiria que seus irmãos e outros homens também abusassem dela.
— Eu ainda sinto os cheiros: a lata que eu usava como banheiro, o odor de alho que ele exalava. Cheguei ao pontoem que eu não sabia mais o que era a vida — relata ela.
Mas seu suposto agressor permanece impune. Anna diz que nunca se sentiu forte o suficiente para levar provas à polícia que poderiam ajudar a encontrá-lo e prendê-lo. O livro escrito agora por ela é parte de uma terapia para que ela possa lidar melhor com suas experiências.
A moça descreveu como ela se agarrou à sanidade conversando em pensamento com sua falecida avó e olhando uma pequena foto de seu primeiro namorado, Jamie, que ela escondeu debaixo de uma tábua no chão de seu cativeiro.
Ao longo do período como escrava sexualm ela ficou grávida e teve quatro bebês, mas cada um deles foi vendido por Malik logo após o nascimento, ela alegou.
— Eu mal abraçava qualquer um de meus bebês, eu não tive a chance de ser uma mãe para eles.
Anna disse que tentou escapar, mas ficou aterrorizada depois que foi duramente espancada por se atrever a fazer uma tentativa, e repetidamente tentou se matar. Quase conseguiu, lembra ela, se não fosse pela ajuda de um profissional de saúde que visitou a casa e a ajudou a escapar quando a família estava distraída.
Finalmente livre, ela alegou que foi novamente rejeitada por sua mãe — que nunca tentou encontrá-la enquanto ela estava desaparecida —, mas encontrou felicidade com Jamie, seu primeiro namorado que tinha participado do Exército enquanto ela estava presa. Eles, hoje, têm quatro filhos juntos.
Durante anos, ela disse a Jamie que tinha se mudado depois de estar no hospital com anorexia, e apenas lhe contou a verdade no ano passado.
— Ele foi embora um dia e pensei que o tinha perdido, que ele me julgaria, mas ele voltou e me abraçou — recordou-se ela ao “Dauly Mirror”.
As informações de Anna não têm como, atualmente, serem comprovadaas. No entanto, em casos de escravidão moderna, a polícia nem sempre precisa da evidência de uma vítima para agir, segundo Kevin Hyland, que é comissário independente contra a escravidão.
— Nem sempre é necessário que uma vítima dê provas, às vezes há maneiras de comprovar as provas sem uma vítima — disse ele ao programa “Today” da BBC Radio 4. — É por isso que eu tenho dito continuamente, inclusive no meu relatório anual ao Parlamento este ano, que este tipo de crime é grave e é organizado, e o policiamento precisa usar as mesmas técnicas, o mesmo nível de recursos, como faz para outros crimes organizados.
Fonte: O Globo